Alemanha suspende exportações de armas para Israel sob pressão da União Europeia e da opinião pública
Anúncio do chanceler Friedrich Merz rompe tradição histórica de apoio incondicional a Israel
247 – A Alemanha anunciou nesta sexta-feira (8) a suspensão das exportações de armas para Israel que possam ser usadas na Faixa de Gaza, marcando uma reviravolta histórica em sua política externa. A informação é do The Washington Post, que destaca a pressão crescente sobre Berlim por parte de países europeus e da opinião pública interna diante da catástrofe humanitária vivida pelos palestinos. A decisão do chanceler Friedrich Merz representa a primeira ruptura significativa da aliança incondicional que a Alemanha manteve por décadas com Israel, moldada pelo trauma do Holocausto.
Merz afirmou que “Israel tem o direito de se defender do Hamas”, mas reconheceu que os planos israelenses de reocupação de Gaza dificultam a libertação de reféns e a possibilidade de negociações por um cessar-fogo. O chanceler também sublinhou que Israel tem obrigação de garantir alimentação e assistência básica à população civil palestina, duramente afetada pela fome e pelo colapso das estruturas de sobrevivência no enclave.
Berlim cede à pressão europeia, mas a UE continua paralisada
Embora o bloqueio anunciado por Merz não represente um embargo completo, ele ocorre em um momento em que a União Europeia vem sendo acusada de conivência com violações de direitos humanos por parte do governo de Benjamin Netanyahu. Mesmo após a assinatura de um acordo em julho, prometendo a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza, dezenas de pessoas continuam morrendo de fome. Diplomatas europeus e organizações humanitárias dizem que o pacto não está sendo cumprido, e que Israel impede a atuação das agências.
O Programa Mundial de Alimentos foi direto: “Não é porque não conseguimos. É porque estamos sendo impedidos de fazer nosso trabalho”, afirmou o diretor Antoine Renard, após uma semana na Faixa de Gaza. A própria comissária europeia para ajuda humanitária, Hadja Lahbib, declarou que a escala do sofrimento em Gaza é “arrasadora”, e cobrou de Israel o fim do bloqueio de alimentos.
Ainda assim, a UE não conseguiu implementar nenhuma das medidas punitivas discutidas, como a suspensão parcial de acordos comerciais ou a exclusão de Israel de fundos de pesquisa científica. A proposta mais concreta — bloquear o acesso de startups israelenses a projetos de tecnologia — segue travada por falta de apoio unânime. Alemanha, Itália e Hungria ainda resistem.
Macron e Sánchez avançam, Trump trava
A França e a Espanha estão entre os países que lideram uma reorientação na postura europeia. O presidente Emmanuel Macron prometeu reconhecer o Estado da Palestina, o que provocou a ira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aliado firme de Netanyahu. A Espanha também apoia o congelamento do acordo de associação entre a UE e Israel, que garante vantagens comerciais e de visto, além de prever o respeito aos direitos humanos — cláusula flagrantemente violada, segundo ex-diplomatas europeus.
Mais de 55 ex-embaixadores assinaram uma carta pública pedindo ações imediatas. James Moran, ex-representante da UE, classificou o acordo de julho como “uma cortina de fumaça para não fazer nada”. Já Nathalie Tocci, diretora do Instituto de Assuntos Internacionais de Roma, foi mais dura: “Se a proposta europeia não levar a medidas concretas, será apenas uma folha de figueira por trás da qual continua a cumplicidade da UE”.
Netanyahu reage, mas Alemanha não recua
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu criticou diretamente a decisão alemã e telefonou a Merz para expressar sua decepção. O governo israelense continua responsabilizando o Hamas pelo desvio de ajuda humanitária — uma alegação contestada por autoridades da ONU e da própria União Europeia.
A medida alemã também reflete mudanças internas: partidos da coalizão de Merz, como os social-democratas, vêm pressionando por sanções e argumentam que o tema “não pode mais ser tabu”. Imagens de crianças famintas com costelas expostas repercutem intensamente na imprensa europeia, aumentando a comoção popular.
A crescente divisão na Europa e a relutância da UE em usar seu poder econômico para pressionar Israel escancaram a crise de credibilidade do bloco. “Israel poderia apagar Gaza do mapa, e alguns ainda estariam falando em diálogo”, declarou um diplomata europeu sob anonimato.
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