Presidente da CNI diz que Brasil não pode abrir mão de parcerias com Trump
Ricardo Alban defende diálogo com os Estados Unidos para reduzir impactos do tarifaço e ampliar acordos em etanol, big techs e minerais críticos
247 – O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que o Brasil precisa manter parcerias estratégicas com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que iniciou seu segundo mandato em 2025, mesmo diante do aumento da tensão comercial. Para o dirigente, o país pode explorar novas oportunidades no Sudeste Asiático sem abrir mão da cooperação com Washington.
“Somos um país que sempre foi friendly [amigável] com o mundo inteiro. Não podemos perder isso do norte. Temos que aproveitar as oportunidades que o Sudeste Asiático pode oferecer, mas é óbvio que também temos que entender, aproveitar e maximizar a parceria com os Estados Unidos”, disse Alban.
Estratégia contra o tarifaço
No curto prazo, o presidente da CNI apoia a posição do governo brasileiro de não retaliar a sobretaxa de 50% imposta pelos EUA. Ele defende que o foco imediato seja socorrer empresas afetadas, ampliando o prazo máximo de contratos de câmbio para exportação, especialmente os já em andamento.
“É óbvio que todo mundo sabe que as interferências não comerciais são totalmente inapropriadas, mas é possível manter uma parcimônia, não cair na tentação e manter o estímulo para uma mesa de diálogo”, afirmou.
A CNI entregou ao governo um pacote com 32 medidas para enfrentar o tarifaço, que entra em vigor em 6 de agosto. Entre elas, oito são prioritárias, incluindo a proposta de dobrar os prazos de exportação para setores mais vulneráveis, como calçados, móveis, madeiras, frutas e pescados.
Etanol e combustíveis sustentáveis
O etanol é um dos pontos mais sensíveis da negociação. Alban defende que Brasil e EUA busquem um entendimento para avançar em parcerias tecnológicas ligadas ao SAF (combustível sustentável de aviação) e minimizar conflitos históricos sobre açúcar e biocombustíveis.
“Temos uma discussão que é o etanol e o açúcar, essa briga longeva que tem entre Brasil e os Estados Unidos. Não pode ser o momento de fazer algo que seja prudente e razoável para todos?”, questionou.
Os Estados Unidos pressionam pela redução da tarifa de importação de etanol para o Nordeste brasileiro, região com custos de produção mais altos. A CNI pretende apresentar argumentos na investigação aberta com base na Seção 301 da lei de comércio americana, processo que pode durar até 12 meses.
Big techs, minerais críticos e tributação
Alban também defende ampliar negociações em áreas estratégicas, incluindo big techs, um acordo de bitributação e a exploração de minerais críticos.
“Não temos até hoje um acordo de bitributação com os Estados Unidos. Isso é interessante para as big techs e para as brasileiras também que operam hoje nos EUA”, destacou.
O Brasil, segundo ele, tem poder de barganha por possuir a segunda maior reserva de terras raras do mundo, fundamentais para novas tecnologias e equipamentos militares. Hoje, a tecnologia de processamento desses minerais é dominada pela China. “É óbvio que os Estados Unidos estão buscando cobrir essa possível deficiência. Não pode ser feito um trabalho de ambas as partes?”, sugeriu.
Riscos geopolíticos e impactos setoriais
Alban alertou para os riscos de uma escalada geopolítica que possa atingir setores estratégicos. Ele citou como exemplo o modelo de sanções aplicado pelos EUA à Rússia, que afetou países importadores de petróleo e fertilizantes — produtos dos quais o agronegócio brasileiro depende.
Os setores mais vulneráveis ao tarifaço incluem pequenas e médias indústrias do extremo sul do país, fabricantes de máquinas e equipamentos e segmentos exportadores como calçados e madeiras, cuja produção é voltada para o mercado americano.
Cautela e adaptação
O presidente da CNI considera que a postura do governo Lula de evitar retaliações imediatas é a mais adequada, pois uma escalada atingiria também empresas brasileiras que dependem de insumos importados dos EUA. A CNI, por meio de suas federações, está mapeando empresas que precisarão de apoio e de adaptação tecnológica para buscar novos mercados.
“É diferente você pegar um produto que atende normas e especificações de um mercado para atender normas de outro. Isso demanda tempo”, afirmou Alban, defendendo diálogo constante e políticas de apoio à indústria nacional.
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