TV 247 logo
      HOME > Mundo

      "Brasil é hoje mais democrático que os Estados Unidos", afirma Steven Levitsky

      Autor de ‘Como as democracias morrem’ diz que instituições brasileiras reagem melhor que as americanas às ameaças autoritárias de extrema direita

      (Foto: Divulgação)
      Guilherme Levorato avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - As instituições democráticas do Brasil estão, atualmente, funcionando de maneira mais eficaz do que as dos Estados Unidos, segundo avaliação do cientista político Steven Levitsky, professor da Universidade de Harvard e autor do best-seller Como as democracias morrem. Em entrevista publicada pela BBC News Brasil, o pesquisador afirmou que a resposta brasileira às ameaças golpistas foi mais forte e coordenada do que a reação norte-americana à tentativa de invasão do Capitólio em 2021.

      “Acho que hoje o Brasil é um sistema mais democrático do que os Estados Unidos. Esse pode não ser o caso daqui a um ano, mas hoje as instituições brasileiras estão funcionando melhor”, afirmou Levitsky.

      STF e defesa da democracia - Levitsky elogiou o papel desempenhado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no enfrentamento ao autoritarismo durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Para o professor, a Corte “fez um importante trabalho de proteção da democracia”, mas ponderou que, superada a crise institucional, o STF deverá retornar aos limites de sua função constitucional.

      “Sempre que há um órgão não eleito formulando políticas, se está em um território perigoso em uma democracia”, alertou.

      No caso do julgamento de Bolsonaro, Levitsky considera legítima a atuação da Corte. “Este é o trabalho do tribunal: julgar Bolsonaro e puni-lo, se ele for de fato considerado culpado”.

      Críticas a Donald Trump - O cientista político condenou as ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil, como a imposição de tarifas comerciais de 50% e as sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e seus aliados. Segundo Levitsky, essas medidas são baseadas em desinformação e não fazem parte de uma política de Estado, mas sim de um “capricho pessoal” de Trump.

      “O que vemos é um capricho pessoal de Trump baseado em muita desinformação, muita ignorância e muita arrogância”, disse. “Não se trata de uma política séria, mas de um país muito grande, rico e poderoso, fazendo política externa de uma república das bananas".

      Ele destacou que, ao contrário das intervenções da Guerra Fria, as atuais tentativas de interferência são desorganizadas e motivadas por interesses pessoais. Para Levitsky, Trump foi convencido pela família Bolsonaro de que o ex-presidente brasileiro é vítima de uma perseguição semelhante à que ele próprio alega sofrer.

      “Acredito que Trump esteja fazendo isso por motivos pessoais”, afirmou. “De nações que não são potências nucleares, que não são a Rússia ou a China, Trump espera subserviência. E governos como o Brasil, que não se curvam, têm mais chances de se tornarem alvos".

      Democracia nos EUA em retrocesso - Na entrevista, Levitsky também fez duras críticas à situação política dos Estados Unidos. Segundo ele, o país deixou de ser uma democracia plena nos últimos seis meses e vive hoje uma forma “branda e reversível” de autoritarismo.

      “Pessoas podem ser presas ou sofrer uma investigação fiscal por se oporem ao governo. A mídia pode ser processada. [...] A democracia dos EUA não está apenas ameaçada, ela foi descarrilada".

      Ele também criticou a falência dos mecanismos de controle institucional, como o sistema de pesos e contrapesos, a responsabilização do Legislativo e do Judiciário, e o papel do Partido Republicano.

      Bolsonaro x Trump - Ao comparar as reações institucionais no Brasil e nos EUA frente às tentativas de golpe, Levitsky apontou que o Brasil respondeu de maneira mais firme e adequada ao impedir a candidatura de Bolsonaro e processá-lo judicialmente. Enquanto isso, Trump foi autorizado a concorrer à reeleição e venceu.

      “As instituições democráticas do Brasil parecem ter respondido de forma muito mais saudável do que as dos Estados Unidos".

      Ameaças globais e risco de imitação - Steven Levitsky também alertou para o risco de que outros países adotem posturas semelhantes às de Trump, caso ele seja visto como bem-sucedido. Para o cientista político, preservar a ordem internacional baseada em regras depende do fracasso de líderes autoritários.

      “Se estivermos interessados em preservar a ordem internacional baseada em regras que prevalece desde a Segunda Guerra Mundial, governos como os de Putin e Trump não podem ser percebidos como bem-sucedidos".

      Por fim, ele afirmou que o Brasil está sendo intimidado por uma potência estrangeira por não se curvar aos interesses dos Estados Unidos — o que, segundo ele, mina a democracia brasileira.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...