Efeito Trump: economista-chefe da Moody’s diz que "EUA estão à beira de uma recessão"
Mark Zandi alerta que tarifas impostas por Trump já colocaram setores inteiros em contração e que consumidores arcarão com dois terços do impacto até 2026
247 - O economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi, avaliou que a economia dos Estados Unidos “está à beira da recessão”, em entrevista publicada nesta terça-feira (19) pelo Estadão. Segundo ele, o aparente fôlego mostrado pelo Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre não altera o quadro de fragilidade causado pelas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.
Zandi destacou que setores como indústria, agricultura, construção e mineração já estão entrando em contração. Além disso, o crescimento do emprego praticamente parou após os números fracos do mercado de trabalho em julho. “Se os números de empregos se tornam negativos, historicamente, isso sempre foi o início da recessão”, disse.
Consumidores vão sentir o peso das tarifas
De acordo com a análise, as empresas americanas ainda absorvem boa parte das tarifas impostas pelo governo, mas essa dinâmica tende a mudar. “No fim das contas, daqui a um ano, dois terços dos aumentos tarifários serão arcados pelos consumidores dos EUA”, afirmou Zandi. A previsão é que o impacto máximo sobre os preços ao consumidor ocorra no segundo trimestre de 2026, quando a inflação medida pelo PCE — indicador preferido do Federal Reserve (Fed) — pode atingir 3,5%, bem acima da meta de 2%.
Pressão sobre o Fed e cortes de juros
O economista-chefe da Moody’s projeta que o Fed terá de reduzir juros entre duas e três vezes ainda em 2025 para tentar conter os efeitos da desaceleração. Até o fim de 2026, Zandi prevê ao menos cinco cortes, levando a taxa dos Fed Funds para 3%.
Para ele, a autoridade monetária está sob “pressão política tremenda” e teme perder sua independência caso uma recessão seja confirmada. “Os dirigentes do Fed desesperadamente querem evitar uma recessão”, afirmou.
Mercados em alta, economia enfraquecida
Apesar do alerta, Wall Street segue batendo recordes, puxada por ações de inteligência artificial e pelos cortes de impostos incluídos no “Grande e Belo Projeto de Lei” de Trump. Para Zandi, trata-se de um otimismo excessivo: “Os mercados estão supervalorizados. Uma vez que fique claro que as tarifas e outras políticas econômicas estão causando danos reais, essa espuma vai sair”.
O impacto, segundo ele, será desigual no mundo. Países como o México devem sentir os efeitos de forma mais aguda, enquanto o Brasil pode até encontrar oportunidades ao redirecionar exportações para a China. No entanto, o balanço global é negativo.
“Estamos à beira de uma desaceleração forte. Nossa linha de base ainda não prevê uma recessão real, mas vai ser difícil navegar com toda a incerteza pendendo para o negativo”, concluiu.