Galípolo "deixou a desejar" e Selic em 15% "é um absurdo", diz Gleisi
BC ignora sinais positivos da economia e mantém juros em patamar injustificado, afirma ministra
247 - A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, “deixou a desejar” ao manter a taxa Selic em 15% ao ano pela terceira vez consecutiva. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Gleisi disse esperar que o BC leve em conta os indicadores positivos da economia brasileira para iniciar o ciclo de cortes.
Na entrevista, a ministra demonstrou frustração com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). “Eu acho que deixou a desejar, entendeu? O Galípolo. Deixou a desejar”, declarou, ao criticar a postura da autoridade monetária diante dos dados econômicos recentes.
“Nada justifica juros tão altos”, diz ministra
Gleisi argumentou que o cenário atual — com crescimento do PIB, geração de empregos e inflação controlada — justifica uma política monetária menos rígida. “Você tem o Brasil crescendo, com geração de emprego e inflação sob controle. Para que continuar com uma política tão restritiva? Isso tem impacto na nossa indústria, no crédito e no crescimento do país”, afirmou.
A ministra também criticou a herança deixada pelo ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, que, segundo ela, criou “uma cama de gato” para Galípolo. “Campos Neto deixou juros altos contratados por um longo período e um discurso de que, sem rigor, haveria desequilíbrio fiscal. Mas nada justifica juros reais de quase 10%. É um absurdo, sem paralelo no mundo”, disse Gleisi.
Críticas à autonomia do Banco Central
Gleisi defendeu que a independência do Banco Central não o isenta de prestar contas à sociedade. “É uma instituição independente, então tem de fazer pressão. Não pode deixar só o mercado pressionar. Por que só o mercado pressiona o Banco Central a subir a taxa de juros?”, questionou. Para ela, o BC precisa considerar também os efeitos sociais da política monetária. “A manutenção dos juros em 15% é uma punição à economia nacional”, criticou.
Segurança pública e operações policiais
A ministra também abordou o tema da segurança pública, comentando a recente operação nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Segundo Gleisi, ações desse tipo não são solução duradoura. “Isso pode trazer alívio, mas coloca em risco a vida de policiais e de gente inocente. O crime organizado se recompõe rapidamente”, alertou.
Ela defendeu a integração entre os governos estaduais e o federal. “Os Estados nos tratam como provedores de equipamentos. Não sentam com o governo federal, não planejam a operação. Isso não é certo”, afirmou.
Reforma administrativa e relação com o Congresso
Sobre a reforma administrativa, Gleisi considerou improvável sua aprovação até 2026, devido ao calendário eleitoral e à resistência de servidores públicos. “A Casa tem muita sensibilidade com a opinião pública e com os servidores, que são muito organizados. Há uma predisposição contrária, embora tenha pontos importantes, como o debate sobre os supersalários”, avaliou.
A ministra defendeu que o governo priorize temas centrais e, se necessário, “fatie” a reforma. “Se quiser brigar com todo mundo ao mesmo tempo, não ganha guerra. Temos de ver quais são as prioridades. Para mim, são os altos salários, os fura-teto e os penduricalhos em todos os Poderes”, afirmou.
“O governo está no rumo certo”
Apesar das críticas à política monetária, Gleisi demonstrou confiança no desempenho do governo federal. “O governo está num rumo correto. A aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e da oneração do andar de cima é muito importante. Começamos a buscar justiça tributária”, disse.
A ministra também destacou os avanços econômicos. “Estamos com inflação sob controle, os preços dos alimentos em queda e crescimento sustentável. O desemprego está em um dos níveis mais baixos. Acredito que vamos terminar o ano de forma positiva”, concluiu.


