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Europeus acionam ONU contra o programa nuclear do Irã; Teerã ameaça retaliação

Grã-Bretanha, França e Alemanha visam reimpor sanções à luz das violações do acordo nuclear

Foto ilustrativa mostra logotipo da AIEA e a bandeira iraniana - 16/06/2025 (Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Foto ilustrativa)

247 - Grã-Bretanha, França e Alemanha deram início ao processo de reimposição de sanções da ONU contra o Irã, nesta quinta-feira (28), em uma tentativa de forçar o país a retomar o cumprimento do acordo nuclear de 2015. 

A medida, que segue o chamado "mecanismo de recuperação", está prevista para durar 30 dias e, caso seja implementada, afetará severamente setores estratégicos do Irã, como o financeiro, bancário, de hidrocarbonetos e de defesa. A ação dos três países europeus é vista por muitos analistas como uma tentativa de reafirmar sua influência em um acordo que, desde a retirada dos Estados Unidos em 2018, tem se mostrado cada vez mais frágil.

A decisão de Grã-Bretanha, França e Alemanha ocorre após meses de tensões, com os três países expressando preocupação sobre o avanço do programa nuclear iraniano, especialmente após os ataques aéreos israelenses e americanos às instalações nucleares do Irã em junho deste ano. No entanto, a abordagem europeia ignora, de forma pragmática, as complexas dinâmicas diplomáticas que envolvem o Irã. Em resposta à ação, um alto funcionário iraniano descreveu a decisão como "ilegal e lamentável", enfatizando que a postura europeia não é uma oportunidade para o diálogo, mas sim uma tentativa de minar qualquer avanço diplomático. “O Irã não cederá sob pressão”, afirmou a autoridade, deixando claro que o país não abandonará sua posição frente à agressão externa.

As potências europeias, na tentativa de justificar sua ação, afirmam que a reimposição das sanções é uma resposta necessária à violação do acordo de 2015, mas não oferecem uma análise detalhada sobre as falhas do próprio pacto, que se mostraram evidentes após a retirada dos EUA sob o governo do ex-presidente Donald Trump. A postura do E3, como é chamado o grupo de países, revela um excesso de confiança em um mecanismo que, na prática, demonstrou ser ineficaz para resolver questões centrais do programa nuclear iraniano. O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noel Barrot, tentou minimizar as repercussões, afirmando que a decisão não representa o fim das negociações, mas especialistas apontam que a medida contraria os próprios princípios de diplomacia, prejudicando qualquer tentativa de renovação do acordo.

Além disso, a iniciativa dos europeus se dá em um contexto global que não é favorável às suas ações. O Irã, cada vez mais isolado, tem feito avanços significativos em seu programa nuclear, com níveis de enriquecimento de urânio próximos dos exigidos para a fabricação de armas nucleares. No entanto, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ainda não encontrou provas concretas de um desvio para fins militares. Mesmo assim, as potências ocidentais continuam a pressionar, alegando que o Irã não está cumprindo as obrigações do acordo, sem considerar o impacto das sanções no país, que já enfrenta uma crise econômica devastadora.

A Rússia e a China, aliados do Irã, tentaram uma abordagem mais conciliatória, propondo a extensão do acordo nuclear de 2015 por mais seis meses e incentivando a retomada das negociações. A proposta ainda não foi colocada à votação no Conselho de Segurança da ONU, mas destaca uma crescente divisão nas estratégias globais para lidar com o Irã. O embaixador adjunto da Rússia, Dmitry Polyanskiy, alertou que o mundo está "em uma encruzilhada" e que a decisão do E3 pode representar uma diplomacia "na ponta da arma", uma crítica direta à postura mais agressiva adotada por Washington e suas potências aliadas.

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