PF abre inquérito sobre o Banco Master após alerta do Banco Central ao Ministério Público
O Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro, também disse ter sido surpreendido pela abertura da investigação
247 – A Polícia Federal (PF) instaurou um inquérito para investigar o Banco Master, após informações encaminhadas pelo Banco Central (BC) ao Ministério Público Federal (MPF). A apuração inicial terá duração de 30 dias, podendo ser prorrogada. A notícia foi publicada pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo Valor Econômico.
O caso está diretamente relacionado à decisão do Banco Central de rejeitar, no início de setembro, a tentativa de aquisição de parte do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), após cinco meses de análise. Segundo apuração do Valor, a principal preocupação envolvia carteiras de crédito consignado do Master adquiridas pelo BRB antes do anúncio da fusão, no fim de março. O banco brasiliense teria encontrado irregularidades na documentação de alguns desses créditos e reportado a situação ao BC, que, por dever legal, repassou os dados ao MPF, dando origem à investigação.
Reações dos bancos
Em nota enviada ao Valor, o BRB afirmou não ter conhecimento do inquérito. “A instituição ressalta sua ampla colaboração com todos os órgãos sempre que solicitada. Reafirma ainda seu compromisso com a transparência e o respeito aos seus clientes e à sociedade em geral”, declarou.
O Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro, também disse ter sido surpreendido pela abertura da investigação. A instituição classificou o tema como “destituído de respaldo fático ou evidencial” e afirmou: “Vale ressaltar que divulgar ou replicar informações imprecisas ou inverídicas contra instituições financeiras pode configurar crime contra o sistema financeiro nacional, na medida em que busca abalar sua imagem, reputação, credibilidade e induzir investidores ao erro, comprometendo o sistema financeiro nacional”.
Irregularidades e risco de sucessão
Fontes ligadas ao caso afirmaram ao Valor que as irregularidades identificadas pelo BRB se limitaram às carteiras de consignado adquiridas neste ano, sem envolver operações anteriores. Até maio de 2024, a área de consignado do grupo Master era liderada por Augusto Lima, que deixou a sociedade. “Quem transacionava essas carteiras com o BRB era o próprio Vorcaro, isso não passava por outros executivos do Master”, disse um interlocutor.
Outro fator que teria pesado na decisão do BC foi o chamado “risco de sucessão”. Como Vorcaro teria participação acionária no banco resultante da fusão, havia o receio de que ele pudesse utilizar essas ações como garantia em outras operações, expondo o BRB a riscos adicionais. Essa possibilidade foi considerada um obstáculo relevante para a aprovação do negócio.
Busca por liquidez e pressão do mercado
Com a negativa do BC, o Banco Master intensificou medidas para reforçar sua liquidez. Na semana passada, vendeu sua seguradora Kovr e agora negocia a renovação da linha de crédito obtida junto ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC), no valor de R$ 4 bilhões. Representantes do FGC deveriam se reunir com o presidente do BC, Gabriel Galípolo, mas o encontro foi adiado porque o fundo ainda não teria tomado uma decisão sobre a rolagem do aporte.
Nos últimos anos, o Master cresceu de forma acelerada oferecendo Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com remuneração acima da média de mercado. A estratégia, embora atraente para investidores, vinha gerando preocupações sobre a sustentabilidade do modelo. Analistas já alertavam que o ritmo de expansão poderia se tornar um problema para a instituição.
Repercussão entre empresas
O caso também gerou repercussões entre companhias citadas como credoras relevantes do Master. Nesta terça-feira, a Metalfrio divulgou comunicado ao mercado afirmando que “não mantém qualquer relação comercial com o Banco Master, tampouco possui em seu balanço instrumentos financeiros — sejam eles ativos ou passivos — vinculados a essa instituição”. A manifestação ocorreu após notícias de que a empresa teria grande exposição em CDBs do banco.
Outra empresa citada foi a Oncoclínicas, que, procurada pelo Valor, afirmou que não comentaria o caso.
Cenário de incerteza
A abertura do inquérito adiciona mais pressão sobre o Banco Master, que tenta se reestruturar em meio à vigilância de autoridades e do mercado. A combinação de irregularidades em créditos consignados, a rejeição da fusão com o BRB e a dependência de linhas emergenciais de liquidez aumenta a incerteza sobre o futuro da instituição.
Enquanto a PF conduz a investigação, investidores e clientes acompanham de perto cada movimento do banco e do Banco Central, que poderá adotar medidas mais duras caso entenda que os riscos se aprofundaram.