Sul Global precisa se unir contra o colonialismo moderno, diz José Reinaldo Carvalho em fórum de Caracas
Editor internacional do 247 participou do Fórum Internacional “Por Uma Humana Humanidade, Equilíbrio do Universo”
247 - O editor internacional do Brasil 247 e presidente do CEBRAPAZ (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz), José Reinaldo Carvalho, participou de um painel no Fórum Internacional “Por Uma Humana Humanidade, Equilíbrio do Universo”, realizado em Caracas, entre os dias 23 e 24 de julho. Participam 114 delegados de 40 países, de todos os continentes. Abaixo, reproduzimos na íntegra a intervenção de José Reinaldo.
Em sua intervenção, José Reinaldo evocou o legado de Simón Bolívar e seu compromisso com a paz, destacou a justiça social como elemento essencial para sua construção e defendeu o fortalecimento da integração regional como caminho para a soberania dos povos.
"A multipolaridade que surge hoje não é uma simples mudança de polos econômicos. É a possibilidade histórica de romper com séculos de colonialismo e hegemonismo, de construir um novo sistema internacional de respeito, cooperação e solidariedade", afirmou o jornalista.
Abaixo, reproduzimos na íntegra a intervenção de José Reinaldo Carvalho:
Simón Bolívar e a Paz dos Povos: Por um Novo Movimento Mundial Anti-imperialista e Pacificador
Estimadas e estimados companheiros da paz,
Autoridades presentes,
Camaradas e irmãos dos povos do mundo,
Recebam as saudações fraternas e combativas do Brasil, terra de resistência, solidariedade e esperança. É com honra e grande senso de responsabilidade histórica que me dirijo a vocês nesta conferência internacional, dedicada à construção de um mundo novo — um mundo de paz, justiça e soberania para todos os povos. Trago à reflexão dois temas interligados e profundamente atuais: Simón Bolívar e a Paz, e o Movimento Mundial pela Paz na conjuntura internacional contemporânea, marcada por uma brutal ofensiva imperialista e, ao mesmo tempo, por transformações inéditas que anunciam o amanhecer de uma nova era multipolar.
Simón Bolívar e a Paz: a Independência como Caminho de Emancipação Humana
Simón Bolívar, o Libertador, é lembrado principalmente como o grande estrategista militar e político da independência da América Latina. Mas Bolívar foi também, e sobretudo, um pensador da paz. Não de uma paz passiva, resignada ou submissa ao poder colonial, mas da paz conquistada pela luta firme contra a dominação, pela soberania dos povos e pela união das nações irmãs.
Ao proclamar que “a união nos salvará”, Bolívar não falava apenas de alianças políticas — ele invocava a solidariedade entre os povos como base de uma paz duradoura e verdadeira. Sua proposta de um Congresso Anfictiônico em 1826, no Panamá, foi uma tentativa precoce e visionária de construir um sistema regional de segurança e cooperação entre os Estados recém-libertos, inspirado na soberania popular, na defesa mútua e na não agressão. Isso nos mostra que Bolívar compreendia a paz como algo inseparável da liberdade nacional, da justiça social e da integração latino-americana e caribenha.
Hoje, frente às ameaças que pairam sobre nossa região e o mundo, o legado bolivariano renasce com vigor. Não se trata de simples memória histórica, mas de uma orientação estratégica para os que lutam pela paz real, fundada na autodeterminação, na dignidade e no desenvolvimento soberano. Bolívar é atual porque a luta contra o neocolonialismo permanece viva, e a bandeira da união latino-americana, que ele ergueu com tanto ardor, é indispensável para que nossos povos não sejam arrastados à guerra, ao saque e à submissão.
O Movimento pela Paz diante da ofensiva imperialista e das transformações globais
Vivemos uma conjuntura internacional extremamente perigosa e, ao mesmo tempo, cheia de potencial libertador. De um lado, o imperialismo estadunidense e europeu intensifica sua ofensiva global: impõe sanções unilaterais a dezenas de países, promove intervenções militares disfarçadas ou abertas, aplica bloqueios criminosos como os que asfixiam Cuba, Venezuela e Irã, patrocina golpes de Estado, manipula organismos multilaterais e, em sua forma mais cruel, apoia genocídios como o que ocorre na Palestina, onde o povo palestino resiste heroicamente à barbárie de um regime colonial e de apartheid sustentado por potências ocidentais.
Hoje, a paz é ameaçada pelo expansionismo da OTAN, pela política belicista de Washington, pela corrida armamentista, pelo financiamento de guerras por procuração como na Ucrânia e na Faixa de Gaza, e pelas ameaças permanentes contra países soberanos como China, Coreia do Norte, Venezuela, Nicarágua e Irã. O imperialismo, em sua crise estrutural, recorre à guerra como instrumento de dominação econômica, destrói o direito internacional, desacredita a ONU e impõe uma lógica de confronto permanente ao sistema internacional.
Mas há outro lado nesta equação histórica
Nos dias 16 e 17 de junho de 2025, a cidade de Salvador, na Bahia, sediou a Reunião Regional para as Américas e o Caribe do Conselho Mundial da Paz (CMP), com a participação de representantes de diversas organizações da região, além de autoridades brasileiras e integrantes do governo estadual.
Ali a Coordenação das Américas do Conselho Mundial da Paz abordou como tema central a formulação de ações estratégicas para enfrentar os desafios da conjuntura política regional, com ênfase na defesa da Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz. Constatamos que está em agravamento a crise multidimensional enfrentada pelos povos da região, marcada pelo aprofundamento das desigualdades sociais, pela ofensiva das oligarquias e da direita, pelo avanço de forças neofascistas e pela intensificação do intervencionismo e do militarismo promovido pelos Estados Unidos.
Destacamos a denúncia veemente contra as políticas agressivas do governo estadunidense, a exigência da devolução do território de Guantánamo a Cuba, a condenação das declarações imperialistas de Donald Trump e a rejeição de sua política migratória racista. Também reiteramos a incondicional solidariedade à Revolução Bolivariana e à sua incessante luta para aprofundar e consolidar, por meio do programa de transformações, as conquistas da democracia popular e a luta pelo socialiso tomando em consideração as peculiaridades nacionais. O CMP nas Américas reafirmou o compromisso com a solidariedade ativa aos povos sob ocupação, à luta do povo palestino contra os crimes de guerra de Israel e a necessidade de ampliar o impacto público da denúncia do genocídio em curso na Palestina.
Foram denunciadas as ações xenófobas contra migrantes venezuelanos e o sequestro de mais de 252 cidadãos da Venezuela em prisões de El Salvador, que fazem parte de uma estratégia imperialista para justificar uma intervenção direta contra a soberania do país. É com grande júbilo que recebemos a notícia da vitória política, diplomática e humanista da Venezuela que permaneciam sequestrados e submetidos ao desaparecimento forçado em um campo de concentração salvadorenho patrocinado pelos EUA.
Também se condenou a permanente ingerência dos Estados Unidos nos assuntos internos da Venezuela, caracterizada como parte de uma guerra multifatorial contra a Revolução Bolivariana.
O encontro condenou as medidas coercitivas unilaterais impostas por potências hegemônicas contra países como Cuba, Venezuela e Nicarágua, exigindo o fim imediato dos bloqueios e sanções que afetam gravemente os direitos humanos e o desenvolvimento dos povos. Rejeitou-se também a perseguição internacional às brigadas médicas cubanas, símbolo do internacionalismo e da solidariedade entre nações, e denunciou-se a pressão dos Estados Unidos sobre países que mantêm cooperação com Cuba.
A reunião aprovou o início de uma campanha internacional para promover a Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, com ampla divulgação entre governos, movimentos sociais, sindicatos, estudantes e camponeses, destacando sua importância no contexto geopolítico atual.
O encontro condenou a guerra promovida pela OTAN na Ucrânia contra a Rússia e a militarização do Leste Europeu. Também foi rechaçada a agressão dos EUA e de Israel contra o Irã e outros povos do Oriente Médio, exigindo o cumprimento da Carta da ONU e o fim das violações do direito internacional.
Ao final, os participantes reafirmaram o compromisso de fortalecer o Conselho Mundial da Paz, incorporando novas organizações e promovendo a participação das juventudes, para garantir a continuidade da luta por soberania, autodeterminação, justiça social e uma paz verdadeira para todos os povos das Américas e do Caribe.
Camaradas,
Ao mesmo tempo em que os impérios promovem o caos, forças novas emergem no cenário global: são os povos e Estados que constroem alternativas de desenvolvimento, soberania e cooperação. A ascensão do Sul Global, o fortalecimento do BRICS +, a articulação de organismos como a CELAC, o G77+China, a OCX e o MNOAL, as propostas chinesas de Iniciativa Global para a Paz e o Desenvolvimento, Iniciativa de Segurança Global, Iniciativa de Civilização Global e projetos de cooperação como o Novo Cinturão e Nova Rota da Seda, bem como os progressos nas lutas dos povos em vários países, inclusive em nossa região — tudo isso aponta para a emergência da multipolaridade e para um novo paradigma de relações internacionais baseado na coexistência pacífica, no multilateralismo e no respeito mútuo.
Nesse contexto, reveste-se de extrema importância a proposta venezuelana de ativar a mobilização mundial pela Paz. É urgente organizar, unir e mobilizar os povos contra a guerra, o neocolonialismo, o neoliberalismo e o saque das riquezas nacionais pelo imperialismo.
O movimento pela paz não pode ser neutro. Não há simetria entre agressores e agredidos. A verdadeira paz exige denunciar os responsáveis pelas guerras, combater as campanhas midiáticas que criminalizam os povos resistentes, e apoiar as lutas justas pela libertação nacional e social. Isso implica defender o povo palestino, apoiar Cuba, solidarizar-se com a Venezuela, combater o bloqueio ao Irã, repudiar a escalada bélica da OTAN contra a Rússia, e dizer não à guerra contra a China.
O que nos cabe fazer?
1. Reafirmar o princípio da autodeterminação dos povos como base da ordem internacional
O princípio da autodeterminação é um dos pilares fundadores do direito internacional moderno e da própria ideia de paz entre as nações. Nenhuma convivência pacífica pode existir se houver negação da soberania nacional, se os povos forem tratados como peças de tabuleiro pelos interesses geopolíticos das potências dominantes. Reafirmar a autodeterminação dos povos significa lutar contra todas as formas de ocupação militar, ingerência externa, tutelas neocoloniais e manipulações político-midiáticas que pretendem impor governos fantoches e destruir Estados soberanos.
Os esforços pela paz são indissociáveis da autodeterminação dos povos e nações. Levantamos com firmeza a bandeira da autodeterminação — do povo palestino, que tem o direito de viver em seu território com dignidade e liberdade; do povo cubano, que tem o direito de construir seu socialismo sem bloqueios; do povo venezuelano,
para seguir adiante em seu caminho bolivariano e chavista, dos povos
latino-americanos, africanos e asiáticos, que enfrentam mecanismos sutis e brutais de dependência econômica, chantagem diplomática e sabotagem institucional. Paz verdadeira só pode existir onde há soberania plena.
2. Denunciar e combater toda forma de sanção econômica, bloqueio e ingerência como instrumentos de guerra híbrida
As sanções econômicas unilaterais, os bloqueios financeiros e comerciais, e as intervenções políticas disfarçadas de “defesa da democracia” são formas modernas de guerra. Trata-se de uma guerra sem tanques, mas com efeitos devastadores: provocam fome, escassez de remédios, colapso de serviços públicos, crise energética, desestabilização de governos legítimos e sofrimento generalizado para as populações civis. São formas de violência estrutural que precisam ser tratadas como crimes contra a humanidade.
Companheiros e companheiras,
Não podemos ignorar o gravíssimo episódio ocorrido em 9 de julho de 2025. Em pronunciamento oficial, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou novas sanções contra países que ele chamou de “hostis à ordem internacional”. Foi uma retaliação direta à extraordinária Cúpula do BRICS, realizada dias antes no Rio de Janeiro, que reuniu dezenas de países do Sul Global e aprovou resoluções históricas em favor de uma nova governança mundial.
Trump ameaçou explicitamente os países do BRICS, chegando a dizer: “O BRICS será destruído. Não permitiremos uma aliança de ditadores contra o Ocidente.”
Essa declaração escancara o desespero de um império em declínio, que assiste à emergência de uma nova ordem mundial, plural, multilateral e solidária. Os EUA não têm mais força moral nem hegemonia econômica para ditar os rumos do planeta. E por isso recorrem à chantagem, à ameaça, à guerra econômica e à sabotagem.
O Movimento Mundial pela Paz deve construir uma campanha global permanente contra essas práticas ilegítimas e imorais. Isso inclui denunciar o bloqueio a Cuba como um ato de genocídio prolongado, exigir o fim das sanções à Venezuela, Irã, Síria, Nicarágua e outros países alvo do imperialismo, e pressionar organismos internacionais a reconhecerem tais medidas como violações flagrantes da Carta da ONU. Nenhum país deve ser punido por escolher um modelo político, econômico ou cultural diferente do padrão ocidental.
3. Ampliar a solidariedade ativa aos povos em luta — da Palestina à América Latina, da África ao Sudeste Asiático
A solidariedade é o antídoto mais poderoso contra a guerra e a opressão. Quando os povos do mundo reconhecem suas lutas comuns — pela terra, pela dignidade, pela independência, pela paz — eles constroem uma frente internacional que nenhum império é capaz de derrotar. A solidariedade deve ser mais do que retórica: deve ser concreta, ativa, constante e material.
O Movimento Mundial pela Paz precisa fortalecer redes internacionais de solidariedade com o povo palestino, denunciando o apartheid e apoiando o reconhecimento de seu Estado soberano com Jerusalém Oriental como capital. Deve apoiar também os processos de resistência latino-americanos, os povos africanos que ainda lutam contra o neocolonialismo, e as nações asiáticas que enfrentam sanções e ameaças militares. Devemos unir as vozes dos camponeses, dos trabalhadores, das mulheres, dos indígenas e dos jovens de todo o mundo numa só voz pela paz com justiça. A paz será internacionalista ou não será.
4. Apoiar os processos de integração regional soberana, que são alicerces da paz em nossos continentes
A integração entre países vizinhos, baseada no respeito mútuo, no desenvolvimento compartilhado e na cooperação solidária, é um dos caminhos mais seguros para garantir a paz e a estabilidade regional. Onde há integração, não há espaço para guerras. A experiência histórica demonstra que blocos regionais soberanos — como a CELAC, a UNASUL, a ALBA, a União Africana, a ASEAN, a OCS e o BRICS + — contribuem para resolver conflitos de forma pacífica, coordenar políticas econômicas justas e proteger os povos contra ingerências externas.
O Movimento Mundial pela Paz deve defender o fortalecimento dessas iniciativas, promover o diálogo entre elas e denunciar as tentativas de sabotá-las com golpes, chantagens financeiras ou campanhas de desinformação. A integração regional é o escudo dos povos contra a guerra imperialista e um motor estratégico para a construção de um mundo multipolar. Paz não se constrói com isolamento, mas com alianças entre iguais.
5. Lutar por uma nova arquitetura internacional da paz e da segurança coletiva, com base no multilateralismo democrático e no fim das bases militares estrangeiras
O atual sistema internacional de segurança, dominado por instituições controladas pelas potências ocidentais — como a OTAN e certos órgãos do Conselho de Segurança da ONU — está falido e desmoralizado. Ele não garante a paz, ao contrário: fomenta guerras, protege agressores e silencia vítimas. Precisamos de uma nova arquitetura internacional, baseada no multilateralismo genuíno, na democratização das decisões globais e na desmilitarização dos territórios.
É urgente exigir o desmantelamento das bases militares estrangeiras espalhadas por todos os continentes, sobretudo as dos Estados Unidos, que representam uma ameaça direta à soberania e à paz regional. Devemos apoiar a Iniciativa Global para a Segurança proposta pela China, bem como os esforços de mediação promovidos por países do Sul Global. O Movimento Mundial pela Paz deve propor a refundação de mecanismos internacionais, com protagonismo dos países em desenvolvimento e a centralidade dos direitos humanos, sociais e ambientais.
Esses cinco eixos compõem uma plataforma clara, coerente e militante para o novo internacionalismo pacifista. Trata-se de ir além dos apelos genéricos à paz e construir, na prática, uma força política mundial que confronte o imperialismo, desmonte a lógica de guerra e semeie a paz com justiça e soberania.
6. Paz, Soberania e Multipolaridade
Companheiros e companheiras,
A paz que queremos não é a paz dos cemitérios, nem a paz da submissão. É a paz ativa, fruto da justiça, da igualdade entre as nações e do fim de todas as formas de dominação. É a paz que sonhou Bolívar, que cantou Neruda, que defendeu Fidel e que os povos do mundo seguem construindo.
A multipolaridade que surge hoje não é uma simples mudança de polos econômicos. É a possibilidade histórica de romper com séculos de colonialismo e hegemonismo, de construir um novo sistema internacional de respeito, cooperação e solidariedade.
O imperialismo ainda é poderoso, mas está em declínio. Os povos, organizados, conscientes e solidários, têm a força de virar a maré da história.
Como disse Bolívar: “Unidos seremos invencíveis.”
Como nos ensina a experiência dos povos: “A paz se conquista na luta.”
Sigamos juntos, de mãos dadas com os povos do mundo, por um planeta sem guerras, sem bloqueios e sem impérios. Por um mundo de paz com justiça social, desenvolvimento e soberania!
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