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      Michael Hudson alerta para o colapso da ordem global do pós-guerra e o conflito entre civilizações econômicas

      Em entrevista, o economista analisa a crise da hegemonia ocidental, a ascensão dos BRICS e o esgotamento do modelo financeiro parasitário dos EUA

      Michael Hudson (Foto: Reprodução Youtube)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – O economista Michael Hudson, um dos mais respeitados pensadores críticos da economia global, expôs uma análise contundente sobre o esgotamento do modelo econômico da ordem do pós-Segunda Guerra Mundial. A entrevista foi concedida ao canal no YouTube do professor Glenn Diesen, onde Hudson detalhou como a configuração econômica mundial está passando por um ponto de inflexão, com a ascensão dos BRICS como alternativa ao sistema dominado pelos países ocidentais.

      Hudson argumenta que a ordem criada em Bretton Woods, em 1944, foi estruturada para perpetuar os interesses econômicos dos Estados Unidos e de seus aliados europeus. Segundo ele, o sistema foi desenhado para “absorver o Império Britânico e os impérios europeus em uma esfera de influência americana”, com instituições como o FMI e o Banco Mundial servindo a essa arquitetura de dominação econômica.

      “O que começou como capitalismo industrial, que tornou os Estados Unidos e a Europa ricos e produtivos, acabou sendo parasitado ao se transformar em capitalismo financeiro”, alertou Hudson. Ele destacou que a luta histórica contra as rendas feudais nos países industrializados do Ocidente não se estendeu ao Sul Global, que permaneceu aprisionado a modelos extrativistas, de endividamento e exploração de recursos naturais.

      O “choque de civilizações” segundo Hudson

      Para Hudson, o verdadeiro choque civilizacional em curso não é cultural, mas econômico. A disputa se dá entre dois modelos distintos de organização econômica: o modelo rentista, centrado em finanças, monopólios e juros, que predomina nos países do Atlântico Norte; e o modelo produtivo, defendido por países dos BRICS e em especial pela China, baseado em investimento produtivo, desenvolvimento industrial e elevação do padrão de vida da população.

      “A China implementa aquilo que a escola clássica da economia defendia desde Adam Smith, John Stuart Mill e Marx: a eliminação de rendas improdutivas, o investimento em infraestrutura, educação, serviços públicos e uma economia mista voltada para o crescimento produtivo”, explicou Hudson.

      Ele aponta que o modelo ocidental tornou-se dependente da extração de riquezas globais via o dólar e as finanças: “Os Estados Unidos forçam países a permanecerem no sistema do dólar, a canalizar suas reservas para financiar o déficit americano e ameaçam com sanções qualquer país que tente desenvolver sua autossuficiência”, afirmou.

      A crise terminal da hegemonia americana

      Hudson destaca que a própria classe dominante americana tomou a decisão consciente de se desindustrializar, transferindo sua base produtiva para a Ásia nas últimas décadas. “Os Estados Unidos optaram pela financeirização da economia, deslocando o centro do poder econômico para Wall Street”, disse. Com isso, o país enfraqueceu sua base produtiva, ao mesmo tempo em que dependia da imposição de tarifas, sanções e guerra comercial para manter sua dominação.

      Ele criticou duramente a política econômica da administração do presidente Donald Trump, especialmente suas tarifas agressivas, e previu que isso pode levar ao colapso definitivo do sistema dolarizado: “As tarifas estão destruindo a capacidade dos países do Sul Global de obter dólares para pagar suas dívidas. Isso resultará em mais privatizações, mais saque dos recursos naturais e aprofundamento da dependência.”

      BRICS como alternativa e o desafio da soberania

      Hudson vê na ascensão dos BRICS a principal possibilidade de ruptura com o sistema vigente. Mas adverte que há um obstáculo estrutural: as elites dos próprios países em desenvolvimento frequentemente reproduzem o modelo rentista, preferindo priorizar os interesses dos detentores de dívida externa em detrimento do desenvolvimento nacional.

      “Há uma luta de classes nos próprios países do Sul Global. Uma parte significativa da dívida externa da América Latina, por exemplo, é controlada por suas elites, que se beneficiam do pagamento desses juros em detrimento da soberania econômica de seus povos”, analisou.

      O economista foi enfático ao definir a saída para os BRICS: “Se quiserem conquistar soberania, devem nacionalizar ou ao menos taxar os monopólios estrangeiros e reverter as rendas dos recursos naturais para o financiamento interno, criando suas próprias políticas monetárias, fiscais e industriais.”

      A Europa transformada em colônia

      Hudson também apontou para o dramático declínio da Europa, que segundo ele, trocou sua autonomia por submissão geopolítica aos Estados Unidos. Para ele, a Europa foi transformada em um apêndice político-militar da OTAN, sacrificando sua competitividade econômica.

      “A Europa deixou de ser sujeito para se tornar objeto, sendo canibalizada pela política econômica americana. Os europeus estão pagando quatro a cinco vezes mais caro por energia americana e sacrificando sua indústria em nome de uma falsa lealdade transatlântica”, afirmou.

      Hudson também criticou a posição de políticos como Emmanuel Macron, na França, e Olaf Scholz, na Alemanha, que flertam com retóricas de independência, mas no final seguem a cartilha imposta por Washington.

      O futuro incerto e a necessidade de ruptura

      O economista concluiu com uma reflexão sombria, afirmando que, historicamente, nem sempre os mais aptos prevaleceram, e que as mudanças políticas podem exigir rupturas revolucionárias, especialmente nos países do Sul Global. “Estamos vivendo o colapso de um sistema que já não representa nem o interesse dos povos do Ocidente, muito menos do Sul Global”, afirmou Hudson.

      Apesar do pessimismo, ele vê um sinal de esperança na crescente aproximação dos países asiáticos com a China e o fortalecimento de alternativas como a Iniciativa do Cinturão e Rota. No entanto, deixou claro que a verdadeira transformação dependerá da capacidade das nações romperem com suas elites rentistas internas e restaurarem sua soberania econômica.

      A entrevista de Michael Hudson é uma poderosa denúncia do sistema econômico internacional atual, oferecendo um diagnóstico claro sobre as causas da estagnação do Ocidente e os desafios enfrentados pelos países emergentes. Seu alerta é direto: ou os países em desenvolvimento rompem com o modelo parasitário, ou continuarão aprisionados em uma espiral de dependência, exploração e subdesenvolvimento. Assista:

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