Estado de S. Paulo defende agressão de Israel contra o Irã: “legítima defesa”
Jornal legitima a barbárie e sai em defesa de uma clara violação à integridade territorial e soberania iraniana
247 – Em editorial publicado neste domingo, 15 de junho, o jornal Estado de S. Paulo ofereceu apoio irrestrito ao ataque militar israelense contra alvos no território iraniano, ocorrido na madrugada do dia 13. Sob o título “Israel exerce o direito de se defender”, o jornal paulista sustenta que o bombardeio preventivo conduzido por Tel Aviv — que matou autoridades iranianas e destruiu instalações civis e militares — seria uma “legítima defesa” diante do avanço do programa nuclear do Irã.
A posição editorial, contudo, revela não apenas uma adesão acrítica à narrativa bélica israelense, mas uma perigosa normalização de ações que afrontam o direito internacional, a soberania de Estados e os princípios mais básicos da paz entre as nações.
Cegueira histórica e relativização do direito internacional
O texto do Estado de S. Paulo invoca os ataques de Israel ao reator iraquiano de Osirak (1981) e às supostas instalações nucleares sírias (2007) como precedentes que, segundo o jornal, foram “justificados pelo tempo”. A lógica aplicada é inquietante: justificar retroativamente uma agressão a partir de seus efeitos supostamente positivos é uma anulação do princípio da legalidade internacional. A chamada “legítima defesa” prevista no artigo 51 da Carta das Nações Unidas não se aplica a ofensivas preventivas — menos ainda quando estas se realizam em tempo de paz e sem provocação direta e imediata.
Ao endossar essa lógica, o jornal ignora a essência do direito internacional contemporâneo: o uso da força deve ser o último recurso, autorizado apenas pelo Conselho de Segurança da ONU. Nenhum país, por mais ameaçado que se declare, tem o direito de atacar outro de forma unilateral, sob o manto da “precaução”. O que Israel fez no dia 13 é um ato de guerra, e não de autodefesa.
Distorções e manipulações no discurso editorial
Outro ponto do editorial que merece crítica contundente é a tentativa de transformar Israel em benfeitor da segurança global. Segundo o texto, a operação Leão em Ascensão seria “um serviço à segurança regional e global”, como se Tel Aviv tivesse assumido a tarefa messiânica de impedir uma “nova ameaça nuclear”. Trata-se de uma inversão perversa da realidade.
O Irã, apesar de todas as suas contradições e violações, ainda é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Israel, por sua vez, não apenas se recusa a assinar o TNP como possui um arsenal estimado em mais de 90 ogivas nucleares — fato ignorado solenemente pelo editorial. A assimetria é gritante: um país não nuclear é atacado sob suspeita de estar se tornando nuclear por outro que já detém bombas atômicas e se recusa a qualquer inspeção internacional.
O silêncio cúmplice e a instrumentalização da oposição iraniana
Outro argumento cínico usado pelo jornal é a ideia de que o ataque poderia “oferecer oportunidades para uma mudança de regime” no Irã. Essa perspectiva instrumentaliza o sofrimento da população iraniana, que de fato vive sob um regime teocrático, mas que certamente não encontrará libertação por meio de bombardeios estrangeiros. Ao sugerir que mísseis e drones podem ser agentes da democracia, o editorial flerta perigosamente com o discurso neocolonial e intervencionista que levou à destruição de países inteiros — vide o Iraque, a Líbia e a Síria.
Normalização da violência e apagamento das vítimas
Em nenhum momento o jornal menciona o número de mortos civis, os danos materiais ou o impacto humanitário da operação. Tampouco há espaço para refletir sobre as possíveis consequências geopolíticas da escalada militar. Ao contrário, o jornal trata o dia 13 de junho como “possível início de uma nova era no Oriente Médio”, mais “estável” e “livre da chantagem”. Trata-se de uma fantasia perigosa. O ataque israelense já provocou retaliações com mísseis e drones e aumentou o risco de um conflito regional de grandes proporções.
A manipulação do medo e a banalização da guerra
O editorial encerra com uma declaração inquietante: “Se o ataque conseguiu de fato atrasar o programa nuclear iraniano e enfraquecer sua capacidade de agressão, o mundo terá um motivo concreto para agradecer — ainda que em silêncio.” Trata-se da consagração do silêncio cúmplice. Agradecer um ataque unilateral, que viola princípios elementares da convivência entre Estados, é elogiar a lei do mais forte — e não o direito.
Essa postura não apenas enfraquece os valores que o próprio jornal afirma defender (como democracia, legalidade e paz), mas também encoraja outras potências a seguirem o mesmo caminho: o da guerra preventiva, da suspeita como justificativa para o assassinato e da arrogância como doutrina estratégica.
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