TV 247 logo
      HOME > Indústria

      Tarifas de Trump elevam custo da transição energética nos EUA, alertam empresas brasileiras

      Setor elétrico do Brasil prevê impacto limitado no curto prazo, mas teme prejuízos futuros e pede medidas ao governo

      Linhas de transmissão conectadas a uma subestação de energia (Foto: REUTERS/Jon Nazca)
      Guilherme Levorato avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - As tarifas de importação impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão gerando apreensão entre empresas brasileiras do setor elétrico. A sobretaxa de 50% aplicada sobre transformadores fabricados no Brasil pode aumentar significativamente os custos para a expansão da infraestrutura de energia nos EUA, essencial para sustentar o crescimento de data centers e veículos elétricos, informa a Folha de S. Paulo.

      Transformadores são equipamentos indispensáveis para a transmissão de energia elétrica, com peso entre 400 e 500 toneladas, responsáveis por ajustar a tensão entre usinas geradoras e pontos de consumo. Em 2024, os EUA importaram US$ 29,2 bilhões em transformadores e peças similares, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Do total, US$ 541 milhões tiveram origem no Brasil — volume que se fortaleceu desde que, no primeiro mandato, Trump impôs barreiras aos produtos chineses.

      Brasil ganha espaço, mas riscos se acumulam - Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) indicam que, apenas no primeiro semestre de 2024, o Brasil exportou R$ 1,9 bilhão (cerca de US$ 346 milhões) em transformadores para os Estados Unidos. Atualmente, 82% das exportações brasileiras desse tipo de equipamento têm como destino o mercado norte-americano.

      Glauco Freitas, diretor da Hitachi no Brasil, acredita que os efeitos das tarifas sobre os negócios imediatos serão limitados. “As encomendas já estão feitas, e os slots de fábrica já estão comprometidos”, afirmou. A construção de um transformador pode levar entre 3 e 18 meses, devido à complexidade do processo e à demanda por mão de obra qualificada e maquinário específico.

      Apesar do cenário desafiador, Freitas ressalta que os Estados Unidos não podem adiar sua transição energética. “A indústria americana precisa acelerar a transição energética, e ela depende muito disso. Mais caro do que investir em energia é ficar sem energia”, disse.

      Projeções do instituto Edison Electric Institute estimam que os EUA investirão cerca de US$ 1,1 trilhão até 2030 para modernizar seu sistema elétrico. Além da eletrificação da frota de veículos, o país precisa expandir a rede para atender à explosão de demanda gerada pelos centros de dados voltados à inteligência artificial. Ao contrário do Brasil, cuja rede de transmissão é interligada nacionalmente, o sistema americano ainda é fragmentado por regiões.

      Estratégias e adaptação das fabricantes - Segundo Freitas, a Hitachi não depende exclusivamente do mercado americano, pois também exporta para outros países. “A demanda mundial é muito grande e a empresa se capacita para isso tecnicamente”, pontuou.

      Além da Hitachi, outras grandes fabricantes instaladas no Brasil incluem Weg, Siemens, Tsea e GE. A Tsea, que antes pertencia à Toshiba e hoje é controlada por um fundo, tem 96% de sua receita concentrada em vendas para os EUA, de acordo com análise do Itaú BBA. 

      A Weg minimizou os efeitos das novas tarifas. Durante teleconferência com investidores, o diretor financeiro André Luiz Rodrigues afirmou que a maior parte da produção de transformadores no Brasil atende ao próprio mercado interno e a países vizinhos. Rodrigues indicou que a empresa pode remanejar suas operações: “Podemos usar o Brasil para atender à demanda local em México e Índia e usar a produção desses países para atender o mercado americano”.

      Já Siemens e GE não responderam aos pedidos de entrevista.

      Exportações e preocupações com investimentos - Mesmo diante das tarifas, a China ainda exportou US$ 3,86 bilhões em transformadores para os Estados Unidos em 2024, atrás apenas do México, que lidera com US$ 6,6 bilhões. Ambos também foram afetados por tarifas — 30% para os chineses e 15% para os mexicanos.

      Conforme dados do Mdic, o Brasil enviou US$ 497,5 milhões em transformadores para os EUA ao longo de 2024, o que representa cerca de 68% do total de exportações brasileiras da indústria elétrica no período.

      O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, lembra que a entrada do Brasil nesse mercado se deu após a imposição de barreiras à China durante o primeiro mandato de Trump. “O mercado norte-americano é um mercado muito concorrido”, destacou.

      Apesar do bom momento, há receio quanto aos investimentos em curso. A Hitachi anunciou, no ano passado, a ampliação de sua planta em Guarulhos (SP), com aporte de R$ 1,2 bilhão. A Weg também está investindo na expansão de sua unidade em Itajubá (MG).

      Reação do setor e pedidos ao governo brasileiro - Na tentativa de mitigar os impactos das tarifas, a Abinee enviou uma carta ao Mdic solicitando medidas de alívio. Entre os pedidos estão o aumento temporário da alíquota do Reintegra — programa que devolve parte dos tributos às empresas exportadoras —, isenção de tributos sobre insumos e suspensão de impostos federais sobre exportações para os Estados Unidos.

      Embora, até o momento, a entidade não tenha recebido relatos de suspensão de embarques de equipamentos elétricos, a preocupação com o futuro da produção nacional é real. “Agora, a Abinee se mobiliza para que a produção continue no Brasil, para que as tarifas não gerem desemprego”, afirmou a associação.

      Glauco Freitas, da Hitachi, também aposta em uma saída negociada: “No médio para o longo prazo, eu acredito em uma solução diplomática, que beneficie os dois países”.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...