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      China é parceira estratégica para nova ordem mundial, afirma Monica Bruckmann

      Pesquisadora da UFRJ defende aliança entre China e América Latina por soberania, desenvolvimento sustentável e justiça social

      Monica Bruckmann (Foto: LiHao / Global Times)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – A professora Monica Bruckmann, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defendeu a construção de uma nova ordem econômica e civilizatória baseada na cooperação entre os países do Sul Global durante o Fórum de Mesa Redonda China-América Latina. O evento foi realizado em junho deste ano em parceria pelo jornal chinês Global Times e pelo portal Brasil 247.

      Logo no início de sua fala, Bruckmann destacou a importância do momento geopolítico atual: “Para mim é uma grande honra e satisfação participar deste fórum no momento em que o mundo atravessa transformações geopolíticas profundas e decisivas”. Ela explicou que há um deslocamento progressivo das capacidades científicas, tecnológicas e econômicas do Ocidente para o Oriente, não apenas com a China, mas incluindo também outras potências emergentes da África, da Ásia e da América Latina.

      “Com a ascensão de novas potências do Sul Global e com elas todo o Sul coletivo, os grandes desafios planetários, como a crise climática, a desigualdade social e a disputa global por recursos naturais estratégicos nos colocam diante de um cenário de enorme complexidade e, ao mesmo tempo, de grandes possibilidades”, afirmou.

      A América Latina no centro das disputas globais

      Monica Bruckmann ressaltou o papel estratégico da América Latina no cenário global. Segundo ela, a região possui enormes reservas de biodiversidade, água doce, minerais estratégicos e a maior floresta tropical do planeta, mas continua aprisionada a um modelo econômico ultrapassado. “Seguimos presos a um modelo primário-exportador que bloqueia o desenvolvimento dos nossos países e dos nossos povos”, criticou.

      Ela defendeu que a superação dessa dependência passa pela retomada da industrialização regional, agora orientada por princípios ecológicos, tecnológicos e sociais. “É essencial retomar os projetos de industrialização regional nesse novo momento, orientado por parâmetros ecológicos, tecnológicos e sociais”, pontuou.

      O desafio da transição energética

      A professora também fez um alerta contundente sobre os impactos da atual transição energética nos países produtores de recursos estratégicos. “Todos sabemos que a substituição de veículos convencionais por veículos elétricos, a produção de infraestrutura para energia renovável e limpa, e os dispositivos de armazenamento desta energia demandam um consumo intensivo, profundamente intenso, de minerais estratégicos, cujas principais reservas estão na América Latina e, principalmente, na América do Sul”, disse.

      Ela apontou que projeções indicam que, em uma década, a demanda global por minerais como lítio, zinco, cobre e níquel poderá ser de 20 a 25 vezes maior que a atual. Para a professora, é fundamental discutir o conceito de “transição energética justa”: “Não se trata de negar a transição energética, mas de exigir que ela seja realizada de modo a reduzir os impactos ambientais e sociais sobre os territórios produtores, garantindo investimentos em ciência, tecnologia e inovação para nossos países”.

      China como parceira na soberania e no desenvolvimento sustentável

      Bruckmann destacou o papel estratégico da China, lembrando que o país asiático estabeleceu sua primeira política formal para a América Latina em 2008, reformulada em 2014, e tem aprofundado as relações políticas, econômicas e culturais com a região. “Temos assistido a um crescimento expressivo no intercâmbio comercial, nos investimentos e nas trocas culturais e acadêmicas, mas é hora de dar um passo adiante, de transformar essa relação numa aliança estratégica para o desenvolvimento soberano e sustentável”, defendeu.

      Ela propôs uma agenda ambiciosa: “Precisamos reforçar a construção de redes do Sul de ciência, tecnologia e inovação, criar fundos conjuntos para infraestrutura e programas massivos de formação de jovens cientistas e lideranças políticas comprometidas com valores de cooperação, justiça social e solidariedade”.

      Cooperação como projeto civilizatório

      Para Monica Bruckmann, a parceria sino-latino-americana deve ir além dos interesses econômicos, se afirmando como um projeto civilizatório alternativo ao eurocentrismo. “Essa aliança não é apenas econômica ou política, é também um diálogo entre civilizações. A China demonstrou que é possível romper com a dependência dos centros hegemônicos e construir um modelo próprio de desenvolvimento”, declarou.

      Ela destacou o valor das civilizações originárias da América Latina, citando o “Bem Viver” como conceito central para um novo paradigma de desenvolvimento. “Devemos pensar a cooperação entre China e América Latina como afirmação de novos sentidos históricos, onde soberania seja regra, o desenvolvimento regenere a natureza, e o conhecimento circule livremente entre os povos”, disse.

      Por fim, defendeu que o século XXI seja marcado pela construção de uma civilização planetária plural: “O século XXI pode e deve ser o século da construção de uma civilização humana planetária, nutrida pelas grandes contribuições das civilizações do Sul Global”.

      A participação de Monica Bruckmann encerrou com aplausos, reforçando o espírito do fórum como espaço de afirmação da soberania, da solidariedade e do protagonismo do Sul Global. Assista:

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