Tarcísio Motta: "Os bolsonaristas estão isolados!”
Deputado do PSOL critica tentativa de golpe no Congresso e diz que extrema direita perdeu apoio até entre aliados do centrão
247 - Em entrevista ao programa Bom Dia 247, o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL-RJ) afirmou que a extrema direita bolsonarista enfrenta seu momento de maior isolamento político desde o fim do governo Jair Bolsonaro. Segundo ele, o episódio recente em que parlamentares bolsonaristas ocuparam as mesas da Câmara e do Senado, exigindo a votação de projetos como a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, escancarou o desprezo desses setores pelas regras democráticas e aprofundou seu afastamento de forças moderadas no Congresso.
Ação bolsonarista foi tentativa de “golpe dentro do legislativo”
Motta relatou que a bancada do PSOL se reuniu com outros partidos de esquerda logo após tomar conhecimento da ocupação das mesas diretoras pelos bolsonaristas. Acompanhado de outros parlamentares, como Lindbergh Farias (PT) e Túlio Gadêlha (Rede), o deputado foi ao plenário enfrentar o grupo. Ele descreveu a cena como "grotesca": "Sequer era uma palhaçada, porque eu tenho respeito pelos palhaços. Era uma coisa de um ridículo deles se colocando como se estivessem impedidos de falar com aqueles esparadrapos na boca".
Segundo Motta, a iniciativa bolsonarista teve como objetivo forçar a votação de uma pauta que não tem apoio da maioria dos partidos. “Eles querem impor a votação de uma anistia absurda. Continuam a atacar a democracia brasileira em nome de uma proposta sobre a qual não cumprem nenhum tipo de compromisso. Eles querem continuar o golpe”, disse. “Tentaram dar um golpe no dia 8 de janeiro, estimularam as pessoas a fazer isso, e o Jair Bolsonaro é o líder dessa quadrilha”, completou.
Vice-presidente da Câmara também é alvo de críticas
Para o deputado, a conduta do vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), que ameaçou pautar a proposta de anistia caso assumisse interinamente a presidência da Casa, representa mais uma afronta ao funcionamento democrático. “O Altineu diz que vai agir sem respeitar o presidente da casa, e pior: desrespeitando o colégio de líderes. Isso é absolutamente autoritário e oportunista”, afirmou.
Tarcísio defendeu que os responsáveis pela paralisação das atividades legislativas sejam levados ao Conselho de Ética. “É meu direito vir aqui debater na tribuna da Câmara. Nem a maioria, nem a minoria tem o direito de impedir isso”, disse. E acrescentou: “O que eles estão fazendo é algo muito pior que obstrução. É uma afronta à possibilidade de funcionamento do poder legislativo”.
“Seria uma vergonha o Congresso ceder à chantagem”
Durante a entrevista, o deputado também criticou a possibilidade de o Congresso pautar a anistia ou o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes sob pressão. “Vai ser uma vergonha se os líderes se dobrarem a esse tipo de atitude. Votar isso agora é se ajoelhar diante de uma ameaça de uma potência estrangeira, do Trump”, disse, ao relacionar o episódio ao recente embate diplomático causado por tarifas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos.
Motta reforçou que qualquer concessão aos bolsonaristas diante de chantagens enfraqueceria as instituições. “Se você cede a um chantagista na primeira ameaça, nunca mais vai ter autonomia. É o que está acontecendo”, afirmou.
Isolamento político da extrema direita
Para o deputado, o episódio evidenciou uma mudança no equilíbrio interno do Congresso. “Esse é o momento em que os bolsonaristas estão mais isolados”, declarou. Segundo ele, o próprio PL, partido de Bolsonaro, está rachado. “A nota do Valdemar [Costa Neto] sobre a prisão domiciliar do Bolsonaro foi pífia”, avaliou.
Ele também apontou um distanciamento entre o bolsonarismo e setores do centrão e do agronegócio. “O estardalhaço e a bizarrice estão gerando prejuízos, inclusive econômicos. Enquanto isso, o governo Lula oferece o mínimo de estabilidade”, argumentou. Motta destacou ainda a atuação de figuras como o vice-presidente Geraldo Alckmin e a ministra Simone Tebet, que têm sinalizado apoio à estabilidade institucional e econômica.
“O governo está dirigindo o debate público”
Apesar de reconhecer que a extrema direita ainda tem capacidade de mobilização, como demonstrado nas manifestações do último domingo, Motta acredita que o governo Lula e seus aliados estão em posição de protagonismo no debate político. “As pesquisas mostram que eles [os bolsonaristas] não têm mais a capacidade de dirigir o debate público. Agora somos nós”, disse.
Ele defendeu o avanço de pautas como a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação dos super-ricos, projetos que correm o risco de não serem aprovados por conta da obstrução bolsonarista. “Imagina não votar a isenção porque os caras estão ocupando a mesa da Câmara. Isso é um absurdo”, criticou.
Motta encerrou a entrevista com um recado sobre a necessidade de responsabilizar os envolvidos nas tentativas de desestabilização. “Se a gente não responsabilizar essas pessoas agora, elas vão continuar. Esse tipo de tática não pode virar moda.” Assista:
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