“Trump não é aliado do Brasil”, diz Breno Altman
Jornalista analisa encontro entre Lula e presidente norte-americano
247 - O jornalista Breno Altman afirmou que o recente encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, não representa uma aproximação política entre os dois países. Segundo ele, a reunião foi marcada por interesses econômicos de Washington e teve impacto direto na extrema direita brasileira, que, em suas palavras, “saiu derrotada”.
Na entrevista, Altman destacou que a postura de Trump sinaliza uma mudança tática, mas não estratégica, em relação ao Brasil e à América Latina. “Isso não faz de Donald Trump um aliado, um amigo ou sequer alguém em quem se possa confiar”, afirmou.
A separação entre Bolsonaro e os interesses de Washington
De acordo com Altman, o encontro entre Lula e Trump teve consequências políticas internas relevantes. “A extrema direita brasileira saiu perdendo. O efeito interno deste encontro é arrasador para o bolsonarismo”, disse. Para ele, o gesto de Trump ao parabenizar Lula demonstra que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi abandonado pelo governo norte-americano.
“Trump mantém a pressão econômica sobre o Brasil, mas dissociou essa pressão do apoio a Bolsonaro. Ele abandonou o Bolsonaro na estrada e disse: ‘eu vou lidar com o Brasil a partir dos interesses econômicos norte-americanos’”, explicou. Altman avaliou que essa separação representa “um golpe duro” ao bolsonarismo, que via em Trump um pilar para reverter as condenações do ex-presidente.
Interesses estratégicos dos Estados Unidos
Na análise do jornalista, os Estados Unidos continuam a perseguir seus objetivos históricos na região. “Os EUA querem impedir que o Brasil rompa a dependência, tenha autonomia ou soberania, e que escolha a China como principal aliado. Querem que o Brasil siga sendo um vagão secundário num trem cuja locomotiva são os Estados Unidos”, afirmou.
Altman ressaltou que, mesmo com o gesto diplomático de Trump, a estrutura de poder norte-americana mantém a meta de controlar setores estratégicos da economia brasileira. “O principal objetivo dos Estados Unidos é colocar as mãos nas terras raras brasileiras”, observou, referindo-se aos minerais essenciais para a indústria tecnológica.
Nenhum avanço concreto
O jornalista sublinhou que o encontro entre os dois líderes resultou apenas em uma “promessa de negociação”, sem medidas práticas. “Não há até o momento uma solução do problema. O que houve foi um acordo de chegar a um acordo”, ironizou.
Segundo ele, “os Estados Unidos continuam impondo tarifas e sanções contra o Brasil. Nada foi mudado de concreto, nada. O país segue sob tarifaço e com sanções a integrantes do Judiciário”.
Euforia e cautela
Altman também criticou a reação de parte da militância progressista nas redes sociais. “Há uma euforia exagerada. Parece até que Donald Trump virou um aliado, um amigo, um parceiro. E não é nada disso”, afirmou. Para ele, a sociedade brasileira tende a reagir de forma bipolar a eventos políticos. “Nosso país tem uma cultura bipolar. As pessoas ficam muito deprimidas quando algo ruim acontece e muito celebrativas quando algo bom ocorre.”
Em sua avaliação final, o jornalista resumiu o impacto do episódio: “Neste encontro malasiano entre Trump e Lula, o bolsonarismo tomou uma pancada. Mas isso não muda a essência da política norte-americana. Trump não é aliado do Brasil”. Assista:


