Base trumpista entra em conflito após recuo do presidente sobre investigação de Epstein
Segundo o jornal britânico, seguidores do movimento Maga se revoltaram após Trump minimizar denúncias que antes usava como arma política
247 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enfrenta críticas internas e desgaste político após tentar desmobilizar a pressão por uma investigação sobre os chamados “arquivos Epstein”.
O tema, por anos tratado como símbolo da suposta corrupção das elites por figuras centrais do trumpismo, foi recentemente descartado por integrantes do próprio governo, gerando frustração entre apoiadores do movimento Maga. As informações são de reportagem do Financial Times.
A controvérsia envolve documentos que supostamente detalhariam ligações do financista condenado por abuso sexual, Jeffrey Epstein, com nomes influentes da política e do empresariado mundial. Durante a campanha e em seu primeiro mandato, Trump e aliados usaram o caso como exemplo do que chamavam de “Estado profundo”, prometendo expor um suposto esquema de proteção a pedófilos com apoio da elite liberal norte-americana. Agora, à frente de seu segundo mandato, o presidente vem tentando minimizar o tema.
Aliados negam existência dos arquivos
O diretor do FBI, Kash Patel, e a secretária de Justiça, Pam Bondi — ambos indicados por Trump — passaram a dizer que os “arquivos Epstein” são produto de “notícias falsas” e negam haver material relevante a ser revelado. A mudança no discurso surpreendeu parte da base trumpista, que, nas redes sociais, passou a acusar os dois de traição ou de encobrir informações comprometedoras.
Na tentativa de frear o desgaste, Trump voltou a insinuar que os documentos existem, mas responsabilizou os ex-presidentes Barack Obama e Joe Biden, além da ex-secretária de Estado Hillary Clinton, por supostamente manipularem o conteúdo. “Um ano atrás, nosso país estava MORTO, agora é o país mais ‘QUENTE’ em qualquer lugar do Mundo. Vamos manter isso assim, e não desperdiçar Tempo e Energia com Jeffrey Epstein, alguém com quem ninguém se importa”, escreveu o presidente na Truth Social.
Conflito com a base
A fala não foi bem recebida entre integrantes do movimento Maga, que sempre apontaram o caso Epstein como prova de uma rede de crimes sexuais protegida por setores do governo. Parte dos apoiadores passou a ver a recusa em investigar como sinal de contradição. O próprio Trump já havia admitido ter sido amigo de Epstein por 15 anos, embora afirme atualmente que teve um “rompimento” com o financista “há muito tempo”.
O episódio lembra outro momento de atrito entre Trump e seus apoiadores: o caso das vacinas contra a covid-19. Embora tenha liderado a Operação Warp Speed, que impulsionou a produção dos imunizantes nos Estados Unidos, o presidente foi vaiado ao tentar promover a campanha de vacinação. Desde então, optou por silenciar sobre o tema, diante da rejeição do eleitorado mais radical.
Possível investigação bipartidária
O impasse atual, no entanto, envolve uma questão mais sensível ao movimento Maga: o combate a crimes sexuais, tema recorrente em teorias conspiratórias sobre o “Estado profundo”. Diferentemente de boatos como o caso da pizzaria Comet Ping Pong, o caso Epstein resultou em processo judicial e prisão do acusado, que morreu em circunstâncias controversas em 2019, quando aguardava julgamento por novos crimes.
Diante da repercussão, parlamentares democratas e lideranças da direita trumpista passaram a defender a abertura de uma investigação formal sobre os arquivos. Trump poderia, em tese, nomear um procurador especial para conduzir a apuração, mas até o momento se mostra resistente à ideia. Se decidir barrar a iniciativa, corre o risco de ampliar a desconfiança interna e alimentar suspeitas de omissão.
Rachaduras no trumpismo
Além do caso Epstein, outras decisões recentes do presidente vêm provocando desconforto na base. Entre elas, a proposta de anistia a imigrantes ilegais que trabalham no setor agrícola e a sinalização de apoio ao envio de armas à Ucrânia. Ambos os temas encontram resistência entre setores conservadores que formam o núcleo ideológico do trumpismo.
Analistas veem na atual crise um sinal de desgaste na relação entre Trump e o movimento que o alçou ao poder. A depender do desenrolar do caso Epstein, o episódio pode marcar uma inflexão inédita na lealdade até então inabalável de sua militância.
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