"Bolsonaro é hoje o melhor amigo de Lula", diz Rui Costa Pimenta
Presidente do PCO afirma que a situação jurídica de Bolsonaro trava os movimentos da direita e impede que o projeto da classe dominante com Tarcísio avance
247 – Em entrevista à TV 247, o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, analisou o cenário político nacional e internacional. Para ele, o processo judicial contra Jair Bolsonaro tem como efeito inesperado manter Lula em posição de vantagem ao travar a articulação da direita em torno de um novo nome.
Segundo Rui, a candidatura de Tarcísio de Freitas é o projeto preferencial da burguesia brasileira, mas ainda depende da saída definitiva de Bolsonaro do jogo. “Bolsonaro nesse momento é o melhor amigo do Lula, porque ele que está impedindo a candidatura do Tarcísio de progredir”, afirmou. E acrescentou: “O plano A do Bolsonaro é o próprio Bolsonaro. O Tarcísio será no máximo um plano B”.
Tarcísio e o projeto da classe dominante
Rui destacou que a elite econômica já trabalha para lançar Tarcísio como candidato viável à sucessão presidencial. O governador de São Paulo é visto como um gestor “confiável” pela imprensa e pelo mercado. Entretanto, Rui alertou que não há clareza sobre se Bolsonaro aceitará apoiá-lo, uma vez que o ex-presidente mantém como prioridade disputar novamente.
Nesse sentido, a eventual prisão ou inelegibilidade de Bolsonaro pode abrir espaço para a consolidação de Tarcísio como representante da direita tradicional. Até lá, no entanto, a polarização entre Lula e Bolsonaro permanece, fortalecendo a posição do atual presidente.
Soberania e contradições na política externa
Ao tratar do cenário internacional, Rui criticou a postura do governo brasileiro diante das ameaças dos Estados Unidos contra a Venezuela. “O governo brasileiro não protestou com a energia suficiente”, disse, defendendo que o Itamaraty deveria ter convocado uma reunião de emergência com países da região e levado o caso à ONU.
Para ele, há uma contradição entre o discurso de defesa da soberania nacional e a omissão diante da violação da soberania venezuelana: “Não dá para você defender a soberania do seu país e descartar a soberania dos demais”.
STF, repressão e efeitos políticos
Outro ponto central da entrevista foi a análise da ofensiva judicial contra Bolsonaro. Rui alertou que a prisão pode produzir efeito contrário ao desejado: “Cadeia não derruba ninguém… transforma a pessoa numa lenda, num mito”. Ele lembrou o exemplo de Nelson Mandela, que passou 20 anos na prisão e saiu para ser presidente da África do Sul.
Segundo Rui, a burguesia aposta em remover Bolsonaro do caminho para viabilizar Tarcísio, mas esse movimento pode fortalecer ainda mais a extrema direita. “É uma fantasia achar que esse é o caminho para derrotar uma força política”, disse.
Drogas, crime organizado e repressão internacional
Rui também comentou a recente operação contra o PCC e a relação entre crime organizado e economia formal. Para ele, a ofensiva é parte de uma estratégia internacional e não resolverá o problema: “Se o crime é uma coisa lucrativa… com repressão, vai tornar ainda mais lucrativo”.
Ele defendeu a legalização como alternativa: “Eu sou a favor da legalização das drogas… de todas as drogas, para falar a verdade. Ninguém vai parar de consumir droga porque é proibido”.
Moralismo e agenda da extrema direita
Questionado sobre temas como controle parental e “adultização”, Rui criticou a crença em soluções simplistas: “Tudo que é proibido é mais atraente”. Para ele, a exploração de pautas morais é uma estratégia da extrema direita para mobilizar o eleitorado, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos sob Donald Trump, atual presidente norte-americano.
A análise de Rui Costa Pimenta evidencia uma leitura crítica do cenário: a burguesia aposta em Tarcísio como candidato da classe dominante, mas a permanência de Bolsonaro em campo mantém a polarização e, por enquanto, favorece Lula. Ao mesmo tempo, a política externa brasileira mostra contradições diante da crise na Venezuela, e o uso da repressão como solução política ou social — seja contra o bolsonarismo, seja contra o crime organizado — pode acabar fortalecendo justamente aqueles que se pretendia enfraquecer. Assista: