Lorenzo Santiago: “ameaças de Trump não mudam cotidiano na Venezuela”
O correspondente do Brasil de Fato em Caraca vive a realidade do país e diz que há preocupação e vigilância em torno das ameaças de Donald Trump
Por Denise Assis (247) - Enquanto Donald Trump não vem, a Venezuela vai vivendo o seu cotidiano com naturalidade. É assim que nos descreve a vida em Caracas o correspondente do jornal Brasil de Fato Lorenzo Santiago, que há seis anos vive naquele país. O jornalista conversou com o “Denise Assis Convida” do próximo domingo, 31/08, e contou como a população tem convivido com as ameaças de invasão. Espera-se a chegada de navios de guerra e até de um submarino com propulsão nuclear, enviados dos Estados Unidos, para levar a “julgamento” o presidente Nicolás Maduro, que, aos olhos de Donald Trump, é o chefe de um cartel de drogas, o Los Soles.
“Isso em Caracas já é tratado como folclore. Ninguém leva a sério essa história de chefe de cartel, de prêmio de US$ 50 milhões pela cabeça do Maduro. Virou piada”, esclarece Santiago. Ele aproveita para explicar que as comunidades da periferia da Venezuela são organizadas, voltadas para a militância, e que o comércio de drogas, o pouco existente, não fica à mostra, como nos morros do Rio de Janeiro, por exemplo.
“Não se vê movimento de venda de drogas, ninguém armado, não se sabe onde funcionam. Houve um combate bem significativo. Não é uma coisa que salte aos olhos. Eu, como repórter, costumo frequentar essas comunidades e não vejo nada por lá. É uma grande preocupação não permitir o alastramento do tráfico. Tanto que Maduro está enviando para a fronteira com a Colômbia cerca de 15 mil soldados, exatamente para evitar que a repressão de lá (da Colômbia) empurre os traficantes para a Venezuela, contaminando o lado de cá. É uma operação conjunta, um esforço feito já há alguns anos, para contê-los no lado colombiano”, explicou. “Nada a ver com o que está sendo descrito pela mídia no Brasil”, faz questão de ressaltar.
Para o correspondente, as sanções de Trump em seu primeiro governo fizeram muito mal ao país, impedindo a continuidade da exploração do petróleo, principal produto da economia venezuelana, pela empresa estadunidense Chevron. Isso impactou bastante o padrão de vida da população, que vivia em função da produção do petróleo. “Essas sanções impediram que a Chevron modernizasse a exploração. Agora estão retomando as atividades, graças a um acordo ‘secreto’ feito entre a empresa, Trump e o governo de Maduro”, revelou. Pura hipocrisia econômica, quando sabemos que o presidente dos Estados Unidos politicamente persegue e quer a prisão do seu homólogo.
Essas e outras injunções e boicotes à Venezuela foram o tema da conversa com o jornalista, bastante enfronhado nos assuntos internos do país, onde faz cobertura diária, agora exposto à ansiedade de não saber se vai ou não haver algum tipo de intervenção militar em Caracas. “Eu, sinceramente, não acredito nisto, porque o processo está longo demais. Essa ameaça já se arrasta por quase três semanas. Essas coisas, quando não acontecem logo, é porque talvez não aconteçam”, arriscou. Até porque, segundo as fontes com as quais fala sempre, a Venezuela tem se equipado com armamentos, navios e lanchas de última geração, compradas à Rússia e ao Irã. “Não creio que os Estados Unidos vão querer comprar um barulho desses”, avaliou.