China amplia comércio com a África em meio às tarifas de Trump

Por Bianca Penteado, de Pequim – As tarifas aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vêm redesenhando o fluxo do comércio internacional. Com o mercado norte-americano mais restrito, empresas chinesas têm encontrado na África um espaço estratégico para escoar sua produção. Em 2025, o superávit comercial da China com o continente já soma US$ 60 bilhões, quase ultrapassando o total contabilizado no ano anterior, segundo dados do governo chinês.

Até agosto, as exportações chinesas de bens e serviços para a África somaram US$ 141 bilhões, contra US$ 81 bilhões em importações. O desequilíbrio comercial se deve, em grande parte, ao aumento nas vendas chinesas de baterias, painéis solares, veículos elétricos e equipamentos industriais.

A guinada em direção à África acompanha a queda nas vendas para os Estados Unidos. Apenas em agosto, as exportações chinesas ao mercado norte-americano recuaram 33%, enquanto as exportações para países africanos cresceram 26%. Esse movimento também se repete em outras regiões, como a América Latina e o Sudeste Asiático.

Há mais de dez anos, Pequim investe em grandes obras de infraestrutura no âmbito da Iniciativa do Cinturão e Rota, ampliando a influência do país no continente africano e garantindo acesso a recursos naturais estratégicos.

Enquanto isso, os Estados Unidos têm diminuído sua presença econômica na região. Em 2025, o governo Trump cortou repasses que impactaram programas de saúde e desenvolvimento voltados para a região e impôs tarifas a vários países africanos.

Essas medidas fragilizaram a atuação norte-americana e abriram espaço para que Pequim consolidasse uma posição estratégica no continente. Para reforçar essa aproximação, a China anunciou, em junho, a isenção de quase todas as tarifas comerciais para 53 países africanos.