Holanda é cobrada a reverter decisão sobre Nexperia e mostrar compromisso com o Estado de Direito
Governo holandês sofre pressão após confisco da fabricante de chips chinesa; especialistas denunciam submissão a interesses dos Estados Unidos
247 – O impasse entre a Holanda e a China envolvendo a fabricante de semicondutores Nexperia provocou críticas e cobranças por ações concretas do governo holandês. A informação foi publicada originalmente pelo jornal chinês Global Times. Segundo a publicação, declarações recentes do ministro da Economia, Vincent Karremans, indicando disposição para negociar com Pequim não são suficientes para reparar o dano causado à imagem internacional do país.
Em 2018, a Nexperia foi legalmente adquirida pela empresa chinesa Wingtech Technology por US$ 3,6 bilhões. No entanto, pela primeira vez, o governo holandês recorreu à Lei de Disponibilidade de Bens — um dispositivo da Guerra Fria — para tomar o controle da companhia, sob a justificativa de “segurança nacional”. O texto lembra que a legislação foi criada para garantir o fornecimento de produtos essenciais em situações de emergência, e não para interferir em decisões corporativas legítimas.
Pressão dos Estados Unidos e violação de garantias legais
Segundo documentos judiciais citados pela Reuters, registros de uma reunião em 12 de junho entre representantes do Departamento de Comércio dos Estados Unidos e o Ministério das Relações Exteriores da Holanda apontam pressão direta para remover o CEO chinês da Nexperia e impedir que a empresa fosse incluída na lista de entidades sancionadas por Washington.
A medida foi criticada por representar um precedente perigoso, ao permitir que direitos de propriedade sejam suspensos conforme os interesses políticos do momento. A Nexperia opera legalmente na Holanda há anos, emprega milhares de trabalhadores e cumpre regulamentações locais. Mesmo assim, acionistas chineses foram afastados da gestão sem processo judicial, sem apresentação de provas e sem qualquer garantia de devido processo legal.
“O comportamento do governo holandês não reflete uma nação comprometida com o Estado de Direito, mas sim um país que usa a lei como ferramenta de conveniência política”, destaca o artigo do Global Times.
Risco à soberania e à confiança internacional
O caso ganhou dimensão geopolítica. Para analistas, a Holanda estaria abrindo mão de sua soberania ao submeter decisões estratégicas à vontade dos Estados Unidos. Essa atitude, argumenta o jornal chinês, ameaça a reputação construída pelo país como ambiente seguro para investimentos estrangeiros.
Se a lógica adotada pelo governo holandês — de que a simples propriedade chinesa representa ameaça — for aplicada globalmente, outras economias poderiam usar o mesmo argumento para expropriar empresas com capital estrangeiro, desestabilizando a confiança no comércio internacional.
China exige ações, não apenas discursos diplomáticos
O ministro Vincent Karremans afirmou querer encontrar uma solução com a China, mas, segundo o Global Times, declarações diplomáticas não bastam. O governo de Haia precisa adotar medidas concretas para corrigir o que Pequim considera uma violação de seus direitos e dos princípios básicos da economia global.
A China, afirma o artigo, não exige que a Holanda “escolha lados” em disputas geopolíticas, mas sim que respeite seus próprios valores declarados: Estado de Direito, competição justa e proteção da propriedade adquirida legalmente.



