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Com investigação, Trump tenta dar 'verniz legal' às tarifas contra o Brasil, afirmam analistas dos EUA

Presidente dos EUA busca base legal para justificar as sobretaxas após sair em defesa de Jair Bolsonaro, mas especialistas veem risco de derrota judicial

Presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington - 28/04/2025 (Foto: REUTERS/Leah Millis)
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247 - A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de abrir uma investigação comercial contra o Brasil é vista por analistas norte-americanos e por membros do governo Lula (PT) como uma estratégia para conferir aparência de legalidade a possíveis tarifas que seu governo pretende impor ao país.

Ao associar publicamente a medida àquilo que considera uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro (PL), Trump expôs o caráter político da iniciativa, o que pode comprometer sua sustentação jurídica. O ex-mandatário e réu em uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente tentar de de golpe de Estado para se manter no poder após a derrota no pleito presidencial de 2022.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo, a legalidade das tarifas impostas pelos EUA pode ser questionada, caso sejam efetivamente aplicadas, especialmente por terem como base um argumento claramente político. A avaliação é de que Trump teria extrapolado os poderes previstos na legislação comercial estadunidense, uma vez que não há qualquer emergência que justifique a aplicação de medidas unilaterais contra o Brasil sem aprovação do Congresso.

Segundo o economista Ryan Cummings, chefe de gabinete do Instituto para Pesquisa de Política Econômica de Stanford, a tentativa de Trump é clara. “Eles estão efetivamente tentando dar cobertura legal. Mas Trump já revelou o jogo em termos de qual é o propósito das tarifas. Agora, pessoas na administração reconhecem: 'é improvável que possamos vencer isso'. E então estão se esforçando para encontrar algo que acreditam poder justificar as tarifas”, disse.

Cummings destaca que, ao vincular as tarifas à defesa de Bolsonaro, Trump elevou as chances de derrota judicial e que ‘ficaria muito surpreso se a Starbucks ou diferentes empresas que usam suco de laranja brasileiro não tentassem processar alegando que o processo estabelecido não foi seguido”. Para o economista, a investigação com base na seção 301 da legislação comercial tem por objetivo “tentar encobrir” a motivação política da medida.

Mesmo assim, ele reconhece que, caso as tarifas de até 50% sejam implementadas e questionadas na Justiça, o governo Trump poderá usar o tempo até a decisão para construir um novo argumento formal que sustente as penalidades ao Brasil.

O diretor de economia do Conselho de Relações Exteriores dos EUA, Benn Steil, também considera ilegais as possíveis tarifas de Trump. Ele destaca duas fragilidades centrais: o fato de Trump ter citado a perseguição a Bolsonaro como justificativa e a alegação incorreta de que os Estados Unidos têm déficit comercial com o Brasil, quando na verdade o país registra superávit.

Steil afirma que, diante desse cenário, Trump pode recorrer a alternativas legais como a seção 301 ou a seção 232 para impor as medidas, embora reconheça que isso funcionaria como um “pretexto” jurídico. “Estas têm muito mais probabilidade de sucesso, mesmo que o raciocínio legal por trás de seu uso seja um pretexto”, afirma.

Dentro do governo brasileiro, a leitura é de que a abertura da investigação pode funcionar como instrumento de pressão política e também de sustentação legal para uma retaliação comercial. Integrantes do Planalto veem com ceticismo a possibilidade de que Trump recue das sobretaxas e concentre seus esforços apenas na investigação, que por si só já prejudica a imagem e os interesses comerciais do Brasil.

Trump tem recorrido à Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), de 1977, para justificar medidas comerciais agressivas. A norma, originalmente pensada para embargos e sanções em contextos de segurança nacional, vem sendo usada por seu governo como alicerce para ampliar sua autoridade sobre a política comercial externa, mesmo sem respaldo do Congresso.

O conselheiro sênior do Liberty Justice Center, Reilly Stephens, que participou de ação vitoriosa contra tarifas de Trump no Tribunal de Comércio Internacional, diz que a aplicação da IEEPA neste caso é infundada. “Eles têm imposto tarifas de uma forma em que basicamente consideram tudo como uma emergência. As drogas são uma emergência, práticas comerciais normais são uma emergência. E que aqui, o julgamento de uma figura política em seu país que tem pouco ou nada a ver com nosso país, é de alguma forma uma emergência no meu país. Ainda não entendi bem por quê”, ironiza.

Ainda conforme a reportagem, Stephens afirma que a abertura da investigação tem o objetivo claro de dar respaldo legal a uma decisão já tomada. “Eles não fizeram isso desde o início porque não queriam ter que justificar. Eles queriam apenas impor quaisquer tarifas que desejassem. Acho que a resposta é que querem impor tarifas e estão procurando uma maneira de fazê-lo”.

Segundo ele, ainda que o Liberty Justice Center não tenha incluído especificamente o caso do Brasil na ação judicial contra as tarifas de Trump, é possível que o tema seja abordado na audiência marcada para 31 de julho no tribunal de apelações, nos EUA — uma instância abaixo da Suprema Corte.

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