“A esquerda brasileira vive dominada pelo medo”, afirma Breno Altman
Jornalista analisa a postura política da esquerda e diz que o pânico enfraquece a capacidade de enfrentamento e mobilização popular
247 - Durante sua participação no programa Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman fez uma reflexão crítica sobre o comportamento da esquerda brasileira diante das pressões políticas e econômicas recentes. Segundo ele, o medo tornou-se o “afeto dominante” nas forças progressistas, limitando sua ação política e sua capacidade de sustentar projetos de transformação social.A entrevista foi ao ar pela TV 247 e abordou o momento político vivido pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os desafios enfrentados pela esquerda após anos de ofensiva conservadora. Para Altman, há um fenômeno preocupante de retração emocional e política entre militantes e dirigentes que antes eram mais combativos. “A esquerda brasileira entra em pânico com muita facilidade. A facilidade com que seus dirigentes e sua base se deixam tomar pelo medo é impressionante”, afirmou.O jornalista relacionou esse comportamento aos traumas recentes da história nacional, como o governo de Jair Bolsonaro e a Operação Lava Jato, que geraram um ambiente de perseguição e desconfiança. “Talvez o trauma do período Bolsonaro e da Lava Jato explique parte disso. Mas é incrível como rapidamente o medo toma conta: as mãos começam a tremer, os joelhos também. Não era assim antes. A esquerda brasileira não tremia”, declarou.Altman argumentou que esse sentimento generalizado ultrapassa o campo político e se manifesta quase como um sintoma coletivo. “É quase um caso psicanalítico. O medo passou a ser o principal afeto da esquerda. E isso não é algo que se explica apenas pela política. Há uma espécie de internalização da derrota, uma desistência antecipada da luta”, observou. Ele destacou que, nos últimos anos, esse medo se intensificou à medida que partidos e movimentos progressistas migraram da oposição para o poder, assumindo uma postura defensiva. “Quando a esquerda assume o governo, ela muda de posição. Sai da contestação e passa a temer ser derrubada. E esse medo, que poderia ser prudência, acaba se transformando em paralisia”, explicou.Para o jornalista, o pânico é desproporcional à conjuntura atual. “Nós não estamos vivendo uma situação de extremo perigo. Não somos Gaza, não somos a Venezuela, não somos Cuba. E mesmo assim o medo se espalha como fogo na palha”, disse. Segundo ele, o maior risco é permitir que esse estado emocional se torne um obstáculo à ação política. “O pânico virou um modo de vida dentro da esquerda. Isso ajuda o inimigo, porque o inimigo quer justamente espalhar o terror. E a esquerda, em vez de reagir, se apavora”, afirmou.Altman defendeu que o caminho para superar essa fragilidade passa pela reconstrução da confiança nas bases sociais e pela retomada da mobilização popular. Para ele, o governo e os partidos progressistas precisam abandonar a lógica puramente defensiva e reafirmar a identidade política da esquerda. “O medo não pode ser o sentimento que guia uma força que nasceu para enfrentar desigualdades. É preciso coragem para governar e coragem para mobilizar o povo. Sem isso, a esquerda perde o que a torna transformadora”, concluiu.Encerrando sua análise, o jornalista destacou que a esquerda só voltará a ocupar seu papel histórico se conseguir reconectar política, esperança e ação coletiva. “Quando o medo domina, a esquerda deixa de inspirar. E quando deixa de inspirar, abre espaço para que o conservadorismo volte a ocupar o imaginário popular”, alertou. Assista: