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Evandro Menezes de Carvalho explica a Iniciativa de Governança Global

Sinólogo brasileiro detalha leis chinesas sobre minorias, defesa do multilateralismo e antecipa impactos da Iniciativa de Governança Global

Evandro Menezes de Carvalho (Foto: Divulgação)

247 – A TV 247 entrevistou o professor e sinólogo Evandro Menezes de Carvalho sobre a Iniciativa de Governança Global anunciada pela China, suas implicações para o multilateralismo, a reforma de organismos internacionais e a geopolítica brasileira. A conversa foi publicada no canal da TV 247 no YouTube; o conteúdo desta matéria se baseia exclusivamente na entrevista disponível em: “Evandro Menezes de Carvalho explica a Iniciativa de Governança Global” (YouTube/TV 247).

Logo no início, Evandro relata sua participação na Segunda Conferência Internacional da Sociedade Civil sobre a Iniciativa de Desenvolvimento Global, promovida pela China International Exchange (rede de ONGs chinesas), na Mongólia Interior. A viagem incluiu visitas técnicas e um roteiro histórico-cultural, com destaque para o Canal Bandeira Vermelha (Red Flag Canal) e sítios arqueológicos com registros milenares.

As leis chinesas sobre minorias e a “inclusão republicana”

Evandro explica como a China estrutura direitos e representação política para minorias étnicas em regiões autônomas, citando determinações sobre chefias de governo locais e cadeiras legislativas reservadas. Para ele, a prática materializa um princípio de inclusão: “Isso é inclusão, isso é república”. Ao comparar com o Brasil, ele provoca um debate sobre modelos de garantia de direitos em sociedades plurais.

A Iniciativa de Governança Global e a reforma do sistema internacional

Ao analisar a Iniciativa de Governança Global lançada por Pequim, Evandro enfatiza que ela se ancora no multilateralismo, na solução pacífica de conflitos e no respeito ao direito internacional — pautas, segundo ele, coerentes com a Carta da ONU. Entre os movimentos recentes, destaca:

  •  criação de uma Organização Internacional de Mediação;
  •  decisão chinesa de não reivindicar tratamento diferenciado na OMC.

Para Evandro, o recado político é claro: “A China tem defendido a democratização do sistema internacional”. Ele avalia que a previsibilidade e a estabilidade da diplomacia chinesa são trunfos em um cenário em que “o Ocidente [está] muito afeito a conflitos” e pratica “uma hipocrisia explícita em relação […] a Gaza”.

ONU, Conselho de Segurança e novas arquiteturas

Questionado sobre a reforma da ONU, especialmente do Conselho de Segurança, Evandro admite o impasse: “Poder não se ganha, se conquista”. Ele lembra resistências cruzadas entre potências e candidatos a assentos ampliados e observa que a China, além de defender reformas, tem construído “estruturas-espelho” que renovam o multilateralismo na Ásia (como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura e a Organização para Cooperação de Xangai), sem abandonar integralmente a ordem criada no pós-guerra.

Lula na ONU e a disputa de narrativas com Trump

Evandro classifica o discurso do presidente Lula na ONU como “extremamente corajoso e necessário”, pela franqueza diante das atrocidades em Gaza e pela defesa de uma ordem verdadeiramente multilateral. Ao confrontar com a fala do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ele afirma: “O discurso do Trump é inegavelmente um discurso de uma tomada de posição em defesa dos Estados Unidos da Europa contra o resto do mundo”. Em sua leitura, a potência norte-americana vive uma crise de legitimidade e projeta instabilidade: “Os Estados Unidos são é uma é uma fera ferida, perigosíssimo, incontrolável”. No plano climático, Evandro é taxativo: “Os Estados Unidos estão sabotando a COP 30”.

OMC, status de desenvolvimento e cronograma antecipado

Ao comentar o anúncio de que a China deixará de pleitear o status de país em desenvolvimento na OMC, Evandro pondera: “A China agora não se declarou um país desenvolvido, é bom fazer essa ressalva, mas ela no contexto da OMC abre mão” do tratamento diferenciado. Para ele, o gesto antecipa em décadas um objetivo estratégico de longo prazo e acelera a erosão da hegemonia norte-americana.

Democracia, segurança pública e participação das mulheres

Na comparação de modelos políticos, o sinólogo contesta estereótipos sobre a China e chama atenção para dados sociais e de segurança: participação feminina no mercado de trabalho, representatividade legislativa e percepção de segurança nas ruas. Sem propor “exportação de modelos”, ele sugere que resultados institucionais dependem de história, cultura e arranjos domésticos, e não apenas do texto constitucional.

Brasil entre China e EUA: pragmatismo com soberania

Sobre a navegação diplomática do Brasil, Evandro reconhece o desafio de manter a equidistância estratégica num cenário de pressões. Ele alerta para riscos de interferência externa e para agendas ideológicas que possam subordinar interesses nacionais. Ao mesmo tempo, aposta na experiência do presidente brasileiro e na reputação internacional construída: “O Lula tem uma história na política mais longa”, o que impõe jogo duro e pragmático nas tratativas com Washington e Pequim.

Cultura, memória e políticas públicas: lições da Mongólia Interior

A passagem de Evandro pela Mongólia Interior inspira uma reflexão sobre turismo de memória e valorização do protagonismo popular em grandes obras, como o Red Flag Canal. Ele sugere que o Brasil poderia transformar feitos históricos em roteiros de aprendizagem e desenvolvimento local, conectando identidade, economia e cidadania.

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