Governo da Holanda intervém na fabricante de chips Nexperia por preocupações sobre transferência de tecnologia para a China
Medida busca proteger infraestrutura estratégica holandesa e evitar que avanços tecnológicos sejam repassados à controladora chinesa Wingtech
247 – O governo da Holanda anunciou neste domingo (12) uma intervenção direta na fabricante de chips Nexperia, uma das maiores produtoras globais de semicondutores básicos utilizados nas indústrias automotiva e de eletrônicos de consumo. A decisão, publicada pelo Valor Econômico, ocorre em meio a crescentes preocupações sobre a possível transferência de tecnologia crítica para a controladora chinesa, a Wingtech Technology.
De acordo com o Ministério da Economia da Holanda, a medida foi tomada após a identificação de “deficiências administrativas” na empresa, o que teria levantado riscos potenciais à segurança e à soberania tecnológica do país. O governo agora terá poder para reverter ou bloquear decisões empresariais consideradas prejudiciais ao interesse nacional, embora a produção regular da Nexperia deva continuar sem interrupções.
Em comunicado, o ministério classificou a intervenção como “altamente excepcional”, ressaltando que foi realizada com base em uma lei que permite ao Estado garantir a disponibilidade de bens críticos em situações de emergência. Essa legislação, de caráter emergencial, tem sido utilizada de forma cada vez mais ampla na Europa para proteger setores estratégicos diante das disputas geopolíticas envolvendo os Estados Unidos e a China no campo dos semicondutores.
A Nexperia, por sua vez, declarou que cumpre “todas as leis e regulamentos vigentes, controles de exportação e regimes de sanções”, negando qualquer irregularidade. A empresa, sediada em Nijmegen, é uma das líderes mundiais na fabricação de componentes eletrônicos simples, como diodos e transistores, essenciais para uma ampla gama de produtos tecnológicos.
A intervenção ocorre em um contexto de tensões crescentes entre países ocidentais e Pequim quanto ao controle de tecnologias de ponta. Desde 2023, a União Europeia vem fortalecendo seus mecanismos de vigilância sobre investimentos estrangeiros em setores considerados sensíveis, como o de semicondutores.
Embora o governo holandês tenha enfatizado que a decisão pode ser contestada judicialmente, a medida é vista como um marco na política industrial europeia, sinalizando um endurecimento da postura frente à influência chinesa sobre empresas estratégicas do continente.
O episódio também insere a Holanda em uma disputa global que envolve não apenas interesses comerciais, mas questões de segurança e soberania tecnológica — em especial após os Estados Unidos pressionarem aliados a restringirem exportações de equipamentos avançados para a China.


