Valdemar da Costa Neto quer jogar logo Bolsonaro ao mar, calcula cientista político
Jorge Chaloub avalia que Bolsonaro meteu os pés pelas mãos ao comprar briga com o STF
Por Denise Assis (247) - No início da semana, ainda sob o impacto do resultado do julgamento de Jair Bolsonaro e o núcleo de seus cúmplices na tentativa do golpe de 2022, o “Denise Assis Convida” conversou com o doutor em Ciências Política Jorge Chaloub, que é docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCSO) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de onde é Coordenador do Bacharelado em Ciências Sociais.
Nesse bate-papo, Chaloub nos demonstrou como Bolsonaro meteu os pés pelas mãos ao comprar briga com o STF e o Congresso ao mesmo tempo. Em sua análise, ele aponta também que as esquerdas costumam ter apenas um “comportamento reativo”, aqui, e no resto do mundo. Essa tem sido uma postura que tem impedido avanços mais efetivos em suas ações, demonstra o acadêmico.
Um dos pontos considerados por Chaloub em todo esse avanço do ex-presidente para colocar o golpe em perspectiva foi o profundo desgaste sofrido pelo Partido dos Trabalhadores, no período compreendido entre 2016 e 2018, quando com a força da mídia Bolsonaro tomou espaço e se sentiu forte, a ponto de poder confrontar os dois poderes.
“Acho que esse foi um processo bem gradual, que vai remeter, sei lá, eu provocaria dizendo que remete mesmo a 2002. Não que a maneira de enquadrar Lula na mídia foi tão dura quanto à da Dilma em 2014, é muito diferente, mas houve ali algum tipo de padrão de discurso, inflexão, claro em 2005 (com o Mensalão) e você tem uma outra inflexão em 2014, com a crise econômica. Mas eu concordo que foi gradual, algo que foi sendo construído ao longo do tempo”, diz.
Na visão de Chaloub, houve um excesso de “boa vontade” com Bolsonaro. Tanto a mídia como a sociedade passaram a normalizar as atitudes de Bolsonaro. “Com Lula você olhava e diziam: ‘falta alguma coisa, ele deveria ter sido mais claro’, ao passo que quando Bolsonaro fazia declarações absurdas, as interpretações eram as do tipo: ‘ah, não. Ele não quis dizer exatamente isso’.
Essa benevolência para com o ex-presidente o fez se transformar no golpista que imaginava tudo poder. E exemplifica: “quando ele diz que queria fuzilar a petralhada na ponta da praia, todos diziam: não, ele não vai fazer isso. É só uma figura de linguagem. Tinha sempre uma leitura de que, uma vez que chegasse ao governo ele não cumpriria o que prometeu nos discursos”. E aí, considera: “nós temos que ser justos com Bolsonaro. O Bolsonaro na sua trajetória política, nunca fingiu ser o que ele não era. Ele sempre disse com muita clareza que era favorável à ditadura militar, ele tinha retrato dos ditadores no gabinete, ele sempre falou em tortura. Inclusive de uma maneira mais explícita do que os ditadores falavam. O Médici não falava em tortura como o Bolsonaro falava”, destaca.
Sobre as brigas com os poderes, Chaloub lembra que é muito comum nos governos autocratas, como Orban, na Hungria e outros, atacarem os poderes dos quais divergem, principalmente. Orban, lembra o acadêmico, diverge o tempo todo da suprema corte. Em sua opinião, Bolsonaro quis fazer esse movimento muito rápido e calculou mal os movimentos. “Vários atores políticos olhavam para ele e pensavam que de repente era possível compor aqui e ali, e a reação do Bolsonaro foi a de emparedar vários desses atores. Isso vale para congresso, para o judiciário, mas vale também para a imprensa. No caso do Congresso, ele ainda recuou. Viu que não iria conseguir passar nada, vou compor com o Centrão. Com o judiciário ele dobrou a aposta”. Não deu certo, conclui.
Com o desfecho da condenação, segundo Chaloub, a ultradireita entrou em pânico e a saída, pelo que se observa, passa por Valdemar da Costa Neto, o presidente do PL, partido do ex-presidente, que “parece querer jogar Bolsonaro ao mar”. O gesto, percebido em várias entrevistas desastradas ao longo da semana, visa a escolher logo um candidato que possa enfrentar Lula em 2026, com competitividade.
“O que pode acontecer é que os deputados do Centrão vão começar a colar num candidato viável que pode, inclusive, ser o Lula. Os deputados podem até falar: olha, beleza, eu até preferia o Tarcísio ou o Ratinho Júnior, ou Eduardo Bolsonaro, mas antes de tudo eu quero é me reeleger. Nesse cenário é tudo muito complexo para que você possa calcular ou pensar na direita”. Não dá para dizer nem sequer que tudo está ganho, que o Lula é favorito, está tudo muito confuso agora, mesmo com a melhora. Porém, pensando em um estrategista da ultradireita é um cenário muito difícil. Por isso, parece que o Valdemar está querendo jogar o Bolsonaro ao mar”, constata. Bolsonaro sabe que esta é uma possibilidade e tenta evitar, não concordando com o que ele chama de a sua candidatura. Não tem ingênuo nesse jogo.