Políticos e juízes no Brasil ganham até 22 vezes a renda média do brasileiro
Segundo relatório do Livres, Brasil fica atrás só de México e África do Sul em disparidade
247 - O Brasil está entre os países com maior desigualdade salarial no setor público, quando se comparam os vencimentos do alto escalão — presidente, deputados federais e juízes — à renda média da população, medida pelo IBGE. Segundo o Índice de Disparidade Salarial 2025, elaborado pelo Livres, políticos e magistrados podem receber até 22 vezes o que ganha, em média, um brasileiro, informa a Folha de S.Paulo. O levantamento considerou os salários de 2024 e comparou 16 nações
Quanto ganham políticos e juízes em relação à população
De acordo com o índice, presidente da República e deputados federais recebem 21 vezes a renda média nacional. Em 2024, o teto do serviço público estava em R$ 44 mil, enquanto a renda domiciliar per capita do país foi de R$ 2.069 (IBGE)
No Judiciário, a diferença é ainda mais aguda. A renda bruta prevista pelo Conselho da Justiça Federal (CJF) variava, em 2024, de R$ 35,8 mil (juízes substitutos) a R$ 39,7 mil (desembargadores), sem incluir verbas indenizatórias que podem elevar os pagamentos acima do teto. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que a renda média efetiva dos magistrados no ano passado foi de R$ 48,6 mil, o que representa 23,5 vezes a renda da população. Houve, inclusive, casos de contracheques de até R$ 444 mil, ampliando o abismo
Entre as cúpulas do STF, TSE e STJ, os salários equivalem a cerca de 22 vezes o rendimento médio dos brasileiros
Brasil está acima das médias global e de países em desenvolvimento
O estudo indica que a disparidade brasileira supera a média global — 10,7 vezes — e a média de países em desenvolvimento — 16,8 vezes. Em comparação regional, Argentina e Chile exibem hiatos menores quando se olha para o chefe do Executivo:
- Argentina: remuneração presidencial de cerca de 4 milhões de pesos (R$ 16 mil) em 2024, ante renda média de 442 mil pesos (R$ 1.812) — 9,2 vezes
- Chile: salário presidencial de 7,5 milhões de pesos chilenos (R$ 42 mil) frente a renda média de 555 mil pesos (R$ 3.109) — 13,7 vezes
Deputados e 'Supremos' pelo mundo: diferenças menores
Nas casas legislativas, a distância também é menor em outras democracias: os deputados ganham 4,5 vezes a renda média na Argentina, 3,7 no Reino Unido e 3,0 em Portugal. Já as cortes supremas pagam cerca de 11 vezes a renda média em Argentina e Reino Unido, enquanto Suíça e Alemanha ficam em 6 vezes
Por que isso importa: confiança pública e serviços
Para especialistas ouvidos pela Folha, a desproporção de salários no setor público pode corroer a confiança nas instituições e a percepção de eficiência das políticas. Como parte do alto escalão não depende de serviços públicos — utilizando saúde e educação privadas, por exemplo — a população pode duvidar da capacidade desses agentes de regularem e melhorarem serviços que não frequentam
“Como a população entende que essas pessoas não estão familiarizadas com aquele ambiente, a crença de que elas podem legislar de forma eficiente sobre isso diminui”, afirma Magno Karl, diretor do Livres. “Há potencial de corroer a crença nas instituições da democracia representativa”.
A professora Cibele Franzese (FGV) destaca que o sentimento de injustiça decorrente de salários muito acima da média pode afetar a legitimidade do Estado: “O salário maior do que a média faz com que a população tenha um sentimento de injustiça, e isso talvez ajude a minar a legitimidade do Estado”.
Judiciário, supersalários e limites legais
Segundo o estudo, o caso do Judiciário é mais grave por conta dos supersalários — remunerações que estouram o teto constitucional devido a indenizações e outras rubricas. Já no Executivo e no Legislativo, apesar de vencimentos altos, não há os mesmos benefícios (como verbas indenizatórias isentas de IR e duas férias anuais). Políticos ainda dependem de eleição para se manter nos cargos, enquanto magistrados possuem vitaliciedade.
Efetividade do gasto e entrega de serviços
Franzese pondera que uma análise mais completa deveria considerar a efetividade: a relação entre o que se gasta e o que se entrega em políticas públicas. Não há evidência de que salários de políticos, por si, reduzam a qualidade dos serviços. A literatura aponta maior impacto de fatores como boa gestão, avaliação de desempenho e profissionais capacitados tanto nas carreiras de Estado quanto na ponta do atendimento
Outras carreiras de elite e valores extraordinários
O levantamento não abrange salários de servidores concursados ou comissionados do Executivo federal. Mesmo assim, a Folha lembra que, nas carreiras mais bem pagas, os números podem ser ainda maiores: advogados da União receberam até R$ 547 mil em honorários em 2024
Posição do Brasil no ranking do índice
Entre os 17 países avaliados, o Brasil aparece como terceiro mais desigual, ficando à frente apenas de África do Sul e México, onde os chefes de Estado recebem quase 22 vezes e 24 vezes, respectivamente, a renda média de seus cidadãos
Crédito da apuração: Folha de S.Paulo, com base no Índice de Disparidade Salarial 2025 do Livres e em dados oficiais (IBGE, CNJ, CJF, INDEC e INE) mencionados na reportagem
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