China enfrenta impasse com Reino Unido sobre construção de 'super embaixada' em Londres
Projeto é acusado de gerar riscos de espionagem e teve aprovação adiada após autoridades britânicas exigirem mais transparência
247 – O impasse diplomático entre China e Reino Unido ganhou novos contornos com a decisão do governo britânico de adiar a aprovação da chamada “super embaixada” chinesa em Londres. A informação foi divulgada pelo Financial Times e repercutida pelo portal RT.
Segundo a publicação, o Ministério de Habitação, Comunidades e Governo Local do Reino Unido solicitou esclarecimentos sobre áreas “cinzentas” no projeto arquitetônico do complexo diplomático. Diante da recusa de Pequim em fornecer mais detalhes, a decisão final sobre a obra foi adiada para 21 de outubro.
Reação chinesa e acusações de obstrução
Em resposta, a embaixada chinesa em Londres expressou “séria preocupação” com a medida. Um porta-voz afirmou que Pequim seguiu “todas as práticas diplomáticas usuais” e forneceu respostas abrangentes às autoridades britânicas.
O diplomata também lembrou que a construção de sedes diplomáticas deve ser facilitada pelo país anfitrião:
“É uma obrigação internacional do país anfitrião fornecer apoio e facilitação para a construção de instalações diplomáticas”, afirmou o porta-voz.
Ainda segundo a embaixada, o Reino Unido também tem planos de erguer um novo edifício para sua missão diplomática em Pequim, o que reforça a cobrança de reciprocidade.
O projeto e suas polêmicas
A chamada “super embaixada” será o maior complexo diplomático da China na Europa. O terreno de cinco acres foi adquirido em 2018 na área de Royal Mint Court, próximo à Torre de Londres. O plano inclui escritórios, 225 residências e um centro de intercâmbio cultural, além do prédio principal. Estima-se que o complexo seja dez vezes maior do que a atual sede diplomática chinesa na capital britânica.
Apesar da grandiosidade, críticos têm alertado que a embaixada poderia servir a atividades de vigilância e espionagem, intensificando as tensões já existentes entre Londres e Pequim. Nos últimos anos, os dois países têm trocado acusações de espionagem e interferência política.
Contexto geopolítico
O adiamento da aprovação do projeto se insere em um cenário de crescente desconfiança mútua. Para o Reino Unido, a resistência chinesa em detalhar os “blocos cinzentos” do projeto — identificados como a Casa da Embaixada e o edifício de intercâmbio cultural — gera preocupação sobre possíveis funções ocultas.
Pequim, por sua vez, rejeita tais alegações e insiste que não é “necessário ou apropriado” fornecer plantas internas completas do complexo. A China acusa o governo britânico de politizar um processo que deveria ser estritamente técnico e administrativo.
Perspectivas
Com a decisão adiada para outubro, o futuro da “super embaixada” permanece incerto. Enquanto Pequim pressiona por uma resolução rápida e considera a demora uma violação de normas diplomáticas, Londres se mantém firme em sua exigência de maior transparência.
O episódio reforça a deterioração das relações sino-britânicas, num momento em que o Reino Unido também busca redefinir sua política externa pós-Brexit, equilibrando interesses comerciais com preocupações de segurança nacional.