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'Ficaram sem água e comida', relata esposa de ativista brasileiro detido em Israel

De São Bernardo do Campo, Larissa Gajardoni detalhou a angústia e a preocupação com as interceptações de Israel contra barcos que levavam ajuda a Gaza

Larissa Gajardoni (Foto: Reprodução (Sputnik))

247 - Cerca de 500 ativistas que estavam a bordo dos navios da flotilha Global Sumud foram presos pelas Forças de Defesa de Israel nesta semana. O grupo seguia em comboio com ajuda humanitária para a Faixa de Gaza e há 15 brasileiros entre os ativistas.

Entre os 15 brasileiros presos por Israel, está Mansur Peixoto. A reportagem da Sputnik Brasil conversou com a esposa, Larissa Gajardoni, que detalhou a angústia e preocupação. Atualmente em São Bernardo do Campo, Larissa explicou que se deslocou para a casa de uma amiga para contar com apoio neste momento delicado. "Eu acho que é importante estar nesse momento com pessoas que apoiam. Então eu vim para cá", diz.

Em meio à maior crise humanitária já enfrentada pela Faixa de Gaza, fruto dos quase dois anos de conflito e bombardeios intensos promovidos por Israel, mais de 500 milhões de pessoas passam fome no território, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto o restante da população tem acesso restrito a água e alimentos.

A situação se agrava por conta do bloqueio israelense por terra, mar e ar ao enclave, o que impede a chegada de ajuda humanitária. Diante da calamidade e para chamar atenção das autoridades internacionais, barcos da Flotilha Global Sumud partiram de Barcelona, na Espanha, no último mês rumo à Faixa de Gaza com alimentos e outros itens básicos.

Porém, na última quarta-feira (1°), o grupo com 473 ativistas foi interceptado pelas Forças de Defesa de Israel ao se aproximarem da Faixa de Gaza. Todos foram detidos e encaminhados para a prisão de Ketsiot, no deserto de Negev, de onde devem ser deportados para seus países de origem. Em um vídeo divulgado pela Flotilha da Resiliência, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, chega a se dirigir aos participantes da iniciativa como "terroristas".

Segundo a esposa de Mansur, o contato diário era feito via aplicativo Signal. "E a gente conversava ali diariamente. Ele ia me atualizando de como estava a viagem, das dificuldades, da falta de alimento, às vezes, das queimaduras que ele teve, muito inchaço. Mas ele ia me pontuando. Às vezes a gente conseguia fazer algumas chamadas de vídeo", conta Larissa.

Mansur deixou o Brasil no dia 25 de setembro, quando chegou a Barcelona para embarcar nos navios Pelucho e Dara. Contudo, a comunicação foi interrompida no momento em que as embarcações foram interceptadas por Israel. "Até o momento em que ele foi interceptado, eu consegui falar. Mas depois, eu não falei mais. E estou sem contato até agora", revela.

A familiar detalhou ainda as condições enfrentadas pelos detidos: "Ontem [quinta-feira], por exemplo, eles ficaram sem comida e sem água. Além disso, fizeram interrogatórios sem a presença dos advogados. Então ali é para pressionar mesmo".

Mobilização internacional pela liberação dos ativistas detidos em Israel

Pela segunda vez neste ano, ativistas que partiam para a Faixa de Gaza com ajuda humanitária foram detidos por Israel antes de chegarem ao enclave. Desta vez, o número de integrantes é muito superior, assim como a mobilização internacional pela libertação dessas pessoas, conforme conta Larissa.

"Eu estava falando com uma amiga que é da Espanha e ela disse para mim que as crianças de 12 anos estão fazendo greve por conta desse movimento todo. E, assim, aqui no Brasil, o que está acontecendo? No próximo domingo [5 de outubro], vai acontecer um movimento no MASP [em São Paulo], mas nada muito grande. Já nas redes sociais, existem pessoas, muitas delas, nos apoiando. Tem bastante gente cobrando Itamaraty, cobrando o governo", explica.

Em relação à atuação do governo brasileiro, Larissa criticou a falta de respostas claras: "O Itamaraty pede para a gente aguardar. Hoje teria algumas visitas consulares, os dois brasileiros que estavam desaparecidos já conseguimos localizar. Mas é sempre aquela resposta rasa. A única coisa que eles dizem é que vão tentar trazê-los de volta. É isso. Não tem nenhum detalhamento", pontua.

Apesar disso, Larissa ressalta que a organização da missão humanitária já havia traçado vários cenários possíveis e, em cada um deles, os familiares teriam um papel específico. "Dentro disso, eles já deixaram os vídeos prontos, já que caso aconteça algo, eu já tenho isso daqui para minha segurança. Então, foi tudo muito bem pensado, passo a passo. Nesse momento, eu, como familiar, a minha missão é entrar em contato com advogados, com o consulado, o pessoal de Tel Aviv, movimentando as redes. Essa é a minha missão hoje como familiar", finaliza (com Sputnik).

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