EUA mergulham no niilismo imperial e só oferecem guerras eternas ao mundo, diz Pepe Escobar
Jornalista afirma que o império anglo-americano vive derrota estratégica frente à Rússia e China e reage com caos, agressividade e vazio existencial
247 – Em vídeo publicado no seu Pepe Café, o jornalista e correspondente internacional Pepe Escobar analisa a atual conjuntura geopolítica global e classifica a política externa dos Estados Unidos e seus aliados como um “espetáculo abjeto” e parte de um “niilismo imperial” sem qualquer horizonte construtivo.
Segundo Escobar, a estratégia do “império” — que ele define como a aliança entre Estados Unidos, Reino Unido, OTAN e seus “vassalos europeus” — está em colapso diante da derrota na guerra por procuração na Ucrânia e da incapacidade de conter o avanço tecnológico e econômico da China. “A derrota estratégica do império e dos vassalos é um fato consumado”, afirmou.
Derrota no campo militar e avanço do Sul Global
Para Pepe Escobar, a Rússia já venceu militarmente no confronto contra o bloco ocidental. “Os russos fincaram o seu pé. A vitória já é russa. É uma questão de tempo e de modalidade”, disse, ao destacar que todas as armas enviadas pelo Ocidente “não funcionaram” contra Moscou.
Ao mesmo tempo, países do Sul Global — especialmente os BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai — recusaram-se a isolar a Rússia e seguem cooperando econômica e diplomaticamente com Moscou. A consequência, diz Escobar, é que a Rússia se tornou “o escudo militar do Sul Global”.
China impõe derrota tecnológica aos EUA
Além do fracasso militar, Escobar aponta uma segunda derrota estratégica do Ocidente: a tecnológica, protagonizada pela China. Ele destaca a nova legislação chinesa sobre o controle das exportações de terras raras — minerais essenciais para a indústria militar e eletrônica. Para ele, essa medida foi “uma decapitação tecnológica do complexo industrial militar americano”.
“Quem tem um QI acima da temperatura ambiente em Washington percebe que isso não vai ter retorno. Montar uma nova cadeia de suprimentos levaria no mínimo dez anos”, argumenta.
Trump, hegemonia do dólar e caos anunciado
Escobar afirma que o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seus assessores defendem um novo “Bretton Woods” para restaurar a hegemonia do dólar, o que considera inviável diante da expansão do comércio em moedas nacionais entre países dos BRICS. Para ele, Trump reage com “gritaria, ameaças, tarifas e, se for o caso, guerra”.
Ao comentar as falas de Trump sobre os BRICS, Escobar ironiza: “Qualquer besteira que ele fala é amplificada pelo planeta inteiro. A única coisa que ele faz é monopolizar o ciclo de notícias 24/7”.
Europa como colônia e colapso interno do Ocidente
Pepe Escobar dedica parte de sua análise à Europa, que considera “a principal colônia a ser recolonizada” pelos Estados Unidos. Segundo ele, as elites europeias estão envolvidas em uma “loucura suicida” que destrói suas próprias economias e sociedades, citando o caso da Alemanha e o descontentamento popular generalizado na França.
Ele também menciona o aprofundamento do caos político nos EUA, marcado pela aliança entre o complexo industrial-militar, o sistema financeiro, o petróleo do Texas e as big techs.
Niilismo, caos e ausência de projeto civilizatório
O jornalista define a fase atual do imperialismo ocidental como um mergulho no “vazio metafísico”. Para ele, trata-se de um império sem qualquer proposta positiva para o mundo, sustentado apenas por “guerras eternas”, “tarifas” e “ameaças”.
“Eles não têm absolutamente nada positivo para propor ao Sul Global, a não ser guerras eternas”, diz. Escobar descreve esse fenômeno como “um vórtex de caos” e cita Shakespeare: “um conto narrado por um idiota, cheio de som e fúria, que não significa nada”.
Sul Global na encruzilhada
Para Escobar, o planeta se divide em dois blocos: um Ocidente em declínio, “distópico e fora de controle”, e um Sul Global em ascensão, com a China e a Rússia como polos estratégicos. No entanto, alerta que essa maioria global enfrenta uma encruzilhada perigosa, podendo ser arrastada pelas guerras permanentes. Assista: