“Estamos vivendo a radicalização da Doutrina Monroe”, diz José Genoino
Ex-presidente do PT alerta para riscos de intervenção dos EUA na América Latina sob Donald Trump
247 - Em entrevista ao programa Giro da Onze da TV 247, o ex-presidente do PT, José Genoino, analisou o cenário geopolítico da América Latina diante das recentes movimentações do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para ele, o imperialismo norte-americano vive um período de crise, mas tenta reafirmar sua hegemonia regional retomando práticas associadas à antiga Doutrina Monroe — política de influência e controle sobre o continente.
Segundo Genoino, “estamos vivendo a radicalização da Doutrina Monroe, no sentido de quintal”, destacando que a América Latina tem sido tratada como área subordinada de interesse norte-americano. O ex-deputado argumenta que, mesmo em meio ao declínio do poder dos EUA, Washington busca reposicionar-se por meio de pressões diplomáticas, sanções econômicas e ameaças militares, com foco especial na Venezuela e na Colômbia.
Venezuela e a política de cerco
A entrevista abordou a decisão dos EUA de colocar a cabeça do presidente Nicolás Maduro a prêmio, ao mesmo tempo em que Washington volta a comprar petróleo venezuelano. Genoino ressaltou que essa política não busca apenas acesso a recursos energéticos, mas “a troca do governo por agentes alinhados aos interesses americanos”. Para ele, a situação pode levar a um quadro de conflagração na região, com risco de desestabilização política também no Brasil.
O papel do Brasil e a integração regional
Genoino defendeu que o Brasil deve reagir com uma política externa autônoma e fortalecendo a integração latino-americana. Ele lembrou que, no governo Lula 2, o Conselho de Defesa Sul-Americano buscava cooperação entre os países vizinhos e dissuasão conjunta contra ameaças externas. Na sua avaliação, o atual governo Lula precisa retomar essa agenda de maneira ainda mais ativa.
“O Brasil tem espaço para uma diplomacia mais ousada e para liderar a integração regional, mesmo com governos de direita no continente”, afirmou.
China, Rússia e a multipolaridade
Sobre a disputa global, Genoino apontou que China e Rússia ampliaram influência na América Latina, especialmente na Venezuela, e devem se contrapor a uma ofensiva militar dos EUA. “Não é um terreno fácil para os Estados Unidos pintarem e bordarem como no passado. O mundo hoje é multipolar”, disse. Ele acredita que as potências emergentes tendem a ter papel ativo em apoio político e estratégico a países da região.
Defesa nacional e soberania
Um ponto central da fala de Genoino foi a fragilidade da política de defesa brasileira. Ele defendeu investimentos estratégicos em guerra cibernética, vigilância do espaço aéreo e fortalecimento da Marinha, citando a necessidade de avançar no programa nuclear. “O Brasil precisa ter uma política nacional de defesa que envolva sociedade, Congresso, partidos e academia”, destacou.
O ex-presidente do PT ainda criticou a submissão do sistema financeiro brasileiro às regras impostas pelos EUA e apoiou a posição do ministro Flávio Dino contra a aplicação automática da Lei Magnitsky no país. Para Genoino, aceitar ingerências jurídicas externas significaria abrir mão da soberania nacional. Assista: