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"Trump pariu um rato com seu ataque ao Irã", diz Salem Nasser

Professor critica ação militar limitada dos EUA, revela o cálculo estratégico iraniano e expõe a dependência de Israel em relação a Washington

(Foto: Brasil247)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em vídeo publicado no YouTube no domingo, 22 de junho de 2025, o professor e analista internacional Salem Nasser comentou o ataque dos Estados Unidos ao Irã, ordenado pelo presidente Donald Trump, avaliando os efeitos limitados da ofensiva e os desdobramentos geopolíticos no Oriente Médio. A análise questiona a real eficácia da operação americana diante das expectativas criadas.

Logo no início do vídeo, Nasser usa uma metáfora incisiva para descrever a discrepância entre a retórica e a ação de Trump: “Será que, depois de rugir, o Trump apenas pariu um rato?”. A frase expressa a frustração com a natureza simbólica e pouco impactante do ataque, que prometia muito e entregou pouco. “Trump vai e volta, ele diz e desdiz, promete, mente. É muito difícil de ler o Trump”, afirmou.

Um ataque abaixo das expectativas

Segundo Nasser, o presidente Donald Trump havia anunciado que levaria duas semanas para decidir sobre uma ofensiva ao Irã, mas agiu antes do prazo — atitude que, segundo o analista, já não surpreende. “Ele descumpriu a própria palavra mais uma vez”, afirmou.

Apesar da retórica hiperbólica de Trump, que chegou a afirmar ter causado danos irreversíveis ao programa nuclear iraniano, Salem Nasser vê contradições no discurso. “Se você destruiu o programa nuclear, não precisa mais negociar com os iranianos. Se vai negociar, então você não destruiu todo o programa”, criticou. Para ele, tudo indica que os alvos atingidos não produziram o estrago esperado, o que leva à sensação de que o ataque teve mais valor simbólico do que militar.

O Irã calcula sua resposta

Nasser destaca que o Irã demonstrou capacidade de resistência nos embates anteriores com Israel, contrariando análises ocidentais que apontavam fragilidade militar. “Eles conseguiram reagir bem aos primeiros ataques, se reorganizaram muito rapidamente”, observou. Ele acrescenta que o tempo favorece o Irã, que possui vantagens comparativas importantes, como o tamanho do território, a população e o estoque variado de mísseis, mais baratos e eficientes que os caros sistemas de defesa aérea israelenses.

Para o analista, Teerã pretende administrar o conflito de modo a desgastar Israel progressivamente. “O Irã vai escolher o tempo de acabar esta guerra”, afirmou. Ele também chamou atenção para a possibilidade de o Irã abandonar o Tratado de Não Proliferação Nuclear e fechar o Estreito de Ormuz, medidas que elevariam drasticamente a tensão regional.

Entre pressões internas e o lobby israelense

Salem Nasser analisa o dilema de Trump diante das pressões domésticas. De um lado, a promessa eleitoral de não iniciar novas guerras; de outro, as cobranças do lobby israelense nos EUA. O resultado foi um ataque de escala limitada, capaz de dar satisfação pública sem escalar o conflito de forma irreversível. “Trump precisou reagir a pressões diferentes”, explicou.

No entanto, o Irã não indicou intenção de responder diretamente aos EUA neste momento, o que, segundo Nasser, evitaria uma escalada descontrolada e o risco de justificar novas ofensivas por parte de Washington.

Israel depende dos EUA para sobreviver

Um dos pontos mais fortes da análise de Salem Nasser é a exposição da dependência estratégica de Israel em relação aos Estados Unidos. “Sem o cordão umbilical que liga Israel aos Estados Unidos, Israel não tem condições de sobrevida no Oriente Médio”, afirmou. Ele argumenta que o poder militar de Israel, muitas vezes tratado como autônomo, na verdade depende do suporte logístico, financeiro e bélico ocidental.

“Tudo isso se revelou falso. Este poder todo não é de Israel. É o poder dos Estados Unidos e das potências ocidentais que colocam tudo que têm à disposição de Israel”, afirmou, enfatizando que Israel sozinho não teria resistido à resistência palestina, aos ataques dos houthis, do Hezbollah ou agora do Irã.

Um conflito em aberto

A principal incerteza agora, segundo Nasser, é se os EUA ampliarão sua intervenção. “Vimos o primeiro ataque dos americanos, mas ainda não sabemos se haverá outros”, alertou. Ele também destacou o apoio declarado de países como Iêmen, Paquistão, China e Rússia ao Irã, o que torna o cenário ainda mais instável.

O professor conclui que o Irã, por enquanto, opta por intensificar os ataques a Israel como forma de resposta indireta aos EUA. “Machucar os Estados Unidos não machuca Israel, mas machucar Israel machuca sim os Estados Unidos”, resumiu. Assista:

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