Genoino: Brasil se tornou alvo preferencial do imperialismo após o golpe de 2016
Ex-presidente do PT afirma que o país vive uma crise de soberania e que o sistema político foi capturado por interesses externos
247 - Em participação no programa Bom Dia 247, o ex-deputado José Genoino traçou um cenário preocupante sobre a atual conjuntura política do país. Segundo ele, o Brasil passou a ser um dos principais alvos do imperialismo após o golpe de 2016, episódio que, em sua avaliação, representou um ataque frontal à soberania nacional e desorganizou profundamente a institucionalidade construída desde a Constituição de 1988. “O golpe de 2016 foi um golpe contra a soberania nacional”, afirmou.
Genoino apontou que, antes mesmo da destituição de Dilma Rousseff, já havia sinais claros de entrega do patrimônio nacional. Um exemplo, segundo ele, foi a revisão do sistema de partilha do pré-sal, conduzida por José Serra. “Quando não tem risco, o petróleo é da União. Quem paga mais pode explorar, mas o petróleo é do país”, explicou. Para ele, esse modelo foi desmontado por interesses que visavam beneficiar multinacionais, especialmente em áreas como a costa equatorial do Amazonas. O ex-deputado também citou a privatização da BR Distribuidora como parte de uma política de desmonte das estatais estratégicas.
Ao analisar as consequências do golpe, Genoino destacou que o Brasil passou a viver uma “bagunça institucional”, com mecanismos como emendas impositivas, orçamento secreto e a chamada “emenda Pix” se tornando ferramentas de captura do orçamento público por oligarquias políticas. Ele responsabilizou o Supremo Tribunal Federal por ter, à época, chancelado esse processo. “O Supremo deu corda para a criminalização da política”, afirmou, lembrando que Lula foi impedido de assumir a Casa Civil por decisão monocrática e que a Lava Jato destruiu carreiras e instituições sem o devido questionamento.
Para Genoino, a articulação do golpe não se limitou a interesses internos. Ele considera que, após a crise financeira de 2008, os Estados Unidos passaram a mirar com mais intensidade a América Latina. Segundo ele, esse movimento resultou no aprofundamento das relações entre as Forças Armadas brasileiras e o Exército norte-americano, além do esvaziamento de instâncias como o Conselho de Defesa Sul-Americano e a Unasul. “Houve interferência externa para atrelar o Brasil à nova hegemonia americana”, argumentou.
O ex-parlamentar elogiou os recentes discursos do presidente Lula, tanto na ONU quanto em rede nacional, que, segundo ele, marcam uma retomada da agenda soberana e enfrentam de forma direta a arrogância dos Estados Unidos. “Foram pronunciamentos certeiros. Destacaram a submissão de setores da política brasileira ao imperialismo, enfrentaram a arrogância do presidente dos EUA e defenderam uma política externa ativa”, afirmou. Ele também defendeu a superação dos impasses diplomáticos com a Venezuela e a inclusão do país nos BRICS, como forma de fortalecer a integração regional. “Temos que isolar os entreguistas e formar parcerias pragmáticas. Nossa política de defesa está precária, temos muitas vulnerabilidades.”
Genoino defendeu a taxação das big techs que atuam no Brasil, afirmando que essas empresas devem obedecer às leis nacionais como fazem nos países desenvolvidos. “As big techs representam hoje o poder supremo do capitalismo. Elas devem obedecer às leis brasileiras”, disse, referindo-se também ao impacto do Pix, que, segundo ele, incomoda corporações como as de Jeff Bezos e Mark Zuckerberg.
Durante a entrevista, a notícia da operação da Polícia Federal na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro foi recebida com destaque. Genoino avaliou que a medida é proporcional diante das provocações públicas e do alinhamento explícito de Bolsonaro com os interesses estrangeiros. “Ele se aliou ao imperialismo americano no momento em que o Brasil era atacado. Isso tem limite”, declarou. Ele também condenou a postura do deputado Eduardo Bolsonaro, que chegou a sugerir uma intervenção militar dos Estados Unidos no Brasil. “Ele está conspirando contra o país e deve ser responsabilizado.”
Ao final, Genoino alertou para o risco de o governo Lula ficar refém do centrão e perder sua identidade política. Para ele, o Executivo deve sustentar uma pauta popular, mesmo quando derrotado no Congresso, pois isso ajuda a reconstruir laços com a população. “Tem questões que a gente pode perder no voto, mas ganha ao marcar posição. É isso que constrói identidade com o povo”, afirmou. Segundo ele, só uma pauta voltada aos interesses nacionais pode reverter os efeitos do golpe de 2016 e reorganizar a institucionalidade brasileira: “O Brasil ainda não passou a limpo essa tragédia. Só o enfrentamento político pode mudar isso.” Assista:
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