“O tarifaço do Trump desorganizou a frente conservadora e jogou Tarcísio no telhado”, diz Breno Altman

247 - Durante sua participação no programa Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman analisou as consequências políticas do aumento de tarifas comerciais anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros. Para Altman, a medida representa uma tentativa de interferência direta na política interna do Brasil com o objetivo de beneficiar Jair Bolsonaro e seu círculo mais próximo, como o deputado Eduardo Bolsonaro e Michelle Bolsonaro. A manobra, segundo ele, provocou um rompimento na construção da aliança entre centro e extrema direita em torno de Tarcísio de Freitas e comprometeu a viabilidade eleitoral do governador paulista.

“O tarifaço embananou esse jogo porque representa uma intervenção de Donald Trump para salvar o Bolsonaro e recolocá-lo na vida política do país”, afirmou Altman. Até então, segundo ele, havia um movimento em curso entre partidos de direita, governadores e empresários para convencer Bolsonaro a apoiar a candidatura de Tarcísio em troca de um eventual indulto presidencial, caso eleito. “A tendência principal da conjuntura pré-tarifaço era a unidade da direita ao redor do Tarcísio de Freitas.”

O plano, no entanto, foi desestabilizado pela ofensiva tarifária de Trump, que expôs contradições entre os interesses do bolsonarismo e os da burguesia nacional. “Tarcísio de Freitas ficou espremido entre duas pressões opostas: a de Bolsonaro, que lhe demanda lealdade, e a da burguesia paulista, que é afetada pelo tarifaço e não aceita a opção Bolsonaro”, explicou.

Segundo Altman, o setor exportador de São Paulo, que vai da Embraer ao agronegócio cítrico, reagiu com veemência à medida norte-americana, gerando um afastamento momentâneo entre a direita tradicional e a extrema direita. “O próprio Tarcísio teve que se dissociar do aumento da tarifa alfandegária. Ele tomou uma pancada, e sua candidatura presidencial foi direto para o telhado”, afirmou. “Não vou dizer que ela caiu e se espatifou, seria prematuro, mas ela perdeu função.”

Na avaliação do jornalista, o impacto político da medida também está relacionado à falta de apoio popular à chantagem econômica praticada por Trump. “O que o Trump fez, ao contrário de reforçar o bolsonarismo, bagunçou o bolsonarismo, bagunçou a frente ampla conservadora que vinha sendo construída e fortaleceu a esquerda e o governo”, disse. Ele lembrou que até veículos tradicionalmente conservadores, como O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e o Jornal Nacional, fizeram críticas ao tarifaço, evidenciando o desconforto com a interferência norte-americana.

Altman destacou ainda a possibilidade de o bolsonarismo recorrer a uma manobra para tentar reverter o cenário: “Pode haver um apelo do próprio Bolsonaro a Donald Trump para que elimine a tarifa, e Trump dizendo: ‘já que o Bolsonaro me pediu, eu estou eliminando a tarifa’. É uma manobra que pode ser construída com facilidade.” Ainda assim, ele considera que a crise está instaurada. “Neste momento, pós-tarifaço, tivemos uma divisão na direita que desgasta muito o Tarcísio de Freitas.”

Questionado sobre a situação eleitoral de Jair Bolsonaro, Altman foi categórico ao afirmar que o ex-presidente já não é funcional nem para as elites conservadoras. “Bolsonaro não será absolvido. Há uma decisão de classe da maioria da burguesia brasileira de condená-lo e tirá-lo do jogo político”, afirmou. “Ele é um entrave para a unidade da burguesia. Provoca uma polarização que ajuda a esquerda.”

A aposta de Trump, segundo Altman, é manter viva a influência do clã Bolsonaro mesmo que o ex-presidente seja definitivamente condenado. “A alternativa do clã se fortaleceu: Eduardo ou Michelle. Mas isso não resolve o impasse, porque divide ainda mais a direita.” Para ele, a burguesia brasileira busca uma solução mais “moderada” e já havia escolhido Tarcísio para esse papel — escolha agora comprometida. “Trump estragou a festa.” Assista: