Pochmann: "Há uma grande onda de fumaça na tarifação de produtos"
Presidente do IBGE vê sobretaxa imposta pelos EUA como pressão geopolítica sobre regulação de big techs e minerais estratégicos
247 - Em entrevista ao programa Giro das Onze, da TV 247, o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Márcio Pochmann, afirmou que a taxação de produtos brasileiros imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "é uma grande onda de fumaça" e alertou para o caráter estratégico da medida, que, segundo ele, está mais ligada a disputas tecnológicas e geopolíticas do que a razões econômicas objetivas.
"Olha, sinceramente, eu penso que é uma grande onda de fumaça essa questão da tarifação de produtos", declarou Pochmann. "O argumento econômico utilizado pelo presidente Trump nos Estados Unidos é que os Estados Unidos têm um déficit comercial gigantesco. E, portanto, a elevação das tarifas teria como objetivo reduzir esse déficit comercial."
Pochmann ressaltou que a lógica da tarifação adotada por Trump não se aplica ao Brasil. “O Brasil não é um país superavitário para os Estados Unidos, é um país deficitário. Nós compramos mais dos Estados Unidos, somos um dos poucos países no mundo, inclusive, que compra mais dos Estados Unidos do que vende. Então, esse raciocínio não cabe ao Brasil.”
O presidente do IBGE apontou que as motivações por trás da medida estão associadas a dois fatores estratégicos: a disputa em torno da regulação das plataformas digitais e o interesse norte-americano nos minerais estratégicos brasileiros.
“O Brasil é um dos poucos países que se levantou e disse: ‘não é bem assim, você não pode entrar aqui e fazer o que bem entende’. Aqui tem que ter regras. Isso não causou conforto a essas grandes empresas americanas. Então, tem ali um interesse, entendo eu, que foi manifestado na própria carta que o Trump enviou para o presidente Lula.”
Além disso, Pochmann destacou o papel do Brasil na cadeia global de minerais considerados fundamentais na era digital. “Depois da China, o Brasil é o principal centro de vários desses minerais estratégicos. Imagino que o presidente Trump esteja atacando os interesses econômicos para pressionar o governo brasileiro a abrir mão da regulação das big techs e da proteção aos minerais estratégicos.”
Diante do cenário, ele sugeriu que o Brasil deveria reagir com medidas que sustentem o emprego e a atividade produtiva doméstica, como foi feito durante a pandemia com a garantia de salários. “Nós temos um arcabouço fiscal que limita os recursos públicos, mas como se trata de uma questão emergencial, seriam necessárias medidas adicionais. Devem estar sendo preparadas ações para garantir o consumo, a renda e a atividade econômica.”
Pochmann também alertou para a possibilidade de que a medida funcione como incentivo à transferência de produção brasileira para o território norte-americano. “Empresas que não vão conseguir exportar para os Estados Unidos podem se deslocar para lá. Isso, para nós, não é adequado. Seria um desinvestimento no país.”
Segundo ele, essa movimentação insere-se num quadro mais amplo de declínio da liderança global dos Estados Unidos. “Estamos assistindo um movimento mais amplo, de decadência, de uma potência que foi responsável por grande parte da condução do mundo, especialmente com o final da Segunda Guerra Mundial.”
A entrevista completa está disponível na TV 247. Assista:
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