Evandro Menezes de Carvalho usa contos chineses para criticar o medo como arma política no Sul Global
Professor da FGV defende que mídias e think tanks do sul global enfrentem “fantasmas” ideológicos
247 – O professor Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Centro de Estudos Brasil-China da FGV Direito Rio, participou do Fórum de Mesa Redonda China-América Latina, promovido pelo Brasil 247 e pelo Global Times, em junho deste ano, e fez uma reflexão provocativa sobre o papel da mídia e dos centros de pensamento (think tanks) nos tempos atuais. A intervenção foi transmitida pelo canal do YouTube do Fórum e contou com a participação de autoridades como o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, e representantes do jornal chinês Global Times.
Ao lado de autoridades acadêmicas e políticas, Evandro Carvalho surpreendeu ao propor uma reflexão a partir da obra chinesa Histórias sobre os que não temiam fantasmas, publicada pelo Grupo de Comunicações Internacionais da China. Segundo ele, o livro é uma analogia poderosa para pensar o papel das mídias no sul global. “Há muitas pessoas que passaram a acreditar em fantasmas com tal facilidade que as assusta a simples possibilidade de encarar a realidade de que eles não existem”, afirmou.
A metáfora dos fantasmas para a realidade geopolítica
Carvalho narrou trechos de contos clássicos chineses em que personagens enfrentam aparições fantasmagóricas sem medo e, justamente por isso, vencem o assombro. Ele destacou que esses contos mostram como o medo pode ser desfeito quando a pessoa encara as supostas ameaças com objetividade e coragem. “Quando se os desafia, descobre-se que nada há neles de assustador”, disse.
O professor lembrou que esse conceito não é apenas folclórico, mas tem raízes em momentos históricos decisivos para a China. Mencionou que o livro teria sido lido por Mao Tsé-Tung em 1946, quando o líder chinês afirmou: “Todos os tigres de papel, aparentemente são terríveis, mas na realidade não são tão poderosos a longo prazo. Não são os reacionários, mas o povo que é realmente poderoso”.
Para Carvalho, o verdadeiro fantasma que assombra as sociedades do sul global é a ignorância e o medo manipulado pelo imperialismo e pelas forças conservadoras globais. “O medo que devemos ter é da nossa ignorância. Este é o verdadeiro fantasma que assombra a humanidade”, concluiu.
A importância da cooperação midiática entre China e América Latina
O professor brasileiro também defendeu o fortalecimento dos intercâmbios culturais e midiáticos entre China e América Latina, em linha com a Iniciativa de Civilização Global defendida pelo presidente chinês Xi Jinping. Ele destacou a relevância do ditado chinês “usam-se pedras de outras montanhas para polir jade”, como símbolo da importância do aprendizado mútuo entre as civilizações.
“A iniciativa propõe exatamente isso: aprender com outras civilizações, não temê-las, não tratá-las como fantasmas”, observou. Para ele, a mídia tem um papel decisivo em combater preconceitos, simplificações culturais e visões distorcidas do mundo. “É neste contato direto com outras civilizações que afastamos os fantasmas que assombram a humanidade devido a visões simplistas e distorcidas da realidade sobre a vida dos diversos povos da humanidade”, ressaltou.
Combate ao imperialismo midiático
Encerrando sua fala, Evandro Carvalho reiterou que os think tanks e as mídias do sul global devem atuar como instrumentos de resistência contra narrativas hegemônicas, expondo os fantasmas criados pela desinformação e pelo imperialismo cultural. “Que as mídias e os think tanks do sul global possam contribuir cada vez mais para ajudar o mundo a identificar um fantasma, rir-se dele, a fugir dele com o nosso desprezo e voltar a olhar para as coisas reais que verdadeiramente fazem sentido e interessam para a humanidade”, afirmou, sob aplausos dos presentes.
A participação de Carvalho se destacou no evento por trazer uma perspectiva crítica e cultural profunda, alinhada à proposta de construção de uma ordem internacional mais plural e menos subordinada ao Norte Global. Assista:
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