Como a flotilha Global Sumud usou câmeras e dados para denunciar o genocídio promovido por Israel em Gaza
Flotilha de ajuda humanitária mobilizou milhões pela internet, gerou protestos globais e fortaleceu movimento contra o terrorismo de estado
247 – A tentativa de mais de 40 embarcações civis de romper o genocídio contra o povo palestino e o bloqueio naval imposto por Israel à Faixa de Gaza atraiu atenção mundial nesta semana. A cobertura foi detalhada pela agência Reuters, que acompanhou como o esforço humanitário — chamado Global Sumud Flotilla — se transformou em um movimento global de mobilização digital e política.
Na noite de quarta-feira (2), soldados israelenses fortemente armados interceptaram os barcos que transportavam alimentos e remédios para a população palestina. As imagens do ataque foram transmitidas ao vivo por câmeras instaladas a bordo, alcançando milhões de pessoas em todo o mundo. Só na quarta-feira, o site da flotilha recebeu 2,5 milhões de acessos; no dia seguinte, o número subiu para 3,5 milhões.
“Nunca vi números assim — não em nenhum site que já criei”, relatou Lizzie Malcolm, codiretora do estúdio de design e desenvolvimento Rectangle, em Glasgow, que ajudou a monitorar as embarcações em nome dos organizadores.
Uma campanha global contra o bloqueio
A flotilha contava com cerca de 500 parlamentares, advogados e ativistas, entre eles a jovem sueca Greta Thunberg. Embora não tenha conseguido chegar a Gaza — todos os barcos foram escoltados até Israel —, a ação emergiu como a mais visível oposição internacional ao bloqueio imposto desde 2007.
A repercussão foi tamanha que, poucos dias após a interceptação, outra flotilha com 11 barcos já havia partido, impulsionada pela onda de solidariedade global.
Segundo Dan Mercea, professor de mudança social digital na Universidade de St George, em Londres, a ação marcou um ponto de inflexão: “O impacto cultural começa a aparecer. Não é apenas a flotilha, mas eles estão fazendo diferença”.
Protestos em várias partes do mundo
A operação militar israelense desencadeou protestos imediatos em cidades da Europa, América Latina e Ásia. Em países como Argentina, México, Paquistão, Colômbia e Malásia, lideranças políticas e sociais condenaram a ação.
Na Itália, a ONG Music 4 Peace coletou mais de 500 toneladas de doações em apenas cinco dias, ultrapassando a meta inicial de 40 toneladas. Além disso, sindicatos italianos apoiaram a iniciativa com greves e ações em portos estratégicos.
“O sucesso dos protestos vem do fato de cada região ter trabalhado meticulosamente em seu território. Essa estrutura provou funcionar”, explicou Maria Elena Delia, porta-voz da delegação italiana.
Estratégia digital e transmissão em tempo real
O movimento utilizou redes como X, Telegram e Instagram, além de coletivas virtuais com ativistas a bordo. Entre os participantes estava o neto de Nelson Mandela, reforçando o simbolismo da causa.
As transmissões mostraram o momento em que a marinha israelense ordenou que os capitães desligassem os motores e soldados, equipados com armas e óculos de visão noturna, invadiram os barcos. Em cumprimento a protocolos de segurança, os ativistas permaneceram com coletes salva-vidas e mãos erguidas.
“Vimos o quanto as pessoas querem assistir a isso. Há algo de positivo nisso — você realmente torce para que eles consigam chegar”, declarou Malcolm, que acompanhava as transmissões da Escócia.
Um movimento que cresce
A Global Sumud Flotilla não apenas destacou o impacto humanitário do bloqueio sobre Gaza, mas também acelerou um movimento político internacional. Desde junho, países como França e Reino Unido reconheceram oficialmente o Estado da Palestina em resposta às ofensivas israelenses, fortalecendo o contexto de solidariedade global em que a flotilha ganhou força.
Combinando ativismo digital, organização de base e pressão política, a campanha conseguiu expor em escala inédita as consequências do bloqueio de Gaza e revitalizar o movimento pela sua suspensão.