Irã reforça abertura ao diálogo e alerta União Europeia sobre consequências de acionar o mecanismo de sanções
Teerã reafirma disposição diplomática, mas avisa que eventual ativação do “snapback” pelo bloco europeu pode gerar sérias repercussões
247 - O canal HispanTV informou que o Irã reiterou sua disposição para negociações diplomáticas, mas advertiu a União Europeia (UE) sobre os riscos de reativar o mecanismo de retorno automático de sanções, conhecido como snapback. A declaração foi feita pelo ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, durante uma conversa telefônica com o Alto Representante da UE para Relações Exteriores e com seus homólogos do Reino Unido, França e Alemanha, signatários do Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA), acordo nuclear firmado em 2015.
Segundo Araqchi, Teerã permanece aberta a qualquer solução que respeite seus direitos soberanos, mas considera ilegítima qualquer tentativa europeia de acionar o mecanismo. “O povo iraniano sabe que a República Islâmica está agindo firmemente em autodefesa, mas nunca abandonou os canais diplomáticos e está pronta para qualquer solução que garanta seus direitos e interesses”, destacou o diplomata.
Pressão sobre o acordo nuclear e impasse diplomático
O chamado E3 — formado por Reino Unido, França e Alemanha — ameaça recorrer ao snapback, que restabeleceria automaticamente as sanções da ONU contra o Irã, incluindo embargo de armas e restrições financeiras. A medida seria possível caso fosse constatada uma violação “significativa” dos compromissos nucleares por parte de Teerã.
Araqchi rebateu as ameaças, alegando que os países europeus não têm legitimidade legal ou moral para acionar o mecanismo, já que não cumpriram suas próprias obrigações após a retirada unilateral dos Estados Unidos do pacto em 2018. “Qualquer tentativa de reativar as sanções terá consequências”, alertou o negociador iraniano.
Resolução 2231 e o futuro das negociações
Outro ponto de tensão é a Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU, que dá sustentação jurídica ao JCPOA e expira em outubro. Enquanto o E3 defende a prorrogação da medida, Teerã avalia, em consultas com aliados, os impactos de uma eventual extensão. Apesar da pressão, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tem confirmado repetidamente que o Irã cumpre suas obrigações nucleares.
Ficou acordado que as negociações entre o Irã e a troika europeia terão continuidade na próxima terça-feira, em nível de vice-ministros. O último encontro nesse formato ocorreu em julho, na cidade de Istambul.
Impasse atual
Caso o snapback seja ativado, seriam impostas seis antigas resoluções do Conselho de Segurança da ONU, aprovadas entre 2006 e 2010, restaurando sanções que isolaram economicamente o Irã no passado. Para Teerã, esse caminho aprofundaria o desgaste diplomático e prejudicaria as chances de manter vivo o acordo nuclear.
O impasse evidencia o frágil equilíbrio nas relações internacionais em torno do programa nuclear iraniano, em um momento em que a cooperação multilateral enfrenta crescentes desafios.