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“É caso evidente de impeachment do Cláudio Castro”, diz Cardozo

Ex-ministro da Justiça critica operação policial no Rio de Janeiro, aponta uso político da violência e alerta para riscos à democracia e ao STF

“É caso evidente de impeachment do Cláudio Castro”, diz Cardozo (Foto: ABR)

247 - Em entrevista concedida ao Boa Noite 247, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo avaliou que a recente operação policial no Rio de Janeiro, marcada por dezenas de mortes, pode configurar um “caso evidente de impeachment” do governador Cláudio Castro. A declaração foi feita durante um debate sobre segurança pública e o atual cenário institucional do país.

Segundo o ex-ministro, a ação conduzida pelo governo fluminense representou uma “tragédia anunciada”, realizada “sem planejamento adequado e com motivações eleitorais evidentes”. Para ele, o número de vítimas e o descumprimento de decisões do Supremo Tribunal Federal tornam o episódio ainda mais grave. “Alguém quer algo mais sério do que isso para justificar um impeachment? Foi uma operação sem planejamento, colocando em risco a vida de pessoas e desobedecendo o Supremo. É evidente que é caso de impeachment”, afirmou.

Cardozo, que comandou o Ministério da Justiça durante o governo Dilma Rousseff, considerou inaceitável a tentativa de setores da direita de transformar a tragédia em palanque político. “Estamos vendo governadores aplaudirem a barbárie. Gente que diz defender a lei e a ordem celebra a morte, quando o papel do Estado é preservar a vida”, criticou.

O ex-ministro também condenou o discurso de que o combate à criminalidade se faz “matando o inimigo”. Segundo ele, essa lógica é herança direta da ditadura militar e contraria os princípios mais básicos do Estado de Direito. “Não existe pena de morte no Brasil. Toda morte deve ser repudiada, inclusive a de quem comete crimes. O que estão defendendo é a barbárie aberta, escandalosamente”, lamentou.

Na conversa, Cardozo apontou que a atuação do Ministério Público e da Defensoria Pública será decisiva para esclarecer os fatos e garantir que haja responsabilização. Ele defendeu a federalização das investigações caso fique comprovada a tentativa de omissão ou abafamento por parte das instituições do Rio de Janeiro. “Se houver conivência, será necessária a atuação da Justiça Federal. O Ministério Público não pode se omitir”, declarou.

Durante a entrevista, o ex-ministro também comentou a possibilidade de a defesa de Jair Bolsonaro recorrer a uma revisão criminal para tentar anular sua condenação no Supremo Tribunal Federal. Embora reconheça que o recurso é previsto em lei, ele considera improvável que prospere. “Em tese, é possível, mas do ponto de vista das provas e da justiça, é inaceitável. Pode até ser uma estratégia política para prolongar o embate com o Supremo, mas não há fundamento jurídico para isso”, avaliou.

Cardozo alertou ainda para uma “estratégia permanente da extrema-direita de tensionar as instituições e atacar o Supremo Tribunal Federal”. Segundo ele, a nova composição da Segunda Turma do STF — agora com ministros que divergiram de decisões anteriores — pode abrir uma “janela de oportunidades” para manobras judiciais. “O que estamos vendo é uma ofensiva contra a institucionalidade. A extrema-direita não tem compromisso com a democracia. Defende o autoritarismo, como sempre fez Jair Bolsonaro desde os tempos de deputado”, afirmou.

Ao refletir sobre o papel do Estado e o futuro da democracia brasileira, Cardozo ressaltou a necessidade de integração entre forças federais e estaduais nas operações de segurança pública, evitando ações isoladas e politizadas. Ele recordou que, durante a Copa do Mundo de 2014, a cooperação entre diferentes esferas de governo foi fundamental para o êxito da segurança do evento. “Naquele momento, todos tinham um objetivo comum. Hoje, a disputa política e o uso eleitoral da violência colocam vidas em risco”, disse.

Com tom firme e indignado, o ex-ministro concluiu que o país vive um momento de grave retrocesso civilizatório, no qual a banalização da morte e o desprezo às instituições ameaçam o próprio Estado Democrático de Direito. “Voltamos à barbárie. E o mais assustador é ver parte da sociedade e do parlamento aplaudindo essa insanidade”, declarou. Assista: 

 

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