Diplomacia de Trump enfrenta fragilidade após colapso da trégua comercial com a China
Nova escalada nas tarifas e controles de exportação reacende incertezas no comércio internacional, enquanto a reunião crucial com Xi Jinping se aproxima
247 - A diplomacia de negociação de Donald Trump, sempre marcada pela busca por acordos bilaterais, enfrenta agora uma fase de crescente fragilidade, com a trégua comercial com a China aparentemente chegando ao fim. A reviravolta abrupta entre as duas maiores economias do mundo acontece às vésperas de um encontro crucial entre o presidente dos Estados Unidos e o presidente chinês, Xi Jinping, que estava marcado para ocorrer na Coreia do Sul, onde ambos planejavam firmar um acordo comercial abrangente.
De acordo com a agência Bloomberg, o Ministério do Comércio da China anunciou, na última quarta-feira, novos controles de exportação sobre terras raras e outros materiais essenciais para a defesa e a tecnologia dos EUA. A medida gerou apreensão entre os grupos afetados diretamente, embora a reação tenha sido mais contida no mercado financeiro mais amplo. Em resposta, Trump emitiu uma ameaça nas redes sociais, afirmando que as tarifas sobre os produtos chineses sofreriam um "aumento maciço", e, horas depois, anunciou a intenção de impor uma tarifa adicional de 100% a partir de 1º de novembro.
Essa troca de farpas comerciais vem em um momento decisivo, após meses de negociações que haviam acalmado os mercados. No entanto, conforme observa Jon Hillman, especialista em geoeconomia do Council on Foreign Relations, a situação de negociação pode se complicar ainda mais. “Os chineses perceberam a força que têm ao utilizarem o controle sobre as exportações e isso não é surpresa. Eles irão para essas conversas tentando empurrar as negociações a seu favor”, afirmou Hillman.
O cenário reflete um dilema enfrentado por Trump em suas negociações bilaterais, especialmente com potências como a China. Mesmo quando acordos são feitos, como o que aconteceu em maio com a trégua de 90 dias, esses entendimentos rapidamente entram em colapso devido à instabilidade nas promessas feitas. Embora tenha sido negociada uma pausa nas tarifas e nos controles de exportação, o presidente americano logo viu seus aliados agrícolas se queixando da diminuição das importações de soja dos EUA pela China, o que foi interpretado como uma tática de negociação.
A relação com a China está longe de ser simples. Enquanto os Estados Unidos podem negociar com países menores, as negociações com gigantes como a China exigem uma resposta coletiva mais eficaz. A especialista Wendy Cutler, ex-negociadora do governo dos EUA, destaca que, com a China mais assertiva e autossuficiente, os tempos de acordos fáceis já passaram. "O cenário de hoje não deixa dúvidas de que os dias do acordo da fase 1 ficaram para trás", afirmou Cutler em post publicado no LinkedIn.
As repercussões dessa nova crise comercial não tardaram a afetar os mercados. Na sexta-feira, as ações dos EUA sofreram uma queda significativa, refletindo o impacto direto da incerteza gerada pela disputa. A Nvidia, gigante do setor de tecnologia, viu suas ações despencarem quase 5% devido ao entrave nas negociações de exportação de semicondutores e chips de IA, itens essenciais tanto para os EUA quanto para a China. A preocupação com o futuro da economia global se intensificou com cada nova movimentação, fazendo com que analistas como Dan White, da Blue Creek Capital, alertassem sobre o risco crescente e a falta de clareza nas negociações.
A dificuldade em lidar com a China, que agora se posiciona de maneira mais estratégica, coloca em xeque a abordagem unilateral de Trump, que depende da eficácia de acordos diretos. A perspectiva de uma nova guerra comercial entre as duas potências está mais forte do que nunca, o que pode impactar diretamente o futuro das negociações que o presidente ainda pretende manter com Xi Jinping. Especialistas temem que a China tenha uma vantagem cada vez maior na balança de poder das negociações.
A complexidade dessa crise é acentuada pelo contexto estratégico que envolve não apenas tarifas e controles de exportação, mas também questões de segurança nacional e o fortalecimento da posição econômica da China, que continua a ser vista por muitos analistas como um adversário cada vez mais preparado e autossuficiente.


