Nvidia e AMD concordam em repassar 15% da receita de vendas de chips à China para o governo dos EUA

247 – Nvidia e AMD fecharam um acordo com o governo dos Estados Unidos para repassar 15% da receita obtida com a venda de chips avançados de inteligência artificial à China. A informação foi divulgada neste domingo (10) por um funcionário norte-americano à agência Reuters, que obteve detalhes sobre a negociação. O entendimento, segundo a publicação, inclui produtos como o H20 da Nvidia e o MI308 da AMD, considerados de alto desempenho no setor de IA.

O acerto ocorre após a administração do presidente Donald Trump suspender, em abril, a venda do H20 para o mercado chinês, alegando preocupações estratégicas. Em julho, a Nvidia anunciou que recebeu sinal verde para retomar as exportações e que esperava iniciar as entregas em breve. Outro funcionário dos EUA afirmou que o Departamento de Comércio já começou a emitir licenças para essas transações.

Condições e reações das empresas

Questionada sobre o acordo de repasse de 15% das receitas, a Nvidia não confirmou diretamente, mas declarou: "Seguimos as regras estabelecidas pelo governo dos EUA para nossa participação nos mercados mundiais". A empresa acrescentou que, apesar de não enviar H20 para a China há meses, espera que "as regras de controle de exportação permitam que os Estados Unidos compitam na China e no mundo".

A AMD não respondeu aos pedidos de comentário. Já o Departamento de Comércio e o Ministério das Relações Exteriores da China não se pronunciaram até o momento. A Reuters cita reportagem anterior do Financial Times, que afirma que o pagamento seria uma exigência para a liberação das licenças de exportação, embora o governo norte-americano ainda não tenha definido como o valor será utilizado.

Importância do mercado chinês

A China é um mercado-chave para ambas as fabricantes. No ano fiscal encerrado em 26 de janeiro, a Nvidia registrou US$ 17 bilhões em receitas no país, o equivalente a 13% de seu faturamento global. Em 2024, a AMD arrecadou US$ 6,2 bilhões no mercado chinês, representando 24% de sua receita total.

Debate sobre segurança nacional e estratégia

O especialista Geoff Gertz, do Center for New American Security, questionou a lógica do acordo: "Ou vender o H20 para a China é um risco à segurança nacional, e então não deveríamos fazê-lo, ou não é um risco, e nesse caso, por que impor essa penalidade extra?"

O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou no mês passado que a retomada das vendas fazia parte de negociações com Pequim para obter terras raras. Ele descreveu o H20 como o “quarto melhor chip” da Nvidia e defendeu que é de interesse norte-americano que empresas chinesas usem tecnologia dos EUA, mesmo que não seja a mais avançada, para manter a dependência de um “ecossistema tecnológico” americano.

Já Alasdair Phillips-Robins, ex-assessor do Departamento de Comércio na administração de Joe Biden, criticou a medida: "Se essa informação estiver correta, sugere que o governo está trocando proteções de segurança nacional por receita para o Tesouro".