iFood e 99Food denunciam espionagem corporativa por consultorias
Empresas de delivery dizem que consultorias estrangeiras oferecem dinheiro a funcionários em troca de informações estratégicas
247 - Consultorias internacionais têm abordado funcionários de aplicativos de delivery no Brasil oferecendo dinheiro em troca de informações estratégicas sobre os negócios. Entre os alvos estão trabalhadores do iFood e da 99Food. De acordo com reportagem publicada pelo UOL, as ofertas incluem pagamentos que variam entre US$ 250 e US$ 400 por uma hora de conversa em vídeo, além de propostas que chegam a R$ 5.500 para executivos de alto escalão.
A prática foi classificada pelo iFood como uma tentativa de “espionagem corporativa”. As consultorias — em sua maioria sediadas na China, mas também com base nos Estados Unidos, Japão e Brasil — buscam dados como número de usuários, participação de mercado, receita, custos operacionais e estratégias internas de crescimento. Até entregadores receberam propostas: uma simples foto das rotas de trabalho em um dia poderia render R$ 5.
Empresas reagem às abordagens
Em nota, o iFood afirmou que está sendo alvo de “um ataque coordenado e sistemático de consultorias” e confirmou o envio de notificações extrajudiciais exigindo que essas empresas cessem o contato com seus funcionários. Já a 99Food declarou que também identificou mensagens direcionadas a seus colaboradores, mas negou contratar consultorias para obter informações da concorrência. “A 99 afirma que não está conduzindo ou participando de qualquer iniciativa que envolva a interação com profissionais do mercado de delivery com o intuito de realizar consultoria ou qualquer tipo de obtenção de informações”, disse a companhia.
Funcionários da 99 também relataram ter recebido abordagens semelhantes na China. Entre as empresas mencionadas estão Six Degrees Intelligence, Archer, BCC e CIC, responsáveis por mais de 130 das 170 mensagens analisadas pela reportagem. Nenhuma delas respondeu aos questionamentos até a publicação da matéria.
Consultorias sob suspeita
Uma das mensagens traz a assinatura de um consultor que dizia atuar em nome da Keeta, controlada pela gigante chinesa Meituan. A empresa, no entanto, negou qualquer vínculo com a prática e afirmou: “A Keeta adota as melhores práticas de mercado para o recrutamento de talentos, em conformidade com todas as exigências locais”.
Os questionamentos feitos pelas consultorias são detalhados. Em alguns casos, envolvem números de usuários por classe social, evolução do uso da plataforma nos últimos dois anos e lógica de precificação. Outras abordagens pedem dados sobre relações comerciais com redes como McDonald’s e Burger King, ou informações sobre o uso de chatbots de inteligência artificial no mercado brasileiro.
Implicações legais
Especialistas destacam que a prática pode configurar crime de concorrência desleal, de acordo com a Lei de Propriedade Intelectual, além de violação de segredo profissional prevista no Código Penal. A pena nesses casos pode variar de três meses a um ano de prisão, além de multa.
A ofensiva acontece em um momento de forte disputa no setor. O iFood ainda lidera o mercado brasileiro, seguido pelo Rappi, mas enfrenta a chegada de competidores robustos como a 99Food, controlada pela chinesa DiDi Global, e a Keeta, ligada à Meituan. As recentes movimentações reforçam a guerra comercial entre os aplicativos, travada tanto nas ruas quanto nos tribunais.