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“Vivemos uma onda de desimbecilização”, diz Márcia Tiburi

Filósofa afirma que população começa a perceber abusos de políticos e vê declínio da manipulação fascista no Brasil

“Vivemos uma onda de desimbecilização”, diz Márcia Tiburi (Foto: Divulgação)

247 - Em entrevista ao programa Brasil Agora, da TV 247, a filósofa Márcia Tiburi avaliou que o país atravessa um momento de transição política marcado pela perda de força do bolsonarismo e pelo crescimento da consciência crítica na população. “Vivemos uma onda de desimbecilização”, afirmou, ao analisar a queda da chamada “onda fascista” que, segundo ela, ganhou força a partir de 2014 e agora dá sinais de esgotamento.

Fim do auge e papel das instituições

Para Tiburi, o Brasil já passou pelo ponto mais alto da escalada autoritária, mas ainda enfrenta riscos. Ela destaca que a estabilidade dependerá da atuação do Judiciário. “Vai depender do poder judiciário sustentar as leis, sustentar a Constituição”, disse, alertando para ataques de setores da extrema direita às instituições. A filósofa mencionou que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, é um dos principais alvos dessa ofensiva: “Essa gente quer, sem dúvida, a cabeça do Alexandre de Moraes”.

A análise parte de uma visão histórica da democracia, que para Tiburi é sempre um regime em construção, vulnerável a germes antidemocráticos. Ela classifica o fascismo como a manifestação extrema dessa ameaça e defende que a resposta institucional é essencial para evitar retrocessos.

Consciência política e redes sociais

Segundo Tiburi, parte significativa da população começa a perceber que está sendo usada por políticos e líderes religiosos que agem em benefício próprio. “As pessoas estão se dando conta de que estão sendo tratadas como imbecis por esses caras”, afirmou. Essa mudança, para ela, é fruto do fortalecimento da mídia não hegemônica e da ocupação das redes sociais por movimentos sociais, jornalistas e cidadãos comuns, que disputam a narrativa e expõem contradições do sistema político.

Ela relaciona esse processo a uma transformação cultural mais ampla: “Assim como houve aquela onda fascista de imbecilização que começou em 2014, agora começa uma onda de desimbecilização, uma nova consciência das pessoas sobre a vida delas”.

O ódio como tecnologia política

A filósofa também abordou o papel dos afetos na política. Retomando conceitos de Spinoza, explicou que regimes democráticos tendem a se alimentar de afetos positivos, enquanto regimes autoritários mobilizam afetos negativos, como o ódio. “O fascismo administra um afeto altamente compensatório, que é o ódio”, disse. Para ela, o bolsonarismo explorou esse recurso de forma sistemática, mas esse modelo começa a perder eficácia.

Tiburi ressaltou que o ódio, embora mobilizador, é também desgastante: “O ódio destrói os outros, mas destrói a própria pessoa”. Ela defende que a justiça social e a ampliação de oportunidades sejam encaradas como expressões concretas do amor no campo democrático.

Declínio do bolsonarismo e novos formatos políticos

Ao avaliar o futuro próximo, Tiburi afirmou que não vê espaço para um novo líder autoritário com o peso de Jair Bolsonaro, nem para o surgimento rápido de um líder popular de esquerda do porte de Luiz Inácio Lula da Silva. Ela projeta que novas formas de fazer política devem ganhar espaço, com destaque para movimentos coletivos e lideranças não centralizadas. “Nós não estamos esperando Messias. Nós estamos construindo novas formas de fazer política”, declarou.

Para a filósofa, essa reorganização social, impulsionada por mulheres, jovens e movimentos negros, pode abrir caminho para uma “democracia radical”, menos dependente de figuras individuais e mais baseada em coletividade e participação direta. Assista:  

 

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