Erdogan: EUA devem pressionar Israel a cumprir cessar-fogo em Gaza
A Turquia, um dos maiores críticos dos ataques de Israel ao território palestino, juntou-se às negociações como mediadora, após um envolvimento indireto
247 - O presidente turco, Tayyip Erdogan, disse que os Estados Unidos e outros países devem fazer mais para pressionar Israel a parar de violar o acordo de cessar-fogo em Gaza, incluindo o possível uso de sanções ou a suspensão da venda de armas. O plano de paz está em vigor desde o dia 10 de outubro, mas o grupo Hamas, que governa o território palestino, e autoridades israelenses trocaram acusações de violação das negociações.
A Turquia, membro da Otan, um dos maiores críticos dos ataques de Israel a Gaza, juntou-se às negociações do cessar-fogo como mediadora, após um envolvimento indireto. O aumento de seu papel ocorreu após uma reunião no mês passado entre Erdogan e o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca.
"Como Turquia, estamos fazendo o máximo para que o cessar-fogo seja garantido. O lado do Hamas está cumprindo o cessar-fogo. Na verdade, ele está declarando abertamente seu compromisso com isso. Enquanto isso, Israel continua a violar o cessar-fogo", disse Erdogan aos repórteres em seu voo de volta de uma viagem regional pelo Golfo.
"A comunidade internacional, especialmente os Estados Unidos, deve fazer mais para garantir que Israel cumpra integralmente o cessar-fogo e o acordo", afirmou ele, segundo uma transcrição de seus comentários compartilhada por seu gabinete na sexta-feira.
"Israel deve ser forçado a cumprir suas promessas por meio de sanções e da suspensão da venda de armas."
Ancara disse que se juntaria a uma "força-tarefa" para supervisionar a implementação do cessar-fogo, que suas forças armadas poderiam servir em uma capacidade militar ou civil, conforme necessário, e que desempenharia um papel ativo na reconstrução do enclave.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, deu a entender na quarta-feira que se oporia a qualquer participação das forças de segurança turcas na Faixa de Gaza.
Catástrofe e alertas da ONU
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a abertura de corredores médicos para transferir pacientes da Faixa de Gaza significaria um "ponto de inflexão" para as 15 mil pessoas que necessitam de tratamento fora do território devastado pela guerra, afirmou nesta sexta-feira (24).
Segundo dados do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, mais de 68 mil palestinos perderam a vida desde outubro de 2023 em consequência das ofensivas israelenses. O órgão também informou que os ataques provocaram o deslocamento de aproximadamente 1,9 milhão de pessoas, o que corresponde a cerca de 90% da população local.
Em 22 de agosto, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou que mais de 500 mil habitantes de Gaza enfrentam situação de fome, conforme a Classificação Integrada de Segurança Alimentar. Essa foi a primeira vez que o estado de fome foi oficialmente reconhecido no Oriente Médio, com projeções indicando possível agravamento da crise.
Na ocasião, a ONU destacou a gravidade dos números: “O relatório de segurança alimentar, apoiado pela organização, descreve um quadro de inanição generalizada, sofrimento extremo e mortes que poderiam ser evitadas”, afirmou, acrescentando que se trata de “uma falha da própria humanidade”.
O acordo
Com o objetivo de estabelecer um cessar-fogo na Faixa de Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, firmou na última segunda-feira (13) um acordo conjunto com representantes do Egito, Catar e Turquia. No mesmo dia, autoridades israelenses informaram a libertação de 250 palestinos condenados a penas longas ou prisão perpétua, além de 1.700 detidos sem acusação formal. Entre os libertos, 154 foram transferidos para o Egito, conforme comunicado da Sociedade de Prisioneiros Palestinos.
O tratado determina que Israel deve iniciar uma retirada parcial de suas tropas da região. Em contrapartida, o Hamas se comprometeu a libertar todos os israelenses capturados desde outubro de 2023, enquanto Israel concordou em liberar aproximadamente 2 mil palestinos, incluindo mulheres, crianças e presos mantidos há décadas.
O acordo também prevê a abertura de corredores para o envio de ajuda humanitária, garantindo o acesso de alimentos, medicamentos e combustível à população de Gaza. A execução das medidas será acompanhada por uma coalizão internacional composta por Estados Unidos, Egito, Catar, Turquia e pela Organização das Nações Unidas (ONU), responsável por supervisionar o cumprimento dos compromissos assumidos.
Tribunais internacionais
Em dezembro de 2023, Israel passou a responder a um processo movido pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ). A ação acusava o país de praticar atos de genocídio contra a população palestina e pedia medidas urgentes contra autoridades israelenses.
O governo sul-africano argumentou que tanto as operações militares quanto a omissão de Israel violariam a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. Já a defesa israelense alegou que suas ações são de natureza defensiva e rejeitou todas as acusações. O Brasil manifestou apoio formal à iniciativa da África do Sul.
Em janeiro de 2024, a CIJ determinou que Israel adotasse medidas para evitar o genocídio, punisse quem incitasse a destruição do povo palestino e assegurasse a entrada de ajuda humanitária em Gaza. O tribunal, contudo, não atendeu ao pedido de suspensão imediata das operações militares. Diversos países, incluindo o Brasil, expressaram apoio à decisão da corte.
Em novembro de 2024, a CIJ emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o então ministro da Defesa Yoav Gallant e líderes do Hamas, sob a acusação de crimes de guerra. Tanto o governo israelense quanto o grupo palestino rejeitaram as acusações apresentadas (com Reuters).


