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O golpismo ainda respira entre os militares brasileiros, diz Jorge Folena

No STF, “os réus deixaram claro que se discutia nos meios militares um golpe de Estado”, destaca o jurista

Jorge Folena e réus por tentativa de golpe em audiência no STF (Foto: ABR | Divulgação)
Guilherme Levorato avatar
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247 - Em entrevista à TV 247, o advogado e jurista Jorge Folena fez duras críticas ao papel das Forças Armadas brasileiras na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Segundo ele, os interrogatórios dos réus nesta semana no Supremo Tribunal Federal (STF) revelaram que a conspiração golpista foi amplamente discutida no meio militar e que essa mentalidade ainda persiste nos quartéis.

Folena destacou que, durante os interrogatórios, muitos réus admitiram a reunião realizada em 7 de dezembro de 2022 no Palácio do Planalto, convocada pelo então presidente Jair Bolsonaro. “Eles podiam negar tudo. É um direito dado a eles: mentir. Bolsonaro é um mentiroso contumaz. Ele não poderia jamais mentir como presidente da República, e ele mentia, e isso causou muitos males ao país. Porém, no processo, é um direito dele mentir. Mas nem isso ele sabe fazer. Ele mente e mente mal, se enrola”, criticou.

O jurista ressaltou que, apesar da tentativa de negar a trama golpista, os depoimentos de militares foram decisivos para confirmar a existência do plano. “Ocorreu a reunião de 7 de dezembro de 2022 no Palácio do Planalto, isso é fato, reconhecido inclusive pelos réus. E o Freire Gomes [ex-comandante do Exército] disse que foi nessa reunião que foi apresentada a ele a minuta do golpe. Então o testemunho foi ratificado”, afirmou. Para Folena, “o que vale é a testemunha, que não está trabalhando para nenhuma das partes. Prevalece a testemunha”.

A presença militar nos atos de desestabilização também foi alvo da crítica de Folena. Ele citou o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, que apontou a conivência do Exército com os acampamentos golpistas diante dos quartéis. “O Mauro Cid falou isso no depoimento dele. Em todos os depoimentos que foram prestados, tirando o Ramagem e o Anderson Torres, que são civis, ficou muito claro que havia uma discussão desde o governo Bolsonaro, até antes da eleição. Os militares estavam participando. Eles sabiam de tudo”, disse.

Para Folena, a participação de integrantes do Alto Comando das Forças Armadas e o silêncio de outros indicam que a responsabilidade é coletiva. “Podem muitos não terem aderido, mas muitos aderiram. Outros se omitiram. Os militares têm participação e responsabilidade nisso”.

Ele também alertou para a permanência de uma cultura antidemocrática nas Forças Armadas. “Os réus deixaram claro que se discutia nos meios militares um golpe de Estado. Ou seja, há uma concepção nos militares brasileiros, uma concepção golpista, de respeito à ordem constitucional, de desrespeito à democracia. Isso existe no meio militar e não dá para esconder”, afirmou.

Por fim, Folena defendeu que o julgamento dos envolvidos no 8 de janeiro de 2023 sirva como um marco de transformação institucional. “A quantidade de militares que estão sendo processados por causa do 8 de janeiro é muito grande. Mas não é só isso. Há uma concepção indevida ainda presente no meio das forças militares, com um saudosismo da última ditadura. Espero que esse julgamento, que todos esses episódios lamentáveis, que mancham a instituição Forças Armadas, espero que daí saia uma revisão por parte deles próprios, que passem a revisitar que não é papel deles dar golpe de Estado e nem discutir isso”.

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