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      Meituan despenca após queda de 97% no lucro do segundo trimestre em meio à guerra de preços na China

      Intensificação da concorrência no setor de entregas de comida pressiona resultados e acende alerta sobre sustentabilidade do modelo

      Entregador da Keeta, do grupo Meituan (Foto: Divulgação)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – As ações da Meituan, gigante chinesa de entregas sob demanda, despencaram 12,6% na Bolsa de Hong Kong após a divulgação de um tombo de 97% no lucro líquido do segundo trimestre de 2024. A informação foi publicada pelo portal Yicai Global. O resultado reflete a crescente guerra de preços no mercado de delivery de alimentos na China, onde rivais como JD.Com e Alibaba (por meio do Ele.me) aumentaram agressivamente seus investimentos para disputar consumidores e prestadores de serviço.

      Segundo o balanço, o lucro líquido da companhia foi de 365,3 milhões de yuans (US$ 51,3 milhões) entre abril e junho, contra 11,4 bilhões de yuans (US$ 1,6 bilhão) no mesmo período do ano passado. Apesar disso, a receita cresceu 12%, alcançando 91,8 bilhões de yuans (US$ 12,9 bilhões).

      "Uma nova fase de competição intensa"

      Em teleconferência com investidores, o fundador e CEO da Meituan, Wang Xing, reconheceu que a empresa enfrenta um cenário de disputas cada vez mais duras.

       “No segundo trimestre, a dinâmica competitiva tanto do setor de entrega de comida quanto, de forma mais ampla, do varejo sob demanda, evoluiu rapidamente. A indústria entrou em uma nova fase e em outra rodada de competição intensa”, afirmou.

      Wang também alertou que a empresa deve continuar sentindo pressão no curto prazo:

       “Esperamos que a competição feroz continue e isso trará impacto negativo sobre nossos resultados financeiros.”

      Rivalidade e impacto financeiro

      A entrada da JD.Com no mercado de entregas no início de 2024 desencadeou uma resposta imediata da Meituan e da Alibaba, que intensificaram gastos em subsídios e incentivos para atrair consumidores e entregadores. Com isso, as despesas de vendas e marketing da Meituan dispararam 52%, atingindo 22,5 bilhões de yuans.

      A pressão também atingiu os rivais. A JD.Com anunciou em 14 de agosto que seu lucro líquido do segundo trimestre caiu 51%, para 6,2 bilhões de yuans, puxado principalmente pelos investimentos pesados em seu novo braço de delivery.

      Neste mês, Meituan, JD.Com, Ele.me e outras plataformas firmaram compromisso para encerrar práticas consideradas predatórias, como promoções de “compra zero-yuan”, em um esforço para conter a chamada “involução” (neijuan) — competição autodestrutiva que gera retornos cada vez menores.

      Apesar disso, Wang Xing reiterou o compromisso da companhia:

       “O cenário competitivo intensificado não mudará nossa determinação em construir um ecossistema saudável. Nosso foco será melhorar a experiência do usuário, fortalecer a oferta e trazer a competição de volta ao caminho da criação de valor.”

      Segmentos em foco

      •  Comércio local (food delivery): a receita cresceu 7,7% para 65,3 bilhões de yuans, mas o lucro operacional despencou 76%, para 3,7 bilhões de yuans, reduzindo a margem de 25,1% para apenas 5,7%.
      •  Novas iniciativas (group buying e serviços inovadores): alta de 23% na receita, para 26,5 bilhões de yuans, mas prejuízo operacional ampliado em 43%, alcançando 1,9 bilhão de yuans.
      •  Varejo instantâneo: os mercados de cidades menores cresceram 50% no trimestre, movimento que, segundo Wang, será sustentado no longo prazo não apenas por subsídios, mas também pelo amadurecimento de hábitos de consumo.
      •  Expansão internacional (Keeta): aumento expressivo de pedidos e transações, com meta de atingir um volume bruto de 100 bilhões de yuans (US$ 14 bilhões) em uma década. A marca Keeta, braço internacional da Meituan, já iniciou operações no Brasil, expandindo sua presença para além da Ásia.

      Risco para o mercado brasileiro

      A chegada da Meituan ao Brasil com a marca Keeta acende um alerta no setor de entregas nacional. O histórico recente na China mostra que a competição baseada em subsídios agressivos e guerras de preços pode levar a uma deterioração das margens e colocar em risco a sustentabilidade do mercado como um todo.

      Se replicada no Brasil, essa lógica de competição predatória pode fragilizar concorrentes locais e reduzir a rentabilidade de todo o ecossistema, em um cenário que já é marcado por forte pressão sobre trabalhadores e plataformas.

      Perspectivas do setor

      Para o analista Chen Liteng, do centro de pesquisa de e-commerce da NetEase, a disputa entre Meituan, Alibaba e JD.Com se transformou em uma “batalha multidimensional”. Enquanto o Taobao deve acelerar a integração de seus serviços locais via Ele.me, a Meituan deve reforçar presença em lojas físicas e serviços locais, e a JD.Com tende a priorizar estratégias voltadas à qualidade.

      Com mais de 101,7 bilhões de yuans em caixa e 69,4 bilhões de yuans em investimentos de curto prazo até 30 de junho, a Meituan tem fôlego financeiro para sustentar a competição. No entanto, o risco de que o mesmo modelo de competição destrutiva se replique em mercados emergentes, como o Brasil, levanta preocupações entre analistas e reguladores.

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