Lula acerta ao deixar aliança do Holocausto usada para silenciar críticas a Israel, diz Michel Gherman
Historiador afirmou à jornalista Mônica Bergamo que a saída do Brasil da IHRA evita perseguição a críticos do governo israelense
247 – O historiador Michel Gherman, referência em estudos sobre judaísmo e antissemitismo no Brasil, defendeu a decisão do presidente Lula de retirar o país da Aliança Internacional em Memória do Holocausto (IHRA), em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Para ele, a medida é correta do ponto de vista estratégico e histórico, ainda que tenha gerado críticas de setores da comunidade judaica, incluindo segmentos progressistas.
“O presidente Lula, ou melhor, o governo Lula, se retirou da aliança internacional em memória do Holocausto. E isso está gerando uma grande polêmica, especialmente na comunidade judaica, ou em setores dela, que estão criticando ele fortemente”, disse Gherman. Ele destacou que a IHRA, criada para combater o negacionismo e preservar a memória do Holocausto, passou a ser instrumentalizada politicamente a partir de 2016, quando incorporou definições de antissemitismo que permitem enquadrar como preconceito críticas às políticas do governo de Israel.
Críticas históricas e liberdade acadêmica
Gherman argumenta que comparar discursos extremistas de políticos israelenses atuais a manifestações nazistas não é antissemitismo, mas análise histórica. “O judeu pode ser vítima, mas nada impede que ele também seja algóz ou elemento de práticas racistas contra outro grupo”, afirmou. Ele citou ministros da extrema direita israelense, como Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, cujas declarações contra palestinos, segundo ele, lembram retórica nazista ao negar a existência de inocentes em Gaza.
O historiador alertou ainda para o uso da IHRA como ferramenta de perseguição intelectual. “O que a IHRA anda produzindo em vários lugares é a perseguição contra intelectuais, inclusive intelectuais judeus. Aqui no Brasil, quem levou adiante o projeto de lei que implementava a IHRA foi o ministro Pazuello”, lembrou, fazendo referência ao ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro.
Defesa de Lula e críticas à narrativa de antissemitismo
Michel Gherman rejeitou de forma contundente as tentativas de associar Lula ao antissemitismo:
“Acusar Lula de antissemita por isso é um absurdo. Este presidente foi o que instituiu o Dia do Holocausto no Brasil. Tratar a maior liderança política da história do país como alguém que odeia judeus é grave e interessa apenas a quem quer deslegitimá-lo”, afirmou.
Ele ressaltou que setores conservadores, no Brasil e no exterior, exploram a memória do Holocausto para blindar Israel de críticas e fragilizar lideranças progressistas. Na visão do historiador, a saída do Brasil da IHRA impede que o país seja usado em uma disputa ideológica que limita o debate democrático sobre direitos humanos e política internacional.
Genocídio em Gaza e lições históricas
Durante a entrevista, Gherman também avaliou a situação na Faixa de Gaza, classificando-a como um genocídio em potencial do ponto de vista sociológico e político.
“A destruição de estruturas, a mobilidade forçada da população e a produção de fome lembram muito práticas genocidárias”, disse, citando o pesquisador de genocídios Omer Bartov.
O historiador enfatizou que compreender e debater essas questões é essencial para evitar a repetição de tragédias: “Se você começa a negar o genocídio dos outros, o seu genocídio vai ser negado. O debate sobre genocídio precisa ser sociológico, historiográfico e jurídico, não ideológico”, concluiu. Assista:
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