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      Elias Jabbour: “Brasil será o epicentro da luta mundial”

      Geógrafo afirma que o país se tornará alvo prioritário da guerra híbrida e de desestabilização internacional, diante da ascensão dos Brics

      Elias Jabbour (Foto: Reprodução/YouTube/Podcast 3 irmãos)
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      247 -  Durante participação no programa Boa Noite 247, o analista político e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Elias Jabbour afirmou que o Brasil está prestes a ocupar um papel central nas disputas geopolíticas globais. De acordo com ele, o país se tornará o “epicentro da luta mundial” nos próximos meses, por conta de sua importância estratégica e da aproximação com os Brics.

      Segundo Jabbour, o Brasil enfrentará uma intensificação da guerra híbrida, caracterizada por táticas como desinformação, sanções econômicas, sabotagem e pressão internacional coordenada. “O Brasil vai passar por um processo agora — já está passando — mas vai se aprofundar até as eleições do ano que vem, de intensa guerra híbrida, de guerra de quinta, sexta geração, guerra de informação, desinformação, tarifas”, declarou. Para o analista, há um esforço deliberado de setores da extrema direita global para impedir a permanência de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência. “O Brasil não pode continuar sendo governado pelo Lula. Essa que é a verdade na cabeça desses caras. O Lula é uma ameaça. Mesmo com todas as concessões internas que ele faz do ponto de vista político, econômico, monetário, o Lula não é uma figura confiável para eles”, avaliou.

      Ao comentar a recente proposta de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de aplicar uma tarifa de 50% sobre o aço brasileiro, Jabbour foi taxativo ao afirmar que a medida faz parte de um esforço de desestabilização interna. Para ele, o país deve adotar medidas imediatas com base na reciprocidade e na proteção de sua base produtiva, especialmente dos setores que serão atingidos pelas tarifas. “Existem milhares de empregos que podem ser perdidos caso essas tarifas venham a ser efetivadas em primeiro de agosto”, alertou. “O Brasil deveria aplicar a regra da reciprocidade, buscar meios de auxílio aos produtores de commodities e manufaturados prejudicados e criar um fundo de apoio via crédito e finanças para manter essas estruturas de pé.”

      Jabbour manifestou ceticismo quanto à possibilidade de o bloco dos Brics oferecer respostas imediatas à crise. Segundo ele, o grupo ainda não está consolidado como bloco econômico. “No curto prazo, não. O Brasil vai ter que lançar mão de ferramentas internas e de reciprocidade para enfrentar essa taxação”, disse. Ele acredita, no entanto, que no médio e longo prazo os Brics podem se tornar uma alternativa sólida ao mercado norte-americano, desde que se transformem em um bloco econômico, com unidade financeira própria e instrumentos comuns para comércio e investimento. “Enquanto não se transformar em bloco econômico, muito pouco poderá ser feito”, explicou.

      Como saída estratégica, o geógrafo defendeu a retomada da política de integração regional com a América do Sul, uma política ativa de substituição de importações e um programa robusto de reindustrialização nacional. “O Brasil precisa de um programa orientado para a reindustrialização, para a construção de trilhos, ferrovias, produtos que utilizem aço. Isso resolveria 90% dos problemas criados por essas tarifas”, apontou. Ele também sugeriu a criação de mercados regionais que absorvam a produção nacional e fortaleçam a soberania do Brasil frente a sanções externas. “A tendência é a criação de mercados regionais como necessidade para enfrentar essa onda, essa utilização de tarifa como arma de destruição em massa.”

      Questionado sobre uma possível articulação da CIA em meio à crise tarifária, Jabbour afirmou não haver qualquer surpresa. “Não tenho a menor dúvida de que a CIA opera no mundo inteiro, no Brasil em particular, como parte da transformação do caos em instrumento de governança americana”, disse. Ele ainda denunciou a atuação de fundações estadunidenses no país, como a Open Society e a Fundação Ford, acusando-as de atuarem na desarticulação do pensamento progressista brasileiro. “Elas obliteram a capacidade da nossa intelectualidade progressista em pensar o Brasil a partir de uma visão brasileira dos problemas.”

      Ao comentar o editorial do jornal O Estado de S. Paulo, que sugeriu a saída do Brasil dos Brics, Jabbour apontou contradições internas da elite econômica nacional, especialmente do agronegócio. “Boa parte da base material do Estadão vem do agronegócio paulista, e quem compra mais deles é a China, não os Estados Unidos”, disse. “O agronegócio brasileiro não é classe para si. Porque se fosse, seria até anti-imperialista, já que quem concorre com eles é a agricultura americana e europeia, não a chinesa.”

      Para Jabbour, o Brasil está hoje no centro de uma disputa geopolítica que envolve temas como semicondutores, inteligência artificial, abastecimento energético e alinhamentos diplomáticos. “O mundo hoje tem alguns focos de tensão fundamentais para os Estados Unidos: Ucrânia, mar do Sul da China, Taiwan. E o terceiro ponto sou eu que coloco: o Brasil.” Ao final de sua análise, ele foi direto: “A luta de classes no âmbito mundial vai ter o Brasil como epicentro nos próximos meses”. Assista:

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