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França enfrenta novo risco de colapso político e pressão nos mercados

Governo de François Bayrou convoca voto de confiança em meio a crise fiscal e oposição unida contra Emmanuel Macron

François Bayrou conversa com jornalistas após uma reunião com o presidente francês no Palácio do Eliseu, em Paris, França, em 21 de junho de 2022 (Foto: REUTERS/Sarah Meyssonnier)

247 – O primeiro-ministro francês, François Bayrou, anunciou a convocação de um voto de confiança que pode derrubar o governo já em setembro, aumentando a instabilidade política e provocando forte reação nos mercados. A informação foi publicada pela agência Bloomberg.

A moção está marcada para 8 de setembro e já enfrenta resistência dos principais partidos de oposição. A extrema-direita do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, a esquerda da França Insubmissa e os Verdes confirmaram que votarão contra Bayrou, enquanto os socialistas também indicaram que não darão apoio ao governo. Se a maioria do Parlamento rejeitar a moção, Bayrou será obrigado a renunciar. O episódio expõe ainda mais a fragilidade do presidente Emmanuel Macron, que perdeu a maioria parlamentar em 2024.

Fragilidade do governo e riscos de eleição antecipada

O risco de queda é elevado, principalmente diante do histórico recente: o ex-primeiro-ministro Michel Barnier durou apenas 90 dias no cargo. Marine Le Pen já pressiona por novas eleições legislativas, fortalecida pela condição de maior partido da Assembleia Nacional desde 2024.

Apesar disso, Bayrou defendeu a iniciativa como necessária para enfrentar o impasse político. “Sim, é um risco, mas o risco supremo é não fazer nada. Não há saída desta situação se não formos corajosos”, declarou em coletiva em Paris.

Pressão dos mercados e crise fiscal

O anúncio desencadeou turbulência financeira. Os títulos de 10 anos da França subiram nove pontos-base, para 3,51%, levando o país a registrar uma das maiores taxas de juros da zona do euro, acima de Grécia e Portugal e próximo da Itália. O prêmio de risco em relação à Alemanha chegou ao maior nível desde abril.

Segundo analistas da Bloomberg Economics, “os partidos de oposição parecem inclinados a rejeitar a moção. A menos que mudem de posição, o governo vai cair”. A avaliação reflete o pessimismo do mercado quanto à sobrevivência do gabinete Bayrou.

A instabilidade também atingiu a Bolsa de Paris. Um índice do Barclays, com empresas mais expostas aos riscos fiscais franceses, caiu 2,9% no pregão de segunda-feira. Para Vincent Juvyns, estrategista-chefe da ING em Bruxelas, “é uma Europa de duas velocidades: países como a Alemanha ainda podem gastar para crescer, enquanto outros não têm alternativa a não ser consolidar suas contas públicas”.

Ajustes duros e impopulares

Bayrou tenta consolidar apoio para um pacote de austeridade que prevê € 44 bilhões em cortes de gastos e aumento de impostos. Entre as medidas mais polêmicas está a proposta de abolir dois feriados nacionais, o que gerou reação imediata da oposição.

Mesmo com a retomada antecipada das sessões parlamentares — aprovada por Macron —, o primeiro-ministro não conseguiu elevar sua popularidade, que atingiu níveis historicamente baixos para a chefia de governo sob o atual presidente.

Crise interna e desgaste internacional

O impasse doméstico ocorre enquanto Macron enfrenta dificuldades no cenário internacional. Em julho, o presidente francês viajou à Casa Branca com o chanceler alemão Friedrich Merz e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer para pedir ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, maior apoio à Ucrânia. Além disso, Paris e Bruxelas estão no meio de uma disputa comercial dura com Washington.

A continuidade do governo é agora uma incógnita. Caso Bayrou seja derrotado no voto de confiança, Macron poderá ser pressionado a convocar novas eleições legislativas. A eleição presidencial está prevista para abril ou maio de 2027, mas, até lá, a França pode enfrentar sucessivas crises de governabilidade.

Alertas do Ministério da Economia

O ministro das Finanças, Eric Lombard, advertiu que, se o governo cair, os custos de financiamento da França ultrapassarão os da Itália em apenas duas semanas. “Seremos realmente os últimos entre os 27 da Europa”, afirmou em entrevista à rádio France Inter.

Para tentar reverter a impopularidade, Bayrou lançou no YouTube o canal “FB Direct”, dedicado a explicar suas escolhas econômicas. Ele também abriu mão das férias de verão para se concentrar na elaboração do orçamento de 2026. Mas os esforços não surtiram efeito, e a oposição já articula protestos de rua no dia 10 de setembro, com o lema “bloquear tudo”.

Consciente da gravidade da situação, o premiê voltou a reforçar a necessidade de medidas firmes: “Se o caminho que escolhermos for fingir que o problema não existe, não escaparemos. Não escaparemos como Estado e como sociedade, porque nossa liberdade e nossa soberania estão em jogo”, disse Bayrou.

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