“Trump quer as terras raras e o Brasil deve exigir mais da China”, diz Elias Jabbour
O economista e professor alerta que os Estados Unidos disputam o controle das riquezas minerais brasileiras
247 - O economista e professor Elias Jabbour, afirmou que o Brasil está no centro de uma disputa geopolítica entre Estados Unidos e China, tendo as terras raras — minerais essenciais para tecnologias de ponta — como principal ativo estratégico. Em entrevista ao programa Boa Noite 247, Jabbour alertou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem como prioridade garantir o acesso dos EUA a esses recursos brasileiros e defendeu que o governo Lula utilize essa posição para impulsionar um projeto nacional de reindustrialização.
“Trump tem uma clareza absoluta do que ele quer do Brasil: as terras raras”, afirmou Jabbour. “Ele elogia o Lula, abraça o Lula, mas quer os recursos estratégicos do país. O Brasil deve usar isso para pensar uma nova revolução industrial.”
As terras raras são minerais utilizados na produção de semicondutores, veículos elétricos, turbinas eólicas e equipamentos militares. Atualmente, a China domina cerca de 70% da produção mundial, o que torna o tema um dos principais pontos de tensão com os Estados Unidos. Segundo Jabbour, Trump tenta reduzir a dependência chinesa e enxerga o Brasil como uma alternativa de abastecimento.
“Os EUA querem as nossas terras raras para não depender da China, mas o Brasil não pode ser apenas fornecedor bruto de matéria-prima. É preciso industrializar, agregar valor e dominar a tecnologia”, explicou o economista.
Jabbour defende que o país não exporte os minerais in natura, mas estabeleça parcerias tecnológicas que garantam transferência de conhecimento e geração de empregos.
O professor argumenta que a relação comercial entre o Brasil e a China precisa evoluir de um modelo baseado em commodities para uma cooperação tecnológica e industrial. Ele afirma que o Brasil deve se inspirar em países africanos que, segundo ele, já negociam com os chineses exigindo industrialização local.
“Os africanos estão exigindo industrialização e transferência de tecnologia da China. Por que o Brasil não pode fazer o mesmo?”, questionou.
“Precisamos de uma cooperação tecnológica, não de novos corredores de exportação”, disse Jabbour, que afiram a nova revolução industrial será definida pelo domínio das cadeias produtivas associadas às terras raras, e o Brasil precisa se posicionar nesse tabuleiro global com soberania e planejamento de Estado.
Durante a entrevista, o economista também abordou o aumento da presença militar dos Estados Unidos na América Latina, especialmente na região do Caribe e em torno da Venezuela. Ele afirmou que há sinais de preparação para um possível conflito e que o Brasil deve agir de forma diplomática, usando os BRICS — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, como instrumento de mediação.
“Os Estados Unidos estão estacionando bombas nucleares apontadas para Caracas. Há previsão de ataques terrestres à Colômbia e à Venezuela. O Brasil é o alvo direto disso, porque é o único país dos BRICS na América Latina”, alertou.
Jabbour defende que o governo Lula retome uma política externa ativa e altiva, reaproximando-se dos BRICS e dos países do Sul Global, para enfrentar as pressões de Washington sem abrir mão da soberania.
“O Brasil deveria acionar o mecanismo dos BRICS para negociar com os EUA e evitar uma guerra. Ninguém ganha com isso”, completou.

