Novas restrições de baterias da China podem afetar os EUA
Medidas entram em vigor em novembro e podem impactar indústrias americanas de energia e tecnologia
247 - As novas restrições à exportação de baterias, anunciadas pela China, podem ter consequências significativas para empresas dos Estados Unidos, alertam especialistas. A medida, que entrará em vigor no dia 8 de novembro, visa regulamentar uma ampla gama de componentes da cadeia de suprimentos de baterias, incluindo baterias de lítio de grande escala, materiais para cátodos e ânodos, e até maquinários utilizados na fabricação de baterias. A China, que já utilizou os minérios raros como ferramenta estratégica nas negociações comerciais com Washington, agora utiliza sua posição dominante na indústria de baterias como uma nova alavanca nas conversas sobre comércio entre as duas potências, informa a Bloomberg.
A restrição pode afetar profundamente as empresas dos Estados Unidos, especialmente em um momento em que o país enfrenta uma crescente demanda por armazenamento de energia. Esse armazenamento é essencial para a estabilização da rede elétrica e para atender às necessidades de data centers, que estão cada vez mais exigentes devido ao crescimento da inteligência artificial. Matthew Hales, analista especializado em cadeias de suprimentos e comércio da BloombergNEF, afirmou que, apesar de não afetar tantas indústrias quanto outras restrições comerciais da China, "a dominância da China nas cadeias de suprimento de baterias significa que eles podem apertar o cerco e isso pode ser sentido rapidamente pelas empresas dos EUA".
As novas regras exigem que as empresas de baterias obtenham licenças do Ministério do Comércio da China antes de exportar seus produtos. Esse sistema permite que Pequim controle de forma seletiva as exportações, uma estratégia que aumenta a pressão sobre as indústrias que dependem fortemente desses componentes. Em 2025, as baterias de lítio de grande escala, importadas principalmente da China, representaram cerca de 65% das importações dos Estados Unidos, conforme dados mais recentes da BNEF.
A instalação de baterias de grande escala nos Estados Unidos tem se mostrado crucial para garantir a estabilidade da rede elétrica, especialmente à medida que a demanda por energia cresce. De 2017 a 2023, o consumo de eletricidade dos centros de dados aumentou mais de 100%, e a previsão é que esse consumo triplique até 2028, segundo um estudo do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley. Esse aumento de demanda está diretamente ligado ao boom da inteligência artificial.
A China, com seu controle sobre a produção de componentes-chave para baterias, como ânodos e cátodos, controla cerca de 96% da capacidade de produção mundial desses itens. De acordo com Cory Combs, diretor de pesquisa de minerais críticos e cadeia de suprimentos na Trivium China, a inclusão desses componentes nas novas medidas representa "uma escalada significativa", considerando a grande dependência de países fora da China. A executiva Celina Mikolajczak, que liderou a fabricação de baterias na Tesla e na Panasonic, destaca que "todas as fábricas de baterias que estão sendo construídas no sudeste dos EUA serão impactadas por isso, pois esses são os materiais-prima".
As restrições também podem afetar o mercado de ações das empresas que dependem dos componentes chineses. No dia 10 de outubro, as ações da Fluence Energy caíram mais de 12%, enquanto as da Tesla também apresentaram uma queda de 5%, reflexo da dependência dessas empresas dos componentes provenientes da China.
Denis Phares, CEO da Dragonfly Energy, fabricante de baterias, ressaltou a complexidade adicional que a medida chinesa traz para uma cadeia de suprimentos global já sobrecarregada. Segundo ele, a empresa está trabalhando ativamente para reduzir a dependência de componentes chineses como parte de sua estratégia de longo prazo.
Além de ser uma ferramenta poderosa nas negociações comerciais, as novas restrições chinesas também visam consolidar a vantagem competitiva do país no setor de baterias, setor esse que desempenha papel central na transição para fontes de energia limpa. Ilaria Mazzocco, especialista do Center for Strategic and International Studies, comentou que a China tem sido explícita em sua intenção de "não entregar suas tecnologias centrais", com a ambição de se tornar a potência líder nesse setor nas próximas décadas.
A aplicação dessa política de controle de exportações pode, no entanto, ter consequências para a própria indústria chinesa, que também se beneficia de mercados estrangeiros. Bryan Bille, pesquisador da Benchmark Mineral Intelligence, aponta que a dependência crescente de mercados externos pode dificultar a implementação plena das novas medidas.


