China rejeita pressão dos EUA por importação de petróleo russo e iraniano: “coerção e tarifas não funcionam”
Governo chinês reage a ameaças de Trump e críticas de autoridades dos EUA sobre compras de petróleo, alertando para riscos à relação bilateral
247 - A escalada de críticas de autoridades norte-americanas à China por suas importações de petróleo da Rússia e do Irã gerou uma forte reação em Pequim. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, indicou que o tema deve entrar na pauta das próximas rodadas de diálogo comercial entre os dois países, enquanto o senador Lindsey Graham ameaçou impor tarifas pesadas a países que mantenham esse comércio, citando nominalmente China, Índia e Brasil.
Em entrevista à CNBC, Bessent declarou que “a China, infelizmente, é uma grande compradora de petróleo iraniano e russo sancionado”. Ele também mencionou que “as conversas [com Pequim] devem ocorrer num futuro muito próximo”, sugerindo que a questão energética será levada à mesa. Segundo ele, o comércio bilateral está "num bom lugar", o que abriria espaço para tratar de outros temas.
Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, afirmou nesta terça-feira (16) que a posição chinesa sobre tarifas é “consistente e clara”. Ele reforçou que “esperamos que os EUA trabalhem com a China para implementar os consensos alcançados pelos presidentes dos dois países, reforcem o mecanismo de consultas econômicas e comerciais, ampliem consensos e fortaleçam a cooperação”.
Pressão com tarifas e “bullying geopolítico”
As declarações de Bessent não foram isoladas. Em entrevista à Fox News, o senador republicano Lindsey Graham ameaçou: “Trump vai impor tarifas às pessoas que compram petróleo russo: China, Índia e Brasil. Esses três países compram cerca de 80% do petróleo barato da Rússia, o que mantém a máquina de guerra de Putin funcionando. Então o presidente Trump vai aplicar uma tarifa de 100% sobre todos eles”.
A ofensiva provocou críticas de especialistas chineses. Xin Qiang, diretor do Centro de Estudos sobre Taiwan da Universidade Fudan, afirmou que “a China não permitirá que os EUA transformem as negociações comerciais em ferramenta de pressão”. Lü Xiang, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, acrescentou que esse tipo de manobra “poderia colocar em risco o mecanismo recém-estabelecido de consultas comerciais entre os países” e que os EUA estão tentando forçar a China a aderir à sua agenda estratégica.
Segundo a agência Reuters, o comentarista Hugo Dixon alertou que sanções desse tipo podem ser contraproducentes. “Se Trump impuser tarifas de 100% sobre as importações chinesas, provavelmente não mudará o comportamento de Pequim, apenas inflamará ainda mais a guerra comercial e elevará a inflação nos EUA”.
China e Índia rebatem ameaças
A retórica de Washington foi reforçada por novas ameaças de Trump em 14 de julho. Ele anunciou a imposição de tarifas sobre a Rússia e a ampliação do envio de armas à Ucrânia após o fracasso de negociações de paz. No dia seguinte, o porta-voz chinês Lin Jian reiterou a oposição de Pequim a sanções unilaterais e jurisdição extraterritorial: “guerras tarifárias não têm vencedores. Coerção e pressão não levarão a lugar algum”, disse ele. Lin reforçou que a posição chinesa sobre a guerra na Ucrânia é “clara e consistente”: a única saída viável é o diálogo.
A Índia também reagiu às ameaças. De acordo com o jornal The Hindu, parlamentares dos EUA avaliam um projeto para impor tarifas de até 500% a países que continuarem comprando petróleo russo, incluindo a Índia. O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores indiano, Randhir Jaiswal, afirmou que o país “acompanha os desdobramentos com atenção” e defendeu que “garantir o abastecimento energético da nossa população é uma prioridade absoluta”.
Ele também advertiu contra “dois pesos e duas medidas”, numa referência velada à permanência das importações de energia russa por países europeus. “Somos guiados pelas ofertas disponíveis no mercado e pelas circunstâncias globais”, declarou Jaiswal.
BRICS e isolacionismo dos EUA
A postura agressiva dos EUA, segundo analistas, pode ter o efeito oposto ao pretendido: reforçar a união entre os países do BRICS. Em artigo recente, a Bloomberg destacou que a ameaça de tarifas secundárias pode empurrar ainda mais China, Índia e Brasil para uma frente comum contra a pressão ocidental.
Para Li Haidong, professor da Universidade de Relações Exteriores da China, “os EUA seguem recorrendo a medidas sem respaldo legal para forçar outros países à submissão”. Esse comportamento, afirma ele, “está cada vez mais em desacordo com as normas internacionais” e tende a isolar ainda mais Washington no cenário global.
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